O estoque encalhado de 33 mil comprimidos de cloroquina recebidos por Blumenau do Ministério da Saúde no ano passado será compartilhado com clínicas particulares. Um edital de credenciamento das empresas interessadas em receber o remédio para entregar gratuitamente a pacientes de Covid-19 foi publicado nesta segunda-feira (3). Estudos científicos já descartaram a eficácia do medicamento contra a doença. Porém, no Brasil ainda há médicos que o receitam para “tratamento precoce”.
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Conforme o edital da prefeitura, clínicas que fazem o teste de diagnóstico da Covid-19 poderão retirar 240 comprimidos de cloroquina, o suficiente para atender 20 pacientes. Após o primeiro pedido, será necessário comprovar que todo o estoque foi dispensado a pacientes para poder solicitar uma nova remessa. As regras são as mesmas que as estabelecidas nas farmácias públicas: é preciso ter receita médica e assinar um termo de ciência e consentimento de que não há evidências claras de que o remédio funciona contra a Covid-19.
As clínicas não poderão cobrar pela cloroquina e só poderão dispensá-la a pacientes de coronavírus — o medicamento é comprovadamente eficaz para outras doenças, como malária e artrite reumatóide. O credenciamento previsto no edital é válido por 12 meses.
Opinião
A medida da Secretaria de Promoção da Saúde facilita o acesso à cloroquina por pacientes da rede privada — de onde parte a maioria das receitas médicas para uso contra a Covid-19. Apesar de as farmácias dos ambulatórios gerais aceitarem receitas de convênios e de particulares, a procura tem sido baixa. Do total de 36 mil comprimidos solicitados pela prefeitura ao ministério, só 2,7 mil foram retirados. Com maior capilaridade nas clínicas privadas, é possível que o município consiga desfazer-se de parte do megaestoque.
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No ano passado, a remessa havia funcionado como resposta da prefeitura aos defensores do “tratamento precoce”. Agora, a montanha de cloroquina começa a ser um problema. Especialmente porque as doses são válidas até maio de 2022.
Nunca é demais reforçar: não existe um único país referência em Medicina que ainda adote a cloroquina contra a Covid-19. Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos e a Associação Médica Brasileira (AMB) já descartaram o remédio para tratar pacientes infectados por coronavírus.
Ministrá-lo como placebo, ou estimular que outros o façam, é mesmo a melhor escolha para a saúde da comunidade?
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