As enchentes na região de Blumenau neste mês de maio revelaram, outra vez, um sistema de prevenção capenga. Quase nada funciona 100%. Faltam investimentos e manutenção e sobra burocracia até para o básico, que é medir e projetar o nível do Rio Itajaí-Açu.

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O estado da Barragem Norte, em José Boiteux, é de quase abandono. Para operar as comportas, a Defesa Civil de Santa Catarina precisa mandar ao local uma equipe com bomba hidráulica. Desde 2019, quando o governo federal anunciou R$ 21 milhões para obras e estudos, o Estado anuncia investimentos que, na prática, não se concretizam. A repórter Talita Catie apurou que Estado e União não se entendem sobre a aplicação dos recursos.

Em Ituporanga, é prudente manter as cinco comportas abertas porque em duas delas foi detectado problema de vedação. O Estado anunciou que faria o contrato por dispensa de licitação para agilizar o conserto. Três empresas apresentaram orçamentos, que foram considerados caros. Então a contratação voltou à estaca zero.

O sistema de telemetria, que em janeiro de 2021 chegou a deixar Blumenau às escuras, continua à espera das 37 novas estações anunciadas pela Defesa Civil do Estado. Uma empresa de tecnologia blumenauense foi contratada em março deste ano para instalar os equipamentos. O trabalho está em andamento e vai custar cerca de R$ 3 milhões.

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Mesmo com o sistema pronto, também falta organizar quem vai ler os dados e fornecer previsões e alertas sobre o nível do Itajaí-Açu. Hoje, cada cidade se vira como pode, a partir dos dados fornecidos pela Defesa Civil do Estado e Agência Nacional de Águas.

Blumenau conta com o Alertablu e o que restou do Centro de Operações do Sistema de Alerta (Ceops), da Furb. Mas os dois órgãos municipais, há mais de um ano, discutem uma minuta de contrato para ceder equipamentos e conhecimento da universidade para o município. Demora demais.

O resultado é um vácuo decisório que prejudica a passagem de bastão do Ceops para o Alertablu. A discordância entre os técnicos sobre o dado mais básico, qual a altura do Itajaí-Açu, parece ser sintoma de falta de liderança no processo. 

Desde as enchentes da década de 1980, o Vale do Itajaí investiu e aperfeiçoou o sistema de contenção de cheias. Mas não foi capaz de mantê-lo em funcionamento regular. As enchentes de semana passada e do verão de 2021 foram pequenas se comparadas àquelas de 40 anos atrás. Vamos esperar o pior acontecer?

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