A enchente deste início de maio em Blumenau foi mesmo 20 centímetros maior do que a medição anunciada pela Defesa Civil. O nível aferido pela régua física, de 9,60 metros, é mais confiável do que os 9,40 metros apontados pelos sensores eletrônicos, segundo o agente de pesquisa do setor de Recursos Hídricos da Epagri/Ciram, Alan Henn. Ele atuou na instalação da nova seção de réguas da Avenida Beira-Rio.
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A diferença entre as medições eletrônica e física pode ser explicada pela turbulência do Rio Itajaí-Açu, segundo Henn. Com o rio mais alto, a ondulação provocada por galhos, correnteza e excesso de água tem maior influência na medição.
Porém, os sensores do município e da Agência Nacional de Águas (ANA) ficam na ponte Adolfo Konder, onde os pilares potencializam o chamado “regime turbulento” do rio. O fato do sensor da ANA ter marcado praticamente a mesma cota (9,41 metros) que o do município reforça a tese de que os sensores estariam sob a mesma influência.
A nova seção de réguas foi instalada em fevereiro de 2021, quase uma década depois do Rio Itajaí-Açu arrastar o antigo conjunto, semelhante ao atual, que ficava ao lado da Ponte Adolfo Konder. Entre a enchente de 2011 e esta, Blumenau instalou uma régua provisória no pilar da ponte — ela também estaria sujeita às alterações de nível provocadas pelo pilar. Por isso, não se notava diferença entre régua e sensor. Agora, as réguas estão 120 metros à montante, embora calibradas com a mesma referência de nível anterior.
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Em agosto do ano passado, a Defesa Civil recebeu um sensor eletrônico como doação da empresa MKS Sistemas, de Blumenau. Ele se uniu ao sensor da ANA que fica no mesmo ponto do rio.
— É a primeira vez que a gente teve a oportunidade de comparar a nova seção de réguas com os sensores numa situação de regime turbulento — analisa Henn.
O servidor da Epagri descarta que a diferença de 20 centímetros entre as medições possa ter sido causada por um movimento de terra que desnivelou a régua, hipótese levantada pela diretora de Meteorologia do Alertablu, Tatiane Martins.
— Uma coisa é calibrar o sensor num regime hidrológico normal, e outra é o que aconteceu ali, num evento climático extremo. O próprio fabricante do sensor estabelece diferença entre regime normal e regime turbulento — enfatiza Henn.
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Conforme o servidor da Epagri, agora o objetivo é voltar ao Itajaí-Açu e recalibrar o sensor da Agência Nacional de Águas para ver se está funcionando corretamente. A redução do nível do rio também ajudará a responder se a hipótese da turbulência da água está correta. Se for esse o caso, a tendência é as medições se aproximarem conforme as águas ficarem mais tranquilas.
Comentário
O assunto é técnico e há muitas variáveis envolvidas, como influência das marés e os diferentes pontos de medição. Mas os diferentes órgãos de monitoramento do Itajaí-Açu, como Alertablu e Centro de Operações do Sistema de Alerta (Ceops), precisam falar a mesma língua para que a população tenha uma referência única sobre as cotas de enchente em eventos futuros.
Para muitas famílias blumenauenses, 20 centímetros podem significar a diferença entre salvar os pertences ou perder tudo na enchente.
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