Quando subiu ao palco do Teatro Carlos Gomes para assinar o termo de posse como prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt era um coadjuvante no ápice de sua carreira política. Naquela tarde de 5 de abril de 2018, quem lotava o auditório queria ouvir Napoleão Bernardes renunciar para “devolver o protagonismo” à cidade na política estadual.
Continua depois da publicidade
> Quer receber as notícias de Blumenau e região via Whatsapp? Clique aqui e entre no grupo do Santa.
Dois anos e meio depois, o personagem secundário tornou-se o prefeito eleito em segundo turno com a maior votação da história local (72,1%) — superior à de Napoleão em 2012, inclusive. Neste intervalo de tempo, Hildebrandt construiu as bases de uma candidatura que atravessou a campanha de reeleição em velocidade de cruzeiro. Em nenhum momento a vitória esteve ameaçada.
> Mário Hildebrandt é reeleito prefeito de Blumenau.
Diligente, moldou a administração à sua imagem e semelhança sem movimentos bruscos. Trocou secretários, privilegiando pessoas com experiência no serviço público e sem projeção política. Deixou pelo caminho nomes com luz própria, como Ricardo Stodieck e Maria Regina Soar — mais tarde ironicamente indicada pelo PSDB para ser a primeira vice-prefeita de Blumenau.
Continua depois da publicidade
Porém, nunca arriscou a imagem de um político confiável, que cumpre acordos e entrega estabilidade. Assim manteve intacta a aliança política vitoriosa em 2016. Governou patrolando a oposição na Câmara de Vereadores.
Um ano depois de assumir o cargo, em abril de 2019, tomou a decisão que simbolicamente rompia o cordão umbilical com a gestão do antecessor. Hildebrandt desistiu de construir a polêmica ponte na curva do Itajaí-Açu, no Centro, e anunciou a duplicação da Ponte Adolfo Konder, solução mais barata e, principalmente, mais rápida de executar.
Ali o prefeito redigia o discurso que seria apresentado aos eleitores em 2020: simplicidade, objetividade e foco nas entregas. Seria assim com a reabertura do Morro do Gato, entre os bairros Velha e Garcia, com as pontes no Garcia, no Centro Histórico, com o fechamento da URB e com os pacotes de pavimentação. O prefeito pragmático já tinha uma plataforma a defender. Mas esbarrava num problema: sentado na cadeira de prefeito, era desconhecido da maior parte do eleitorado.
Hildebrandt soube aproveitar como poucos a exposição proporcionada pela pandemia de Covid-19. Com as lives do coronavírus, os blumenauenses conheceram “o prefeito que ficou no lugar do Napoleão”. Todas as noites, antes dos telejornais, discorria sobre ações do governo e interagia com os cidadãos via redes sociais. Um ambiente controlado por assessores e cujos resultados eram monitorados dia após dia.
Continua depois da publicidade
> “Não vou arrumar desculpas para meus próprios erros”, diz João Paulo Kleinübing.
Foram cinco meses e meio para apresentar e testar o discurso da campanha. Quando a candidatura à reeleição foi confirmada, em setembro, ele já era o nome mais lembrado pelos eleitores.
O prefeito de Blumenau teve a seu favor, também, a indiferença do blumenauense à campanha eleitoral. Poucos estavam dispostos a discutir opções políticas no almoço em família, no cafezinho ou na mesa de bar. Coronavírus, economia, desemprego, filhos sem aulas… Para a maioria, era melhor que tudo acabasse logo.
Nada disso, no entanto, ofusca os méritos de uma candidatura extremamente bem-sucedida. Cabe a Hildebrandt, a partir desta segunda-feira (30), provar que a cidade acertou ao emendar o mandato-tampão com quatro anos conquistados no voto.
Receba textos e vídeos do colunista Evandro de Assis direto no WhatsApp. Basta clicar aqui.