Na Câmara de Vereadores de Blumenau, o verbete “diversidade” virou palavrão. Representa um valor considerado inadequado, que deve ser evitado. Foi o recado dado pela maioria intolerante formada na sessão de quinta-feira (25), quando foi ao plenário o Plano Municipal da Juventude, que estabelece objetivos e políticas públicas para atender a essa parcela da população.
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Um dos eixos do texto original, formulado pelo Conselho Municipal da Juventude, chamava-se Direito à Diversidade e à Igualdade. Estabelecia como objetivos combater a discriminação por cultura, idade, origem, religião, opinião, deficiência, orientação social e econômica. Basicamente, dizia que se devia cumprir a Constituição. Mas uma emenda da vereadora Silmara Miguel (PSD), que teve o apoio de outros cinco representantes, suprimiu os termos “diversidade” e “orientação sexual”.
Ou seja, pelo texto aprovado, a Câmara não está disposta a defender quem é diferente em matéria de gênero. Só quem é igual. Não é objetivo da sociedade blumenauense proteger de preconceito o numeroso grupo de jovens que não se identifica no sistema binário de gênero.
Nem a presença do vereador Bruno Cunha (Cidadania), representante da comunidade LGBTQIA+ no Legislativo, intimidou a declaração aberta de que, em Blumenau, jovens podem ser vítimas de preconceito em razão de gênero. Frise-se: o texto da lei não falava em ações específicas afirmativas ou educacionais de inclusão. O que se pretendia era firmar em lei o interesse coletivo pelo fim da discriminação. Quanta pretensão!
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Votaram contra a proteção da diversidade, além de Silmara, os vereadores Carlos Wagner (União), Jovino Cardoso Neto (Solidariedade), Lucelma Baldi (Podemos), Maurício Goll (PSDB) e Rolf Bublitz (PSDB). Para fazer a emenda passar, esse grupo ainda contou com as abstenções de Cristiane Loureiro (Podemos) e Diego Nasato (Novo).
— Às vezes me questiono o que estou fazendo na política, às vezes me dá vontade de desistir porque eu venho lutando muito. Nunca utilizei da minha individualidade para chegar a lugar nenhum, mas acho lamentável como alguns preconceitos acabam tentando impedir as pessoas de sonhar — exasperou-se Bruno Cunha, depois de anunciado o resultado vexatório.
A decisão está em linha com outra lei, aprovada em 2015 em Blumenau, que proibia escolas e professores de tratar de “gênero” em sala de aula. Naquela ocasião, houve o cúmulo de quase tirarem a expressão “gênero alimentício” do texto da lei, tamanha a cisma. Como era inconstitucional, a norma foi derrubada liminarmente pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Gostem ou não os parlamentares que misturam responsabilidade política com proselitismo religioso, os jovens LGBTQIA+ existem e têm esse direito respaldado pela Constituição Federal. Um Plano da Juventude que ignora a diversidade é anacrônico, bolorento de tão velho. Não cabe em 2023.
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Felizmente, para essa meninada nascida em uma sociedade menos preconceituosa do que aquela que formou os atuais ocupantes de cadeiras na Câmara de Blumenau, o que os vereadores pensam sobre o assunto faz pouca ou nenhuma diferença.
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