A Defesa Civil de Santa Catarina divulgou, nesta terça-feira (26), nota em que critica o Centro de Operações da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (Ceops), mantido pela Furb, no caso envolvendo falhas nas estações telemétricas do Vale. Como a coluna revelou na quinta-feira (21) passada, os 16 equipamentos de medição do nível do rio estão desativados por falta de manutenção. Cinco dias após a publicação, a Defesa Civil pôs em dúvida “os benefícios que o repasse de recursos para o Ceops/Furb vai trazer para o sistema de alerta”.

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No início do texto (a íntegra esta no fim da coluna), o órgão estadual afirma que mantém “diálogo aberto” com os profissionais blumenauenses e repete que aguarda informações do Ceops sobre possíveis soluções para o problema, após uma reunião ocorrida em dezembro passado. Daí em diante, o tom da comunicação oficial é de ataque:

“O Ceops já teve uma participação importante no monitoramento de inundações do Vale do Itajaí, mas também passou por falhas em eventos críticos. Após problemas na operação durante as cheias de 2008, a SDM, antiga Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, apoiou a modernização do sistema operacional. Já nas cheias de 2011, entre agosto e setembro, quando o Vale do Itajaí, em especial o Alto Vale, foi severamente afetado por inundações, uma falha no sistema de telemetria da rede do Ceops prejudicou o monitoramento”.

Na catástrofe climática de 2008, em que as chuvas torrenciais concentraram-se na parte baixa do Vale, o sistema de telemetria pouco pôde ajudar. De fato, em 2011 a inundação chegou a Blumenau antes do previsto pelos especialistas, prejudicando famílias que não conseguiram retirar os móveis de casa a tempo. Mas o texto omite o motivo: um apagão na telefonia celular que impediu a transmissão dos dados atualizados das estações de medição até a Furb. O Ceops ficou no escuro para projetar o nível do Itajaí-Açu. Situação semelhante à da semana passada, quando as 16 estações estavam desativadas.

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A Defesa Civil de Santa Catarina cita a existência de estações de telemetria mantidas por diferentes entidades, como a Agência Nacional de Águas (ANA) e companhias de energia. E insinua que o sistema de alerta gerido pela Furb não tem mais utilidade.

“Se existe uma entidade que já realiza o monitoramento destes pontos se torna necessário avaliar a viabilidade e quais os benefícios que o repasse de recursos para o Ceops/Furb vai trazer para o sistema de alerta de cheias no Vale do Itajaí já que estamos tratando recursos públicos”.

Procurada pela coluna, a Furb manifestou-se também por meio de nota (publicada na íntegra ao fim do texto). A universidade não respondeu às críticas da Defesa Civil e disse que a reunião de dezembro representou “o início de uma conversa que deve dotar a comunidade regional de um sistema eficiente e perene de monitoramento”.

Nível do Rio Itajaí-Açu

O texto do Estado chama atenção pela agressividade. É direcionado a professores (alguns aposentados e trabalhando para o Ceops como voluntários) que acumulam quase quatro décadas de conhecimento científico sobre a bacia do Itajaí-Açu, ativo de valor incalculável. O governo do Estado vem assumindo, desde 2009, protagonismo que não tinha nas ações de Defesa Civil, e isso é bom. Mas é péssimo que despreze quem estava ao lado da comunidade enquanto o governo tinha outras prioridades.

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Objetivamente, a questão é: sem as estações telemétricas e a experiência do Ceops, quem alertará Blumenau e região sobre o nível do Rio Itajaí-Açu durante as enchentes?

Santa Catarina deve ao Ceops. Antes de tudo, respeito.

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Íntegra da nota da Defesa Civil de SC

A Defesa Civil de Santa Catarina (DCSC) vêm a público esclarecer que, em conjunto com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável, mantêm um diálogo aberto com o Centro de Operações do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (CEOPS), pertencente a Universidade Regional de Blumenau (FURB), com o objetivo de apoiar a operação e manutenção da rede de monitoramento caso exista viabilidade financeira e operacional.

No dia nove (09) de dezembro de 2020 as entidades participaram de uma reunião, organizada pelo Comitê da Bacia do Rio Itajaí, para discutir as condições operacionais da rede de monitoramento e alerta do Vale do Itajaí, operada pelo CEOPS/FURB. Na oportunidade a DCSC levantou a necessidade de avaliar o interesse e as condições técnicas do CEOPS em continuar a operar a rede. Da mesma forma foi solicitado que o Centro apresentasse um diagnóstico da situação e a proposta técnica e financeira para a recuperação e manutenção.

Destacamos que até o momento a DCSC não recebeu nenhuma comunicação oficial do CEOPS/FURB apontando o interesse de continuidade da operação da rede. Apenas foi repassado, na tarde dia 26 de janeiro, através do Comitê da Bacia do Rio Itajaí o “possível” interesse e a cópia de uma proposta técnica financeira desatualizada elaborada em 2019. O CEOPS afirma que as informações precisam ser atualizadas com base em vistoria em todas as estações, mas esse trabalho está fora de cogitação.

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É importante levar ao público que o custo apontado pelo documento, que está desatualizado, para a reforma das estações e manutenção das atividades repassado pelo Centro é de R$ 652.590,00. Deste montante podemos exemplificar como custos de gestão administrativa e operacional do Projeto, por 12 meses, a quantia de R$ 130.000,00 e para compra de equipamentos novos, como computadores e notebooks, R$ 232.900,00.

Atualmente apenas duas das 16 estações do CEOPS estão operacionais e a grande maioria dos pontos monitorados pelo Centro coincidem com a rede da Agência Nacional das Àguas (ANA). Se existe uma entidade que já realiza o monitoramento destes pontos se torna necessário avaliar a viabilidade e quais os benefícios que o repasse de recursos para o CEOPS/FURB vai trazer para o sistema de alerta de cheias no Vale do Itajaí já que estamos tratando recursos públicos.

O CEOPS já teve uma participação importante no monitoramento de inundações do Vale do Itajaí, mas também passou por falhas em eventos críticos. Após problemas na operação durante as cheias de 2008, a SDM, antiga Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, apoiou a modernização do sistema operacional. Já nas cheias de 2011, entre agosto e setembro, quando o Vale do Itajaí, em especial o Alto Vale, foi severamente afetado por inundações, uma falha no sistema de telemetria da rede do CEOPS prejudicou o monitoramento.

Monitoramento da Bacia Hidrográfica

É possível afirmar que o Vale do Itajaí é uma das bacias hidrográficas do Brasil com a maior densidade de estações de monitoramento. Por ser um sistema descentralizado, monitorado por diversas agências, reduz a dependência de uma única instituição para operar e manter o sistema de monitoramento e alerta da bacia.

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Nos últimos anos diversas entidades públicas, privadas, municipais, estaduais e federais investiram na implantação de redes de monitoramento. Atualmente, o Vale do Itajaí conta com 287 estações pluviométricas ativas (que medem a chuva) e 105 estações fluviométricas (que medem os níveis dos rios). O setor elétrico possui o maior número de estações de nível (31), em seguida vem a Agência Nacional das Águas (ANA) (17), CEOPS (16), Prefeitura de Itajaí (9) e Prefeitura Brusque (3).

Um novo Plano de Operação das Barragens de Taió, Ituporanga e José Boiteux foi elaborado com base em estudos hidrológicos e hidráulicos. Para apoiar o Plano, que miniminiza as cheias no Vale do Itajaí, no final de 2020 a Defesa Civil de Santa Catarina (DCSC) instalou outras três estações nas Barragens de Taió e Ituporanga. A DCSC ressalta que neste ano também está sendo prevista a aquisição e instalação de mais 15 estações hidrológicas, a maioria situadas no Vale do Itajaí.

O resultado destas ações pode ser comprovado em dezembro de 2020 quando a operação das Barragens possibilitou que o rio fosse estabilizado em 6,89 metros em Rio do Sul. Os estudos indicam que sem a operação das barragens o nível do rio poderia ter atingido 8,39 metros. Desta forma o monitoramento hidrológico realizado pela DCSC e a operação das barragens reduziu prejuízos e preservou vidas.

Hoje o Estado de Santa Catarina conta com um setor de meteorologia e hidrologia que atuam 24 horas por dia, sete dias por semana para prestar um serviço dedicado de monitoramento e alerta para a população. A DCSC também implantou um Sistema de Previsão de Eventos Hidrológicos Críticos em 13 municípios do Vale do Itajaí (Taió, Ituporanga, Agronômica, Rio do Sul, José Boiteux, Rodeio, Ascurra, Benedito Novo, Rio dos Cedros, Timbó, Blumenau, Brusque e Itajaí).

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A instituição permanece a disposição para esclarecer qualquer dúvida.

Íntegra da nota da Furb

A Universidade Regional de Blumenau (FURB), mantenedora do CEOPS, Centro de Operações do Sistema de Alerta da Bacia do Itajaí reforça seu compromisso com a população dos 50 municípios que formam a bacia e representam cerca de 1 milhão de habitantes. Monitorar as condições hidro meteorológicas do Vale do Itajaí e gerar previsões de enchentes para os municípios de Blumenau, Brusque, Timbó e Rio do Sul, apoiando as ações da Defesa Civil municipal e estadual é o objetivo do CEOPS, cujas atividades incluem, ainda, a participação em órgãos colegiados tomadores de decisão e a realização de projetos de pesquisa com fomento interno e externos à Universidade.

O sistema de alerta de cheias da bacia do Itajaí foi o primeiro do seu gênero a ser implantado no Brasil, após a grande cheia de 1983, com o objetivo de desenvolver as chamadas medidas não-estruturais para proteção de enchentes, englobando monitoração do tempo, monitoração de níveis, modelos de previsão hidrológica e cartas de risco de inundação (Frank e Pinheiro 2003).

A última intervenção no Sistema de Alerta ocorreu em 2007, quando o Governo do Estado de Santa Catarina, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), assinou um convênio com a FURB (SDS/FURB) no valor aproximado de R$ 1.300.000,00 (hum milhão e trezentos mil reais) para a modernização e ampliação da rede de monitoramento. Este convênio destinou-se à aquisição de modernos equipamentos e um sistema de transmissão de dados via rede de telefonia móvel, tornando os dados úteis tanto para a previsão de níveis quanto para o estudo de chuvas intensas.

Em 2019, ciente da necessidade de manutenção dos equipamentos, a Universidade realizou um levantamento das condições das estações telemétricas e elaborou um projeto indicando a necessidade de investimentos. Em dezembro de 2020, por iniciativa do Comitê da Bacia do Itajaí, uma reunião realizada na sede da AMMVI retomou o assunto sobre o monitoramento hidro meteorológico da região.

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Para a Universidade de Blumenau, a reunião representou o início de uma conversa que deve dotar a comunidade regional de um sistema eficiente e perene de monitoramento, envolvendo todos os segmentos da sociedade.

Destacamos que o CEOPS sempre atuou, cumpriu e cumpre suas atribuições e responsabilidades com extremo zelo, precisão, assertividade e confiança, baseado nas fontes de informações e dados técnicos disponibilizados pelo sistema de telemetria regional.

A FURB está integralmente à disposição para contribuir na continuidade de um sistema hidrológico de previsão de cheias ainda melhor, mais integrado e atualizado.