Os movimentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na articulação de uma nova candidatura à Presidência em 2022 animam o Partido dos Trabalhadores em Santa Catarina. Ex-prefeito de Blumenau e candidato derrotado ao governo nas eleições de 2018, Décio Lima preside o partido no Estado repetindo movimentos do líder, que neste mês encontrou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), adversário histórico.
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Para Décio, o retorno de Lula ao jogo político muda o papel do PT nas Eleições 2022 e amplia as possibilidades de alianças em Santa Catarina. Possível candidato ao governo, ele tem conversado com partidos de esquerda, mas também com lideranças do MDB. E não descarta os petistas abrirem mão de candidatura em nome do que considera uma cruzada pela democracia.
Décio compara o cenário político nacional a uma coleção de figurinhas em que Lula é a mais desejada por todos. Confira abaixo a entrevista concedida à coluna:
Como a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jogo político impacta o PT de Santa Catarina?
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Muda tudo. Porque a prioridade é a eleição do Lula. Somos o único partido de Santa Catarina que polariza a política nacional, até porque o inominável está sem partido. Temos que considerar que o lulismo sempre foi mais forte que o petismo. O ambiente da política mudou a nosso favor. Disputamos as últimas eleições tendo que responder a um conjunto de acusações que tentavam nos incriminar. Agora nós somos depositários das esperanças do povo brasileiro. É um cenário de muita responsabilidade para nós, que vai exigir um trabalho redobrado, e que já começamos. Estamos com uma caravana pelo Estado nas 21 microrregiões. Temos que dialogar com os setores democráticos, porque as eleições do ano que vem serão um momento singular, daqueles únicos na história do país.
Se o lulismo é maior do que petismo, significa que o presidente Lula é maior do que o PT?
É a velha história, o Lula é uma figurinha carimbada. A figurinha carimbada vale mais do que o álbum todo, aquela figurinha difícil que a gente não consegue quando coleciona. Nós, por exemplo, em 2018, depois que o Lula saiu da eleição, decaímos e chegamos próximo da eleição (para o governo de SC) com 13% dos votos. Isso significa que o Lula vai ser, digamos assim, uma condição de puxar o processo eleitoral do PT em Santa Catarina. Você viu esse fenômeno com o (Carlos) Moisés. Quem votou no Moisés foi o voto do bolsonarismo. As condições são muito diferentes das que nós enfrentamos nas eleições de 2018.
O presidente Lula tem conversado com partidos de posicionamentos ideológicos variados. No Estado, há a mesma liberdade?
Sim, já iniciei esse processo em Santa Catarina. Já falei com ex-governadores, já dialoguei com outros setores além daquilo que a gente chama do campo da esquerda. É bem verdade que, nesse primeiro esforço, nós vamos tentar aglutinar os partidos de esquerda, mas nós queremos interlocução com todos os setores da sociedade. Porque o que está em jogo não são as divergências naturais da pluralidade democrática. Não são as divergências com o PSDB, MDB, PSB, PP… O que está colocado neste momento é unir os democratas para salvar a democracia brasileira contra esse lampejo violento do ódio que tomou conta do Brasil. Só essa unidade, como expressa aquela foto, de grandeza, de estadistas, entre Lula e Fernando Henrique Cardoso, pode minimizar os efeitos dessa onda fascista no Brasil.
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O senhor acredita na possibilidade do PSDB apoiar o PT em Santa Catarina? Ou vice-versa, o PT apoiaria o PSDB?
Se tivermos a grandeza de nos aglutinarmos numa pauta democrática, não vejo nenhum problema. Por conta da conjuntura. Nós estamos numa crise sanitária, econômica, financeira. O Brasil já chega novamente ao mapa da fome, com 40 milhões de pessoas consideradas desprotegidas de segurança alimentar. O desemprego numa das maiores taxas. A democracia sendo toda hora agredida. É hora de grandeza. A pauta tem que ser salvar vidas, garantir a democracia e gerar emprego e renda para o nosso povo. Essa é uma pauta que unifica todos os setores democráticos.
Em 2018, havia um grande desejo de mudança. O senhor acha que isso se reverteu? O antibolsonarismo seria maior do que o antipetismo?
O PT não é mais o alvo dos problemas, o alvo são os negacionistas, aqueles que não deram gestão eficiente para que o Brasil pudesse se vacinar, aqueles que são responsáveis por essa escalada de desemprego, de miséria, que envergonha o Brasil no mundo inteiro. Nós temos uma governança esquizofrênica, com patologias visíveis, então o povo brasileiro está sendo massacrado. Os processos de criminalização que foram imputados ao PT estão a cada dia sendo desnudado pelo fracasso das mentiras e pela vida real.
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Com o atual governo o senhor pretende conversar?
Fui conversar com o Moisés no momento mais difícil da vida dele, acredito. Fui dizer que nós iríamos votar pela cassação dele se encontrássemos as digitais dele no processo do impeachment. Nós não seríamos algozes da mesma forma como foram conosco, utilizando de um golpe (refere-se ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff). Até porque esse é um valor fundamental, nós não podemos banalizar o mal, rasgar a Constituição porque somos adversários. Então fui dizer isso a ele. Agora, além disso nós não tivemos outro diálogo. Sou oposição ao governo Moisés, acho que é um governo inexistente, não tocou a vida do povo de Santa Catarina, um governo todo atrapalhado, que entrou numa autofagia que já o levou a ser afastado por duas vezes. Não tem condições de continuar governando Santa Catarina. Agora, isso não impede que eu converse com ele, que a gente possa, quem sabe, ver um outro caminho, construir algo consistente. Jamais vou deixar de conversar com quem quer que seja.
O PT vai ter candidato ou existe a possibilidade de compor em benefício do cenário nacional?
O PT fez três rodadas de planejamento estratégico recentemente e se deliberou que eu protagonizasse a candidatura ao governo de Santa Catarina. Entendemos que as eleições de 2022 já começaram, não vamos ter uma eleição normal, daquelas em que nós vamos ficar três meses debatendo as ideias para que o povo brasileiro escolha. É um processo permanente, porque a cada momento nós somos surpreendidos por atitudes que ferem a alma do povo brasileiro. Nós estamos construindo já um ambiente de interlocução com os partidos de esquerda, do centro, queremos aglutinar, vamos fazer esse esforço e ter o despojamento de entender que a defesa da democracia é mais importante. Queremos fazer alianças, sim, e queremos discutir isso para ver qual a melhor construção.
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