Daniela Reinehr ganhou uma segunda chance no governo de Santa Catarina em situação bem diferente da primeira vez. À parte a situação política, agora um pouco mais favorável, ela tem nas mãos a chance de firmar-se como a gestora pública que conduziu os catarinenses rumo à saída da pior crise sanitária da história. Oportunidade para apagar a péssima impressão que deixou em 2020 e, talvez, credenciar-se a permanecer no cargo.

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No ano passado, a vice assumiu o lugar de Carlos Moisés num período de ascensão da pandemia de Covid-19. Em 27 de outubro, quando assinara o termo de posse, a média móvel diária de novos casos no Estado era de 1.731 — considerados os sete dias anteriores. Um mês mais tarde, data em que voltou à posição de coadjuvante, eram 4.131. Titubeante entre o bolsonarismo radical e as precauções sanitárias, Daniela hesitou até nas orientações elementares à população, como o uso de máscaras. Piorou o que já estava ruim.

Agora o cenário é outro. O primeiro trimestre foi tão macabro, nas estatísticas e nas decisões insensíveis da gestão, que adiante as oportunidades de piora parecem estreitas. Os números de casos diminuem há semanas em regiões como Oeste, Serra e Vale do Itajaí, onde as medidas restritivas foram um pouco mais severas. No cômputo geral do Estado, a tendência é que o contágio por coronavírus caia lentamente como resultado das políticas brandas de restrição de circulação decretadas por Moisés.

Daniela terá de administrar a fila de espera nas UTIs e o impacto negativo das mortes por Covid-19, que permanecerão em patamar elevado por mais tempo, mas governará sob a expectativa de melhora, e não o contrário.

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Mais: ela retorna à liderança do Estado no momento em que a campanha de vacinação ganhou ritmo. Apesar da insegurança transmitida pelas previsões furadas do Ministério da Saúde, abril deve manter, pelo menos, a toada de março. Neste campo, basta dar autonomia às equipes técnicas e o Sistema Único de Saúde (SUS) encarrega-se da tarefa.

A escolha da enfermeira e deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania) para a Saúde reduz a eficácia das pressões por “tratamento precoce” e abre margem para ampliar o diálogo com os prefeitos. Mas quem manda é a governadora. Daniela dará o tom das ações. E o que ela fizer agora determinará por quanto tempo durará o alívio na crise sanitária.

O primeiro sinal veio no domingo de Páscoa. Daniela flexibilizou a Lei Seca em bares e restaurantes, mantendo outras restrições. Se for essa a linha daqui para frente, o novo governo encomendará uma nova onda de Covid-19 para breve. A julgar pelo pico de dezembro, em que quase não houve medidas restritivas no Estado, o número de casos deve estabilizar-se em patamar elevado e de lá retomar a curva ascendente. Quando, é impossível dizer.

De qualquer maneira, aconteça o que acontecer no processo de impeachment de Moisés, desta vez a gestora da crise precisaria fazer um esforço grande se quisesse piorar a experiência dos catarinenses com o vírus. Certamente não quer.

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