Perdeu força nas redes sociais o culto ao “tratamento precoce” contra a Covid-19. Após a instalação da CPI no Senado, sumiram da internet conteúdos em defesa de medicamentos sem eficácia comprovada e, junto deles, defensores do chamado Kit Covid. No Google, caiu drasticamente o interesse por buscas sobre ivermectina e cloroquina. O movimento também coincide com a redução na taxa diária de mortes pela doença no Brasil.

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A suposta panaceia contra a pior crise sanitária em um século sustentou-se por um ano, a despeito de evidências científicas que a descartaram como remédio para o coronavírus. Políticos e influenciadores digitais, entre eles médicos e jornalistas defensores do governo, alimentaram uma crença quase religiosa, descontextualizando estudos isolados — e considerados de baixa qualidade pela maioria dos cientistas — e associando-os a exemplos falsos de cidades que teriam vencido a pandemia à base de Kit Covid.

As redes bolsonaristas deram capilaridade às mentiras e distorções, que em Santa Catarina ganharam status de verdade, inclusive nos meios empresariais. Até hoje há quem mencione a sério o falso sucesso de Rancho Queimado, município catarinense que tem números compatíveis aos de cidades que não adotaram o tal tratamento. Desde o início de abril, porém, quando o Supremo Tribunal Federal mandou instalar a CPI da Covid-19, a campanha pelo Kid Covid retraiu-se.

Conforme vem registrando o estúdio de análise de dados Novelo Data, influenciadores, jornalistas, políticos e até a TV Brasil excluíram ou ocultaram vídeos que defendiam abertamente o tratamento precoce, inclusive em substituição à vacinação contra o coronavírus. O próprio YouTube anunciou ter excluído (com enorme atraso) 850 mil vídeos desse tipo, inclusive publicados pelo presidente Jair Bolsonaro. O Facebook passou a ser mais sensível às denúncias contra conteúdos que disseminavam teorias falsas sobre a Covid-19. Mesmo quem, de boa fé, acreditava na solução mágica, ficou sem vídeos novos para compartilhar com amigos e familiares.

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Blumenau

Em municípios como Blumenau, onde a militância pró-Kit Covid chegou à política, o recuo é nítido nos comentários em notícias e nas postagens da prefeitura. Foi retirado do ar o abaixo-assinado online que exigia a implantação dos “protocolos” de tratamento na rede de saúde municipal. A audiência pública para discutir o tema, aprovada em 23 de março pela Câmara de Vereadores, até agora não tem data prevista. A prefeitura abriu edital para liberar o megaestoque de cloroquina a clínicas privadas, por receio de que encalhassem até o vencimento dos comprimidos, daqui um ano.

Que não se engane, porém, quem pensa que a medicina baseada em evidências venceu. Na terça-feira (24), os senadores ouvirão Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do Ministério da Saúde, que atende pela alcunha de Capitã Cloroquina. Eloquente, ela deve levar à oficialidade da CPI os argumentos pseudocientíficos que empurraram governo e milhares de brasileiros a essa canoa furada. Não faltará discurso a quem dispôr-se ajudar a manter viva a promessa de cura que tantos já matou.

A menos que os senadores estejam preparados para diferenciar boa ciência de charlatanismo.

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