Políticos gostam de dizer que não se deve esperar resultados diferentes fazendo sempre as mesmas coisas. O clichê, equivocadamente atribuído ao físico Albert Einstein, define bem a situação atual de Santa Catarina na pandemia de coronavírus.

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Neste 2020 interminável, esticado pela Covid-19, a impaciência generalizada faz o cidadão perder de vista fatos recentes, de apenas quatro meses atrás. Vejamos qual era o cenário de então.

Fez sol no feriadão de Corpus Christi, de 11 a 14 de junho. O catarinense, quarentenado há três meses, tratou de aproveitar a folga no litoral. Cidades como Florianópolis, Joinville e Blumenau retomavam o transporte coletivo enquanto o clima em bares, restaurantes e no comércio recobrava ares de normalidade.

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Prefeitos e o governo estadual diziam que a situação da Covid-19 estava controlada. A culpa pela lenta e contínua alta de casos, na versão das autoridades, era de parte da população, que promovia churrascos em casa e não seguia os protocolos. 

Em 15 de junho, a média de casos diários em Blumenau era de 29. Duas semanas depois, já passava de 100. Em 15 de julho, superou 200. A tensão que veio a seguir todo mundo lembra — os familiares das quase 3 mil vítimas no Estado jamais esquecerão.

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Pois bem. Neste sábado (17), a média diária de casos em Blumenau estava em 63 — mais que o dobro do fim de setembro. Todos os dias Santa Catarina detecta mais de mil novos doentes — neste sábado foram 1,8 mil. O viés é de alta.

Praias lotadas e aglomerações no 12 de outubro, ônibus nas ruas (em Blumenau, com até 75% de ocupação), bares e restaurantes cheios, pessoas sem máscara. Desta vez, até as escolas voltarão. Repetem-se o panorama e os equívocos.

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Rastreamento de contatos

As medidas restritivas de julho e agosto ajudaram a derrubar o contágio, mas não foram suficientes para suprimir o vírus no Estado. Exatamente por isso é indevida a frequente comparação com a “segunda onda” em países europeus.

— A gente nunca saiu da onda, só teve uma adequação de ritmo. Tínhamos uma sensação de queda, mas a situação hoje está mostrando que há uma possível retomada — analisa o geógrafo Eduardo Werneck.

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Além de aceitar a convivência com o vírus, como se fosse segura, nunca houve por aqui uma política de caça ao Sars-Cov-2. Nem mesmo quando o número de casos diminuiu foi desencadeada uma política de rastreamento de contatos e testagem. Só quem tem sintomas é testado, com raras exceções. O sistema de saúde aguarda passivamente o alastramento da doença até o ponto em que fica insustentável.

— A gente ficou muito longe de promover ações de contenção do vírus. Testamos, mas não rastreamos contatos — critica o infectologista Amaury Mielle.

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Sobre o futuro, os especialistas são cautelosos. Um novo pico de casos é provável, mas a intensidade é imprevisível.

— O comportamento do vírus nem sempre é linear — constata o doutor em Epidemiologia Fernando César Wehrmeister, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Ao repetir um receituário que deu muito errado, autoridades e população flertam com a morte outra vez. Põem a perder o esforço feito com medidas restritivas e projetam um cenário preocupante para a temporada de verão.

Com uma eleição municipal no meio da confusão.