Será no dia 17 de julho a eleição dos novos integrantes do Conselho de Política Cultural de Blumenau. O processo havia sido suspenso no fim de maio, tornando pública uma polêmica religiosa que opõe artistas e líderes evangélicos. A fim de corrigir fragilidades no sistema de votação, a escolha dos conselheiros será presencial.
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Na semana passada, a radicalização do debate sobre a eleição do conselho, que envolveu políticos ligados a igrejas, levou o secretário de Cultura e Relações Institucionais, Rodrigo Ramos, a pedir demissão. Vereadores de Blumenau usaram a tribuna para acusar o conselho de suspender a votação por receio de vitória de candidatos evangélicos. O deputado Ismael dos Santos (PSD) também protestou na Assembleia Legislativa.
O Conselho de Política Cultural esperava ter espaço para responder sobre o caso na tribuna da Câmara na última terça-feira (1º). Como a participação no Legislativo foi adiada para a próxima semana, o grupo decidiu publicar uma nota oficial, nesta quinta (3), respondendo às acusações de discriminação religiosa. Nela, reafirma que pesaram na decisão denúncias de que pessoas não residentes em Blumenau estavam inscritas para votar, o número de inscrições (531) acima do esperado, “dificultando o gerenciamento”, e a fragilidade do sistema de votação online. Em seguida, o texto diz que os vereadores e o deputado distorceram o caso.
A nota é bastante crítica aos vereadores Marcos da Rosa (DEM) e Silmara Miguel (PSD). Fala em mentiras, “posicionamentos preconceituosos” e má-fé.
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“Entretanto, após esta narrativa mentirosa, que há uma disputa de poder entre conselho e artistas com alguns segmentos evangélicos, passamos a questionar a ação deste grupo liderado, talvez, por interesses partidários ou políticos, que de forma organizada, pretendeu ocupar todas as cadeiras do conselho. Compreendemos que essa ação organizada tem a intencionalidade de impor convicções religiosas num lugar não adequado ao campo religioso – pois o CMPC acolhe a arte, divulga e promove artistas que há anos vivem de arte e cultura na cidade de Blumenau.
Diante do que vimos com a ação organizada ficam-nos algumas provocações: o cerne da questão não é religioso, nem cristão, mas sim um movimento que busca a hegemonia dentro deste e de outros conselhos de nosso município. Há espaços específicos para as “verdades religiosas” e estes são respeitados. Assim considera-se que, como Conselho, que representa os artistas da cidade, este deve ser respeitado, com todos os seus integrantes, sejam eles de religião diversa, orientação sexual, diversidade étnica e cultural. A arte é o lugar do diverso, da produção que nos desloca a pensar a vida e o nosso tempo. Por tal motivo precisa ser um lugar que acolha a diversidade e não seja hegemônico, pois no pensamento hegemônico não há democracia”.
Opinião
O tom da resposta dos atuais conselheiros às acusações de políticos religiosos tende a prolongar o conflito. Ao mesmo tempo em que defende a tecnicidade da decisão de suspender a eleição, a nota acusa uma “ação organizada” de conquista da hegemonia nas políticas culturais do município. Esse discurso é um prato cheio para quem deseja manter o clima de terrorismo moral no ar até a eleição de julho, de maneira a enquadrar aqueles que defendem pluralidade como “anti-igreja”.
Igrejas evangélicas têm se mobilizado para ocupar espaços de decisão sobre políticas públicas há anos. Conselhos tutelares e o Conselho Municipal de Políticas Públicas Sobre Drogas (Comen), por exemplo, têm alta participação e influência desse segmento da sociedade. A presença de três parlamentares representantes do campo evangélico na Câmara de Vereadores prova que essa mobilização vem funcionando.
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A militância organizada dos cristãos neopentecostais pode ser benéfica se vier a despertar maior participação de outros segmentos que representam parcelas da população na discussão das políticas culturais. À tentativa de imposição de um projeto hegemônico deve-se responder no voto. Dentro das regras.
E sob um processo seguro, para que todos respeitem o resultado final da eleição.
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