O terreno no Centro Histórico de Blumenau onde a Havan pretende erguer uma loja já serviu de moradia a colonizadores, pertenceu ao governo de Santa Catarina e abrigou estádio de futebol. Desde 2007, quando as arquibancadas do velho Deba foram demolidas, uma rua cortou a área de terra ao meio e duas torres de apartamentos projetadas acabaram não saindo do papel. Nesta quarta-feira (26), o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado (Cope) avaliará se o espaço vazio pode ser preenchido pela construção comercial inspirada na Casa Branca.

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Além de arbitrar a polêmica, os conselheiros indicarão qual o futuro da área onde a cidade nasceu. Os terrenos aos fundos da Rua das Palmeiras, perto da Paróquia Luterana Centro, abrigavam residências e uma serraria nos primórdios da colônia Blumenau, segundo a diretora do Arquivo Histórico, Sueli Petry. Na década de 1940, o governador Aderbal Ramos da Silva doou o pedaço de terra, que então pertencia ao poder público estadual, para a construção de um campo de futebol.

O estádio que levou o nome do político recebeu jogos durante décadas, principalmente do Palmeiras e depois do Blumenau Esporte Clube. A insolvência do BEC, no fim dos anos 1990, levou o imóvel a leilão, arrematado por um empresário paranaense — apesar da antiga lei estadual ter exigido que a destinação da área fosse o esporte.

Depois da triste demolição, o Conselho Municipal de Planejamento Urbano chegou a aprovar a construção de dois edifícios no local, mas o projeto não andou. Com a abertura da Rua Oscar Jenichen, na década passada, o terreno acabou dividido em dois. Ambos baldios.

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> Havan retira proposta de loja no Centro Histórico de Blumenau

A bem da verdade, o projeto apresentado pela Havan tem certa sintonia com o tratamento dispensado pela cidade ao Centro Histórico nos últimos anos. O lugar está entrecortado por trânsito rápido e corredores de ônibus, situação que pode piorar se algum dia for construída a ponte na curva do Rio Itajaí-Açu, ligando a área à Ponta Aguda. A Rua das Palmeiras é hoje uma via de passagem. De carros. O projeto da Havan leva em conta esse contexto, e não o de uma alameda para desfrute de pedestres e ciclistas.

Além de analisar se a construção proposta e sua polêmica fachada prejudicam o sítio histórico onde estão inseridas, os conselheiros do Patrimônio Cultural Edificado definirão, de maneira indireta, porém definitiva, qual será o futuro do espaço urbano entre a Igreja do Espírito Santo e a Praça Hercílio Luz. Pode significar uma reconciliação com as raízes da cidade. Ou a aposta na geração de empregos a qualquer custo.

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