Não há precedente para o isolamento político que Blumenau vive nesta terceira fase do governo Carlos Moisés (PSL). Cortaram-se os poucos canais de interlocução ativos com Florianópolis. A representação da cidade na Assembleia Legislativa ou está na oposição, ou tem questões mal resolvidas com o governador. E de Brasília, sem cadeira no Congresso Nacional desde 2019, após o desastre eleitoral dos principais líderes políticos do município até então, o pouco que se pode esperar vem de contatos via deputados e senadores eleitos por outras regiões.
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Está vago o posto de “embaixador do Vale” na Capital, ocupado pelo deputado Ricardo Alba (PSL) até o fim do ano passado. Ele perdeu o privilégio quando votou pela abertura do primeiro processo de impeachment. Ivan Naatz (PL) segue na oposição. O timboense Laércio Schuster (PSB), que funcionou como ponte entre o prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) e a interina Daniela Reinehr (sem partido), agora é persona non grata na Agronômica.
Sobra Ismael dos Santos (PSD), anfitrião do encontro entre Moisés e o ministro da Educação, Milton Ribeiro, quinta-feira (13) à noite, no Hotel Himmelblau. Ele atuou pelo impeachment no ano passado, mas pode ser uma nova via de acesso político ao governador, que não necessariamente levará à prefeitura. Quem decidiu barrar Hildebrandt da reunião com o ministro o fez de caso pensado. Constrangimento que se sentia no ar, sexta-feira, durante a inauguração do Centro de Educação Infantil no Passo Manso.
Ribeiro chegou a desculpar-se com o prefeito e, no discurso, disse que estava na cidade a convite dele. Mais difícil seria explicar por que veio inaugurar uma obra pela qual não pagou o valor combinado, outro sinal de desprestígio.
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Na sexta, Mário Hildebrandt fez acenos a Moisés. Elogiou a gestão do governo na pandemia de Covid-19 e disse que só não se formou fila de espera por UTI na cidade graças à parceria. Ao discursar, o governador afirmou que recebe a todos, independentemente de partido. E, por duas vezes, lançou no ar dúvidas sobre a quem interessava retirá-lo da cadeira de governador. A relação permanece fria, agora com menor probabilidade de melhora.
História
Na história recente, Blumenau já esteve desalinhada aos governos estadual e federal. No início dos anos 2000, prefeito do PT (Décio Lima) e governador do PP (Esperidião Amin) mal conversavam. O presidente era tucano (Fernando Henrique Cardoso). Mudaram os ventos, o Brasil elegeu Lula e os catarinenses devolveram o governo ao MDB, com Luiz Henrique da Silveira. Então Blumenau guinou à direita e assumiu João Paulo Kleinübing (DEM). Mas nessas duas situações, apesar das dissonâncias, havia interlocução por canais formais ou informais.
Na reacomodação política por que passa toda Santa Catarina, será necessário restabelecer algum ponto de articulação pró-Médio Vale. Também não interessa a Moisés isolar o terceiro maior colégio eleitoral do Estado.
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