Se dependesse do burocrata municipal que resolveu proibir o único evento público de Carnaval em 2023, Blumenau não teria Oktoberfest ou Stammtisch. Porque a justificativa apresentada para negar autorização ao desfile da escola de samba Mocidade Unidos do Salto do Norte inviabilizaria qualquer celebração coletiva. A proibição é um ato de violência contra a cultura popular e precisa ser revertida o quanto antes.

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Quando Horácio Braun, Luiz Eduardo Caminha e Norberto Mette, entre outros, inventaram o Encontro dos Grupos de Stammtisch, no ano 2000, a Rua XV de Novembro foi fechada para que apenas 17 confrarias brindassem em via pública. Muita gente torceu o nariz. Em nada ajudou, anos depois, uma briga generalizada, ocorrida já no fim da tarde, quando o teor etílico geral recomendava que a festa fosse encerrada. A oposição ao evento tornou-se barulhenta. Mas perdeu.

Felizmente, o Stammtisch não acabou por causa disso. Os organizadores estabeleceram regras rígidas e punições aos grupos que as descumprem — entre elas, a necessidade de levantar acampamento às 17h. O esquema de segurança e limpeza foi aprimorado, com apoio do poder público. Preservou-se o velho hábito de reunir amigos periodicamente em torno de boa comida, música e bebida. Hoje há muito mais confrarias em Blumenau do que a Rua XV poderia comportar.

Oktoberfest

Contra os efeitos colaterais da Oktoberfest, sempre sobrou mau-humor. No início dos anos 1990, quando multidões urinavam pelas ruas e verdadeiras gangues trocavam socos nos pavilhões, o evento quase ficou inviável. Blumenau reagiu com gestão, um enorme aparato de segurança e a gradativa imposição de um perfil civilizado à festa. Se alguém cogitou, naqueles tempos de balbúrdia, acabar com os desfiles e com a reunião de dezenas de milhares de pessoas por noite, não foi ouvido — ainda bem.

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O Carnaval do Salto do Norte não pode acontecer em 2023 porque a prefeitura, nas palavras do burocrata que escreveu a negativa de alvará, “recebeu diversas ouvidorias (sic) relatando situações que ocorreram durante a realização dos desfiles em anos anteriores. O material recebido demonstra o uso inadequado da área pública a ponto de ser necessária a intervenção policial para restabelecer a ordem”.

As tais situações, de acordo com a escola de samba, seriam o som alto de carros estacionados que não integravam o desfile e uma briga ao fim da última edição pré-pandemia, em 2020. Ou seja, o Carnaval de Blumenau deve ter fim porque alguns vizinhos reclamaram e uns tantos bêbados brigaram.

A despeito do desinteresse do poder público e da maioria da população de Blumenau, faz 17 anos que a Mocidade desfila pela Rua Johann Sachse. A comunidade elabora enredos, compõe e grava sambas, produz fantasias e alegorias, obtém patrocínios e sai a dançar exibindo a simplicidade de quem faz tudo sozinho, espontaneamente.

Por ser uma comunidade periférica, composta de gente cuja voz não reverbera nas esferas de poder e que luta para preservar manifestações culturais praticamente não reconhecidas como locais, alguém sentiu-se à vontade para mandar cancelar tudo. Fosse apenas provincianismo, seria ridículo. Mas é preconceito.

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Até quem desconhecia a existência do Carnaval do Salto do Norte tem de repudiar essa proibição.

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