“Em Santa Catarina, os aplausos não são só para quem se recupera da Covid-19. Os clientes que voltavam a um shopping de Blumenau, no começo de abril, também foram recebidos com festa.
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O vírus também ficou à vontade e o número de contaminados, que era de apenas 81 na cidade, sem nenhum óbito, chegou nesta semana a 1.853 casos. Sete pessoas morreram em Blumenau.”
Assim o veterano repórter Ernesto Paglia beliscou, no Fantástico de domingo (28), uma ferida incômoda para Blumenau. Que talvez nunca cicatrize, a julgar pelas reações raivosas nas redes sociais, seja de quem vê a cobertura midiática como injusta e superficial, seja por quem concorda com a função sintética da cena para descrever nosso comportamento no combate à Covid-19.
O saxofonista do shopping elevou-se ao plano do simbólico. Funciona como ícone dos tempos contraditórios que vive o Brasil.
Pouco adianta argumentar que a aglomeração no Neumarkt Shopping foi momentânea. Que o vídeo mostra dezenas de pessoas usando máscaras. Que é exagero relacionar a disparada da Covid-19 em Blumenau com um episódio isolado. Apesar de tudo isso ser verdade.
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Blumenau teve tempo para provar aos brasileiros (e aos leitores do New York Times e do Daily Mail) que estavam errados. Passados dois meses e meio, os números comprovam o que a cena sugeria. Temos quase mil doentes em tratamento, o triplo de 30 dias atrás. Nove famílias blumenauenses perderam queridos.
O governo municipal confia nos leitos de UTI como anteparo do desastre. Vieram 20 novos respiradores, há capacidade para atender quase o dobro da demanda atual. Morrerão mais pessoas, mas seriam o preço a pagar para que a economia funcione até surgir vacina.
Estamos presos à ideia de que só precisamos achatar a curva. Mesma política que levou São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul a um abre-fecha sem fim. Na outra direção, países asiáticos e europeus que suprimiram o vírus para depois vigiar e conter novos casos já colhem os frutos de dar ouvidos à ciência e à Organização Mundial de Saúde (OMS).
Blumenau forneceu fatos e dados que cristalizam o saxofonista do shopping como símbolo da derrota nacional para o novo coronavírus. Era um dano reversível. Não é mais.
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