Autoridades da Alemanha puseram cerca de 3 mil policiais nas ruas nesta quarta-feira (7) para desmantelar um grupo que planejava um golpe de estado. Mais de 50 pessoas estariam envolvidas na organização clandestina que, segundo a investigação, tentava atrair militares da ativa e até o governo russo para apoiar ações armadas. A operação alemã é didática para regimes que lidam com conspiracionistas. Ensina que a liberdade de tramar golpes não está protegida pela lei na democracia.
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Pelo que divulgou a imprensa alemã, a organização abrigava neonazistas, integrantes de movimentos antivacina e pessoas influenciadas por teorias conspiratórias, como as do norte-americano Q-Anon. Para a facção, o atual regime republicano alemão seria secretamente conduzido por nações estrangeiras vencedoras da Segunda Guerra Mundial. Daí a razão de derrubá-lo por uma “Alemanha melhor”.
Corta para o Brasil. Quartéis país afora convivem há 40 dias com acampamentos de manifestantes que exigem a reversão do resultado das eleições, a derrubada de instituições civis e a instalação de um governo militar. Em outubro, estradas permaneceram fechadas por quase uma semana em nome da “causa”.
O Ministério Público relacionou mais de uma dezena de empresários e agentes políticos que estariam ajudando a financiar os movimentos. Um sargento da Marinha que está na ativa sentiu-se livre para afirmar, nas redes sociais, que o próximo presidente não assumirá. Na terça-feira (6), um empresário de Mato Grosso foi preso por convocar atiradores e caminhoneiros para protestar em Brasília.
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Essa pequena parte da população insiste em enquadrar o golpismo no direito à livre manifestação de pensamento. Ditatoriais, de acordo com essa interpretação, seriam as reações de investigadores e do Judiciário para coibi-los. Também há quem prefira o escárnio, desprezando o risco que movimentos golpistas atabalhoados representam ao país.
“Tratar esses sujeitos como excêntricos seria ingênuo”, escreveu nesta quarta o jornalista Jörg Schmitt, do Süddeutsche Zeitung, ao repercutir a operação da polícia alemã.
Ele observou que alguns dos acusados são pessoas de boa formação intelectual e certa influência, como professores, médicos e empresários. Há até um descendente de uma das monarquias alemãs do século XIX e uma ex-parlamentar. Gente que deveria servir de pilar para a democracia, e não ameaçá-la. No Brasil há casos de servidores públicos que defendem abertamente um golpe contra o regime a que servem.
Democracia bem mais madura que a nossa, a Alemanha resolveu chamar de “terrorista” quem cogita atentar contra o regime. Por aqui, ainda há quem chame de “patriota”.
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