A posse do romancista catarinense Godofredo de Oliveira Neto na Academia Brasileira de Letras (ABL), nesta sexta-feira (2), marca um reencontro da instituição com as letras, após a eleição de personalidades como o músico Gilberto Gil, o economista Eduardo Gianetti e o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho. É o reverso do que ocorreu há 110 anos, quando a eleição do único “imortal” de Santa Catarina até hoje provocou uma crise na casa.

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Nascido em Itajaí, com longa carreira militar e política, o ex-governador Lauro Müller assumiu cadeira na ABL sem nunca ter publicado um único livro até então. Foi uma eleição rumorosa, discutida entre os imortais e também nos jornais da República. E que terminou com a demissão em protesto do jornalista e historiador literário José Veríssimo, um dos fundadores da ABL.

O catarinense apresentou-se como candidato em julho de 1912, cinco meses após a morte do Barão do Rio Branco, o ministro das Relações Exteriores que o próprio Lauro Müller sucedeu. Artigos em jornais debatiam se a academia deveria restringir-se às Letras ou abrir-se para outras personalidades, especialmente as da política.

No carioca A Imprensa, Lauro Müller era descrito como “eminente estadista que nunca deixou deixou de ser um intelectual de valor”, citando como exemplos de obras importantes os relatórios como ministro de Estado. Em notas na imprensa, questionava-se a legitimidade da eleição, uma vez que havia na ABL 12 acadêmicos que eram funcionários da pasta das Relações Exteriores ou tinham parentes trabalhando nela.

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No dia 14 de setembro, a ABL reuniu-se para a votação em sessão “acaloradíssima”, segundo registrou o jornal Correio Paulistano. Müller recebeu 22 votos contra 15 de Ramiz Galvão, médico, escritor e ex-diretor da Biblioteca Nacional. Proclamado o resultado, José Veríssimo anunciou que abandonaria a ABL. Ele não se conformava com a política ocupando lugar que julgava ser exclusivo das letras.

Apesar da polêmica, Lauro Müller assumiu a cadeira de número 34 e exerceu a função de acadêmico. Passou à história como o primeiro — e até hoje único — representante de Santa Catarina no seleto grupo.

Hoje, as regras da ABL exigem que os imortais tenham ao menos uma obra publicada com “valor literário.” Critério pelo qual Godofredo de Oliveira Neto, nascido em Blumenau, cumpre com louvor.

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