Minha mãe fez 60 anos na semana passada. A festa foi histórica, os presentes, as pessoas presentes. Ao longo da semana de aniversário, tudo ocorreu conforme planejado – se ignorarmos, claro, alguns fatos como o que eu vou relatar. E tentar tirar uma lição dele.
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O que aconteceu foi o seguinte: na igreja da minha mãe, uma mulher, ao parabenizá-la pelos 60 anos, comenta que não se imagina ficando velha. E diz mais: que ela nem quer ficar velha. Ela disse isso para a minha mãe.
A história é mais longa, e minha mãe se saiu super bem da situação. Mas o que eu gostaria de destacar aqui é a minha reação ao ouvir essa história, já que eu não estava na igreja naquele momento (risos amarelos dos leitores mais próximos).
Eu fiquei indignado. Eu não queria acreditar. Que pessoa faz semelhante comentário? Eu já levava minha reação exaltada para um caminho perigoso quando minha mãe comenta que essa pessoa tem uma certa doença. E que parece que essa doença afeta a expectativa de vida. E então tudo ficou claro: aquele comentário era um mecanismo de defesa de quem não sabe se vai viver muito.
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A mesma situação que despertou minha indignação, agora despertava um sentimento de dó que não cabia em mim. Se aquela mulher entrasse pela porta naquele momento eu a abraçaria em prantos, creio. Creio.
Eu não sei se é uma narrativa que ela criou de forma consciente, ou se é algo que a própria mente elaborou (de forma autônoma) para aliviar o desespero.
Se foi algo inconsciente, trata-se da nossa notória capacidade de se adaptar à tragédias – e que muitas vezes é o simples conformismo. A mente inventa uma desculpa que nos ajuda a seguir adiante.
Sendo algo consciente, eu a admiro ainda mais. Na ânsia de justificar a provável vida curta, ela é o Chavez que, resignado, responde ao Kiko gabola: “eu nem queria mesmo”. Eu nem queria mesmo viver tanto tempo.
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Em função do aniversário da minha mãe, eu fiz uma pequena tatuagem no braço, que além da homenagem é para lembrar de colocar em perspectiva momentos exatamente como esse, em que eu não faço ideia do que se passa do outro lado. Sempre tem algo acontecendo do outro lado. Mas é preciso um esforço grande para não esquecer disso.