Se o leitor me perdoar, vou colar aqui, quase na íntegra, um texto que enviei em um grupo no Whatsapp. Eu participei da convenção comercial de um cliente na sexta, e acordei emotivo no sábado.

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Ou melhor: “emotivo” não é o termo certo. É reducionista. Eu diria que acordei inspirado pelo que os gregos chamavam de Musa. Numa frequência eventual que, quando acontece, tudo é sublime. Tudo vira reflexão, insight. É impossível, mas eu imagino como seria viver assim o tempo todo.

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No meu caso, acontece lá de vez em quando. Mas vamos ao texto. Vou emitir os nomes reais:

“Bom dia time! Gostaria de compartilhar uma ou duas reflexões sobre ontem. Cinco minutos antes de ser abordado pelo comediante (a atração da festa), o João me contou que não era muito fã de comédia Stand Up.

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Após o show, o João comentou comigo algo nessa linha: “Viu como é possível fazer alguém mudar sua opinião?” Vi. Bastou uma interação.

Tem uma frase do Millôr Fernandes que sempre me intrigou: “Como são maravilhosas as pessoas que não conhecemos.”. Ele brinca com o fato de admirarmos alguém porque não sabemos dos seus defeitos, problemas, falhas.

Na minha experiência, no entanto, sempre foi o contrário: você começa a perceber como as pessoas são maravilhosas quando começa a conhecê-las. Basta uma interação.

Eu gravei vários insights de conversas com vocês ontem. Com a Maria sobre amizades, com o Pedro sobre arte, com o Paulo sobre projetos, com o Fulano sobre futuro.

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E fiquei pensando: acho que é por isso que batemos tanto na tecla da prospecção incansável. O mundo precisa conhecer vocês. Basta uma interação.”

Uma narrativa oculta

E foi isso. Um detalhe: nenhuma resposta no grupo. Fui solenemente ignorado. 

Se fosse algum tempo atrás, eu estaria ansioso por comentários. Elogios. Preocupado se exagerei, se me expus demais.

E o que eu gostaria de falar hoje é justamente isso: o ato de você se expressar de verdade, sem esperar por reconhecimento e aprovação, é libertador. Talvez seja a característica elementar da arte – você se expressou não necessariamente porque quis, mas porque precisava. É por você, não pelos outros. Ou melhor: pode até ser para os outros, mas a gênese é íntima, pessoal.

Ademais, só eu sei de onde este texto veio. Ou melhor, eu não sei exatamente de onde ele veio. Mas o fato é que ele surgiu, quase psicografado. E então eu lembrei de uma definição que ouvi a respeito de “o que é arte”: é esse estado de espírito, na falta de termo melhor, em que você percebe o banal, o mundano, e traduz de uma forma que faça com que os outros, quem sabe, percebam também o que você viu. Mas para perceber, é preciso estar neste estado de espírito – e a arte em si é consequência, inevitável. O artista como um tradutor e amplificador do sublime imperceptível – mas que se fosse uma cobra, morderia. 

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Um filósofo eventual

Eu acordei inspirado. Numa frequência eventual que, quando acontece, tudo é sublime. Eu imagino como seria viver assim o tempo todo. Será que é impossível?