Tenho enviado e recebido vídeos de animais curiosamente e inusitadamente amigos. Um cachorro se torna amigo de um passarinho. Um gato de uma raposa. Um cachorro e uma girafa. Um gato e uma tartaruga. A amizade é o milagre, neste mundo onde, basicamente, um animal precisa ser morto, todo santo dia, para que o outro sobreviva.

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Em meio à fome e ao instinto de sobrevivência, de forma improvável, nasce a amizade. 

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A amizade humana deveria impressionar da mesma forma, talvez ainda mais. Eu sei que somos animais sociais e isso propicia a aproximação – a tribo está no nosso DNA. Mas mesmo assim, em meio à fome, ao instinto de sobrevivência e às ambições sociais, surge o amigo: dois estranhos, do nada, juntos. Como dizia Nelson, o grande milagre é o amigo. Nelson Rodrigues, nosso filósofo.

Pois num domingo à tarde recente fui ao aniversário de um amigo. Eram umas 10 pessoas, e eu só conhecia o aniversariante. Lá, observo e interajo com um grupo de amigos coeso. De forma natural, como bom animal social, em poucos minutos já faço parte do grupo. E da minha cadeira, mais uma vez, admiro o milagre da amizade.

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O potencial e o sonho

Mas vamos com calma: para que esse milagre aconteça, é preciso dedicação. Tolerância. E aqui começa o desafio – e por isso este texto.

No domingo que eu mencionei, eu já tinha várias desculpas para não ir. Mas eu me conheço e fui sem pensar muito, sem esperar pela vontade de ir. E por que a falta de vontade? Porque eu já vislumbrava o cenário: uma roda de pessoas jogando conversa fora. E eu, lá no meio, pensando nos meus projetos parados em casa.

Eis o meu conflito: ao mesmo tempo que eu calculo o tempo dedicado aos amigos, reconheço a importância, a necessidade. E na ausência, passo a admirar aquela roda de amigos inconsequentes. Indiferentes. Comendo, bebendo e rindo. E sorrindo. Em outro local e em outro tempo, são os mesmos amigos que eu comecei a evitar porque estava muito ocupado comigo mesmo.

Paro por aqui. Esse texto ficou na gaveta por semanas. Não tem o insight que eu busco. É truncado e o raciocínio não segue uma linha, apesar das inúmeras edições. Um texto inteiro analisando o custo e o benefício da amizade. Considerando meu domingo à tarde mais importante que o aniversário do amigo. Ou seja, um sinal de que eu preciso refletir (escrever) mais sobre isso. 

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A captura de insights

Por hora, sigo contemplando, à certa distância, o milagre do amigo.