Comparando empresas bem-sucedidas ao longo do tempo, Jim Collins e sua equipe de pesquisa identificaram que as companhias estudadas comparativamente tiveram o mesmo número de eventos bons e ruins. Ou melhor: todas tiveram mais ou menos a mesma dose de sorte e de azar. Estou simplificando os achados das pesquisas aqui, mas basicamente o que se percebe é que a sorte sozinha não é suficiente para fazer uma empresa ser bem-sucedida.

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Mas eles encontraram uma diferença importante. As empresas duradouras, as mais bem-sucedidas, aproveitam mais e melhor os seus momentos de sorte. Elas potencializam de alguma forma esses episódios aleatórios. Quando algo favorável acontece, elas recebem a benção já pensando em como ganhar ainda mais com a situação. Vamos imaginar essa mesma ideia na perspectiva do indivíduo.

Meditemos sobre a sua sorte. Você não teve a oportunidade de escolher a sua família, ou o ano e local onde nasceu e cresceu. Isso foi aleatório para você. Sua única alternativa foi (e é) jogar com as cartas que você tem. Jim Collins cita o exemplo de Bill Gates, de uma família de classe média alta, que teve a sorte de ter um computador à sua disposição na escola, nos anos 1970. Mas na mesma situação havia centenas, milhares de estudantes, nas mesmas condições sociais. Só que os outros não viraram noites estudando e programando de forma incansável, fanática. 

Hoje, neste exato momento da nossa história, temos a sorte de ter, basicamente, toda a informação necessária para criar e construir qualquer coisa. Estamos aproveitando essa sorte? Ou estamos justificando a inércia com alguma carta que nos falta? 

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Outro ponto: parece que a sorte nos acomoda. “Ganhei uma grana extra, inesperada! Falaram bem de mim! Uma nova lei vai me ajudar!”. Não sei se o leitor concorda, mas é como se pensássemos “chega de tanta sorte por hoje! Vou comemorar!”. Quando poderíamos estar pensando em como trabalhar em cima dessa sorte. Somos relativamente bons em resolver problemas, em lidar com o azar. Já a sorte parece não nos impulsionar tanto à ação.

Lembrei da frase do Imperador Marco Aurélio, que resume a filosofia do Estoicismo: “O que impede a ação também favorece a ação. E assim, o obstáculo se torna o caminho.” Sempre guardei esse recado como um lembrete para ignorar obstáculos – e em breve vou dedicar um texto à essa reflexão. Mas com essa perspectiva da sorte/azar, parece que precisamos do obstáculo (ou do azar) para agir. Um caminho sem obstáculos (sorte!), paradoxalmente, não parece impulsionar tanto a ação.

E justamente por isso, as empresas que destoam desse comportamento tão humano de, digamos, acomodar-se com os episódios de sorte, são mais bem-sucedidas do que as outras. E para o indivíduo também é uma boa estratégia já planejar o próximo passo assim que a sorte chega.

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