Eu escrevi dois livros, mas não me orgulho muito deles. Agora entendo aqueles escritores (e já peço perdão ao leitor pela petulância da comparação) que compram brigas feias para impedir que suas primeiras obras sejam publicadas.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

Na época em que lancei – um em 2017 e outro em 2018, com textos que vinham de anos ainda mais longínquos – eles eram o meu orgulho. Meus cartões de visita. Onde eu ia, levava um comigo, altaneiro, e autografava no capricho, com uma mensagem personalizada para o leitor em questão. O que me fez parar de distribuir os meus livros?

Aquele Lucas de 2017 não existe mais. Lembro de pouca coisa dele. Como dizia Nelson Rodrigues, o homem deveria nascer com 40 anos. Depois de velho ele começa a se parecer com o menino que era na tenra infância – e o que acontece no meio termo não importa muito. Afinal, “o menino é um sapo de saravá cravado no peito do homem”. Essa frase me desconcerta de tanta beleza.

Mas voltando: o que eu escrevi está impresso e intacto, revelando perspectivas, opiniões e pontos de vista que mudaram. Algumas coisas até que nem mudaram tanto no sentido da mensagem, do conteúdo. A forma é que não é mais minha.

Continua depois da publicidade

E o que me leva a escrever este texto é o aspecto que mais me incomoda nos meus livros: como eu era prescritivo! Como eu dizia ao leitor o que fazer! Distribuía conselhos como se estivesse numa montanha cercada por discípulos. Hoje eu faria diferente. Eu colocaria aquilo que eu quero dizer de uma forma mais sutil. Mais ponderada.

Veja mais colunas de Lucas Gnigler sobre Estratégia Pessoal

O leitor já ouviu dizer, e deve ter percebido, que o mundo muda muito rápido. Nós mudamos também, no mesmo ritmo (quando falo isso algumas pessoas me dizem que nem todo mundo muda. Pode ser). Logo, com o mundo e nós mesmos em constante mudança, qual é o sentido de tentar oferecer conselhos e respostas inseridas num intervalo de tempo?

As respostas mudam o tempo todo. Mas o que não muda tanto, são as perguntas.

Você vai mudar, e a resposta que parecia certa, vai mudar também. O mais longe e profundo que conseguimos chegar são as consequências das perguntas que fazemos, aos outros ou a nós mesmos. Quais são as suas prioridades? O que tira o seu sono? O que você faria se… não me importa a resposta, pois ela muda muito. O que importa é parar de falar por alguns instantes e refletir. É o auge de qualquer intervenção.

Deveríamos estar buscando mais perguntas – perguntas que, inclusive, não deixam você ser tão prescritivo como eu fui.

Continua depois da publicidade

Essa coluna vai virar um livro após eu escrever 40 textos – se é que o leitor ainda lembra o motivo de eu ter começado a escrever aqui. Preciso voltar a ter algo tangível que me represente: um novo livro que, quem sabe, eu também renegue em 4 ou 5 anos. Mas se isso acontecer, será por um novo motivo.

Você não precisa ter uma opinião

Os opostos não se atraem: procure os semelhantes