O título deste texto é meio sensacionalista. E para piorar, a resposta não traz nenhuma grande novidade. Eis o meu argumento: em momentos de crise, precisamos voltar ao básico. Fazer de novo o feijão com arroz, os primeiros passos, o nível elementar. Vou explicar, e tentar mostrar que essa volta ao básico pode ser a melhor estratégia num cenário adverso.
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Mas primeiro, vamos definir “crise”. A crise pode ter um fator externo ou interno. Em geral, alguma coisa aconteceu e resultou em uma crise. Ou seja: a crise pode ser externa ou interna, mas a consequência da crise é sempre interna. Sempre será a forma que ela afeta você.
Outro ponto: o fato em si pode depender da perspectiva para parecer ou ser considerado ou não uma crise. O que é uma crise para um é uma oportunidade para o outro, reza a lenda. E ademais, vale lembrar, você não controla os fatos externos que geram a crise. Mas na forma que eles afetam você (a crise propriamente dita) você pode exercer algum controle. Sobre isso que quero falar hoje.
Nos últimos dias, falei para alguns times comerciais sobre o tema. O que eu não falei, é que na verdade eu falava para mim mesmo. Quero dizer: eu falava sobre o que fazer em momentos de crise, num monólogo inconsciente durante a reunião online..
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Não sei se algum evento externo me afetou. Mas não importa – como eu dizia, a crise é interna. Percebi que estava mais reativo, com dificuldade de foco. Reclamando e me explicando demais – os sintomas mais evidentes, no meu caso, de um princípio de crise. Então eu voltei, e estou voltando, ao básico. Que no meu caso, está dividido em duas frentes.
Um estado de espírito propício
A primeira é a narrativa. Eu preciso lembrar a mim mesmo o porquê de eu estar fazendo o que eu estou fazendo. Por que todo santo dia. Para onde estou indo. Onde eu estava, e a evolução. Literalmente, preciso convencer a mim mesmo, com metáforas e comparações, que vale a pena continuar e acelerar.
Depois, os rituais. Aqui sim entram questões ainda mais básicas. Por exemplo, detalhar o que eu vou fazer na primeira meia hora do dia. Digamos: banho frio, respirar, alongar, café, anotar o que eu sonhei e as outras ideias da madrugada. É básico, mas é o que eu deixo de fazer na crise.
Muito se fala que na crise é o momento de fazer diferente. De ser criativo. Faz sentido: mas isso só acontece quando o feijão com arroz está bem contemplado. Só improvisa quem sabe tocar o instrumento. Ou seja: voltar ao básico é praticar os acordes, as escalas, como um iniciante. Atletas profissionais fazem algo semelhante: quando estão numa fase ruim, voltam a treinar os fundamentos dos juvenis.
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Da mesma forma, uma crise no trabalho exige o básico do trabalho. Listar o que precisa ser feito. Priorizar. Estabelecer prazos e próximos passos. E assim, fazendo o básico, o novo pode surgir. A prática do básico, do elementar, me parece o terreno fértil das novas ideias. Mas nem era isso o que eu mais queria dizer.
O que me parece que merece uma reflexão é a seguinte ideia: fazer o básico, num momento de crise, é fazer diferente. Pois na crise, o básico é deixado de lado. Isso soa tão óbvio, mas ao mesmo tempo tão essencial: você vai estar perdido, sem rumo quando a crise chegar. E não vai saber o que fazer. Então você vai voltar ao básico.
E não vai ser nada inédito ou original: vai ser apenas o que você não deveria ter deixado de fazer.