Eu fiz uma viagem de uma semana há alguns dias. Não eram férias, trabalhei de lá, remoto. Num país vizinho, do qual eu admiro alguns aspectos da cultura e do idioma.

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Na volta, duas pessoas, com as quais tenho certa proximidade, me perguntaram o seguinte: “Deu pra aproveitar lá? Foi divertido?” E eu fiquei indignado com essas perguntas. E explico ao leitor o motivo.

Os nossos diálogos têm sido muito rasos. São frases que perguntamos de modo automático, desinteressados, por educação. Ninguém está perguntando porque realmente quer saber. É um robô programado esse ser humano moderno que, como bom robô, não reflete sobre o que quis dizer com aquilo.

E tem algo pior: essas palavras vazias refletem, temo, nossa pobreza de espírito. A viagem, no caso, só foi boa se eu aproveitei e se me diverti. São as nossas métricas modernas: entretenimento constante para combater o que chamamos de tédio. O que mede a qualidade da viagem, nesse contexto, é a quantidade de diversão. Mas volto às palavras.

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O meu esforço atual é para não levar as palavras tão a sério. Pois é algo fora do meu controle: esperar que alguém, interessado, me faça uma boa pergunta. Eu fazer boas perguntas é algo que está no meu controle – e mesmo assim esqueço com frequência. Pois como todo mundo, estou com a cabeça em outro lugar, mais preocupado comigo e com as minhas coisas.

E aqui o título do meu texto se torna auto explicativo. Por que levar as palavras a sério, se quem fala nem pensa muito antes de falar? Por um lado é triste nossa superficialidade nas interações. Mas por outro, é libertador saber que o que ouvimos, em geral, foi impensado. Foi superficial. Então não deveria nos afetar.  

Uma das pessoas mais importantes para mim carrega há décadas palavras ditas que magoaram. Cicatrizaram. E eu tenho quase certeza que quem falou não quis ofender. Tenho quase certeza que foi reativo, impulsivo, da boca pra fora. Mas quem ouviu se deixou afetar para sempre. Eu não deixaria. Pois acredito (e isso é algo recente) que a mais cruel ofensa é sempre impensada. E ela também não é pessoal: reflete muito mais o coração e a mente agitada de quem fala.

Já que usamos tão mal as palavras, não deveríamos levá-las tão à sério. Ou melhor ainda, num cenário ideal (só ao final achei o resumo exato do que eu queria dizer): quando falamos, precisamos levar as palavras mais a sério. Quando escutamos, nem tanto.

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