Você já deve ter ouvido, e talvez repetido algumas vezes a frase que o gato falou para a Alice, lá no País das Maravilhas: “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.”
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A frase faz sentido. Se não fosse uma boa reflexão, não seria tão replicada. Mas é claro que eu não vou escrever um texto inteiro enaltecendo algo que já virou sabedoria popular. Ainda mais porque eu tenho aprendido, na prática, que não faz mal se você não sabe para onde ir.
E falo isso por um simples motivo. Qual é a sua reação quando você percebe que não tem um caminho, ou objetivos bem claros? Eu sei, porque já passei por isso: você se preocupa. Olha ao redor e parece ver pessoas com a vida orientada, trilhando um caminho bem desenhado. E você vagando, divagando sem rumo.
Um exemplo clássico é o vestibulando (eis uma palavra triste). Ele não sabe qual caminho seguir, e então escuta conselhos super bem intencionados das pessoas que mais o amam, mas que em geral não ajudam muito. O mundo mudou, mas gerações anteriores correm o risco de utilizar um modelo mental defasado para orientar seus pupilos (e a si mesmos) a enfrentar o mundo.
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Talvez eu esteja divagando, mas vou seguir só mais um parágrafo. Eu já ouvi um sogro criticar a nora por ela não ter escolhido carreira pública para “garantir o dela”. Eu já ouvi uma professora falar que o melhor caminho é estudar bastante para passar num concurso e ter uma aposentadoria. E eu já ouvi uma mãe resignada dizer que, pelo menos, o filho fez faculdade (hoje ele não encontra trabalho na área).
Outro problema, mais grave: escolher, aos 17 ou 18 anos, ainda sem saber quase nada sobre si mesmo, o que supostamente fazer para o resto da vida. Imagine o gato falando para este jovem atordoado com a realidade: “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”, num tom que indica o seguinte: “Meu jovem, você precisa saber para onde você quer ir!” Não há como saber.
Mas existe uma alternativa. Quando você não tem um objetivo, o objetivo pode ser descobrir qual é o seu objetivo. Esta é a palavra chave: descobrir. Não há resposta certa, não há conselho certo. O mundo é complexo e assustador para quem está chegando. Precisamos ser exploradores diante do que é novo – ou traçar um plano no escuro, com base em orientações pessoais e desatualizadas de quem já trilhou um caminho completamente diferente.
Mas essa exploração precisa ser estruturada. E aqui chegamos em outra palavra-chave. Em que lugar a busca acontece de forma estruturada? Em um laboratório. Essa é a postura de quem precisa testar e validar hipóteses. O caminho é resultado das descobertas – que na maioria das vezes são aleatórias, emergentes, inesperadas. Ao invés da paralisia de quem não sabe o que fazer, precisamos da atitude de quem quer descobrir o que funciona. E eventualmente descobrir que o segredo é gostar do que faz, e não querer fazer aquilo que gosta – ou que pensa que gosta, pois não passou pelo laboratório.
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Reli o texto até aqui e não gostei muito dele. Um aprendizado de vida como esse (“não faz mal se você não sabe onde quer chegar”) deveria ser escrito com mais classe. Mas volto à ideia, resignado com a minha própria limitação narrativa: da próxima vez que você não souber para onde ir, não tem problema. Siga em frente, explorando. Se perguntarem para onde você está indo, diga que você não sabe, mas que a sua estratégia é descobrir um caminho. Até porque, se você analisar em profundidade, nunca há um destino claro. O caminho de descoberta é tudo o que temos.
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