Há alguns anos (uns 15, talvez), havia anúncios na parte traseira das poltronas dos aviões. Você lembra disso? Uma capinha de tecido, dessas que ainda se encontram nos ônibus de turismo, trazia os anúncios. Imagino as agências vendendo aquele espaço, lembrando o anunciante que a audiência no avião é “qualificada”. Mas estou divagando.

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O que eu queria falar era sobre um anúncio específico que me marcou em algum voo antigo. Uma grande empresa de consultoria tinha um anúncio em forma de diálogo mais ou menos assim: “Sua empresa precisa de consultoria?” “Não.” “Mas você sabe o que uma consultoria faz?” “Também não”. Eu, na época, encantado com a sutileza da mensagem, também não sabia exatamente o que uma consultoria fazia.

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Resumindo uma história longa, após alguns anos virei consultor. E meio sem saber exatamente como proceder, fui orientar empresas. Eu ia e levava nas costas um peso grande: o do especialista, do perito, do dono da verdade. Eu assumia que o meu papel era falar para o empresário ou empreendedor o que ele precisava fazer para resolver seus problemas.

Dediquei o mestrado ao estudo do processo de consultoria. E conheci um autor referência, chamado Edgar Schein, que afirmava o seguinte: na dúvida, consultor, compartilhe o problema. Ou melhor: quando não souber o que fazer, consultor, seja honesto e converse com o seu cliente sobre isso.

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É um princípio claro e simples: quando você não sabe o que fazer, fale que não sabe. Relate a dúvida, o dilema, e ouça o que o seu interlocutor tem a dizer. O leitor pode imaginar o quanto essa ideia moldou minha forma de atuar (e minha forma de ser): passei a compartilhar dúvidas por aí – nas empresas e na vida.

Ter a coragem de admitir que não sabe é um dilema constante, diário. Ainda mais em uma cultura empresarial como a nossa, em que a recomendação oficial é: quando não souber o que responder, o mais importante é não gaguejar. Pode até ser uma forma de passar uma impressão de segurança e controle da situação. Mas é uma porta que se fecha para descobertas e decisões mais acertadas.

Este princípio também funciona, talvez com impactos ainda maiores, na esfera pessoal, individual. Um exemplo bem prático: você só está lendo esta coluna porque eu compartilhei um problema. Explico. Em um certo momento do ano passado, comecei a pensar no que fazer no meu aniversário, que em 2022 cai na quarta-feira de cinzas. E mais um detalhe: vou fazer 40 anos.

Meu aparentemente grande dilema: falar ou não falar sobre o meu aniversário e sobre minha nova idade? Quando você fizer 40, vai colocar uma velinha com um 4 e outra com um 0 espetadas no bolo? E você que já fez 40, divulgou ou omitiu os números? Continua omitindo, quando possível?

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Compartilhei essa situação com a minha irmã. Eu precisava de uma visão de quem se preocupa comigo. E aqui destaco uma característica que aprendi sobre o ato de compartilhar o problema. Você provavelmente não vai encontrar uma resposta imediata. Mas é a ação de abertura, de forma honesta e transparente (e vulnerável), que permite, através de debate e reflexão, chegar a uma decisão melhor.

Após falar com ela algumas vezes e imaginar possíveis cenários, aqui estou no NSC Total, com uma coluna onde vou explorar, ao longo do ano de 2022, uma vez por semana, 40 aprendizados. Ou melhor: 40 formas de lidar com a vida que teriam sido muito úteis aos 26 anos (2008 foi um ano ruim). Ou seja: resolvi fazer o oposto da minha reação inicial, instintiva, que era deixar a data passar despercebida em função de uma falsa vaidade. Compartilhei a situação, consegui enxergar o absurdo e decidi: vou falar para todo mundo.

Aprendizado 01: Quando em dúvida ou sem saber o que fazer, compartilhe o problema.

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