Há alguns dias eu escrevi no meu caderno de notas: “Bola ao centro. Colocar a mim mesmo na mesma página.” Eu olhei para essa frase estranha com certo orgulho autoral: um daqueles raros momentos em que eu escrevi exatamente o que eu queria dizer, mas que estava ainda sem forma ou sentido num nível inconsciente.

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Sim: nos últimos dias eu sinto como se precisasse de um alinhamento comigo mesmo. Se fosse explicar melhor, acho que é um acordo entre o Lucas estratégico, o mesmo que se atreve a escrever e falar sobre isso, e o Lucas que está no piloto automático, refém das urgências e das emoções.

Outro ponto que eu já identifiquei, de tanto ler e reler Nietzsche, é o idealismo que me puxa para um lado, enquanto o comodismo (disfarçado muitas vezes de aceitação) puxa para o outro. O meio do caminho é o notório caminho da mediocridade.

Um elemento central na estratégia pessoal que quero construir tem sido a busca pelo equilíbrio entre ambição e aceitação. Tem sido minha tarefa intelectual e prática mais complexa: conciliar os sonhos, que exigem ação e inconformismo, com uma postura de aceitação e contemplação diante do mundo, do cosmos, da realidade fantástica. Olho para o que acabei de escrever e o fantasma da mediocridade sorri no meu ombro.

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Eu sei que ler e reler Nietzsche pode ser perigoso, mas tem me ajudado, de certa forma, no combate ao idealismo. No perigo de renegar a nossa natureza em função de uma construção idealizada de ser humano. No entanto, esse Lucas idealizado do futuro é onde eu miro. E me causa grande desconforto quando não estou indo nessa direção.

Desconsidere o livre-arbítrio

Nesse sentido, estou tentando criar algo híbrido, mais meu, personalizado para o meu próprio viés. Um lugar onde a estratégia existe (com objetivos e metas e próximos passos), mas ela é mais focada no processo. Ela tem um destino, é idealista, mas ao mesmo tempo aceita que só existe o atual momento e que por isso o que importa é caprichar no processo. Cada semana importa. Construir o futuro, sonhando, vislumbrando, mas absurdamente focado no que importa hoje, amanhã. Fazendo o que nos parece mais apropriado, a cada momento.

Até porque o sonho só aumenta – e pior (ou melhor), muda ao longo do caminho. Muda em função das situações que não controlamos e das descobertas – o ponto fraco de toda estratégia, que eventualmente até inibe as oportunidades pois só olhamos para o norte. Estratégia é custo e o benefício de ser um cavalo com antolhos.

Ah, e as situações que não controlamos. Como as grandes perdas. Eis outro objetivo: a minha estratégia pessoal precisa de certa forma contemplar e até apreciar a inevitável tragédia (no sentido grego do termo). Tudo que acontece, em última análise, é sublime – apesar de poder ser, na nossa perspectiva, um desastre. Isso também é Nietzsche, e ainda está distante de acontecer. Mas o que importa por hora, enquanto se faz o dia e a semana, é ter o norte. 

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Em tempo: sinto, em alguns momentos, que eu já escrevi tudo o que eu precisava sobre “Estratégia Pessoal” – a linha tênue e às vezes forçada que orienta estes textos. Em outros momentos, parece que eu estou apenas começando, e que tudo o que escrevi até agora oscila entre ensaios e equívocos. Se eu tivesse que escolher? Que sejam equívocos. Pois vão virar mais ensaios, que sempre vão apontar para o mesmo norte.

Não tente ser o melhor