Eu acho que a vida deveria ser dia sim, dia não. Uma utopia mais ou menos assim:

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No “dia sim”, vamos ao campo, à luta. Fazer o que precisa ser feito, o que for mais apropriado em cada momento, experienciando o que acontecer. O “dia sim” é o dia de viver tudo que precisa ser vivido.

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O “dia não” é diferente: ele é reservado para a reflexão sobre o “dia sim”. Analisamos o que passou, como atuamos. E assim aprendemos: refletindo sobre como foi o dia das experiências. Erros e acertos que vão nos moldar – mas apenas se pararmos para prestar atenção no que vivenciamos.

E há uma forma de melhorar ainda mais o “dia não”. Podemos usá-lo também como preparação para o próximo “dia sim”. Qual vai ser a pauta, a abordagem, os objetivos?

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Minha utopia é improvável nesses moldes. Mas de certa forma ela não é apenas possível – é necessária. Afinal, sem preparação e reflexão, a vida realmente passa rápido. Uma vida muitas vezes absurdamente intensa, mas vazia de significados e aprendizados, pois não paramos para pensar e contemplar, nem antes, nem depois.

Precisamos criar intervalos na vida. Sem reflexão e preparação não temos tempo de aprender com os nossos erros. Mas o mais grave, creio, nem é essa questão do aprendizado. Na minha visão, o mais grave é estar no centro de um cosmos infinito, numa ficção científica ridiculamente improvável, e não dedicar nenhum tempo para contemplar tudo isso.

A reflexão de hoje acaba aqui. Se o leitor quiser prosseguir, segue o exemplo que inspirou esse texto.

Eu tive uma noite de sexta para sábado intensa.

Imagino o que passou na cabeça do leitor ao ler a frase anterior. E não é o que o leitor está pensando. Entre outras coisas, uma senhora justificava seu vício: meu irmão faleceu, disse ela, e foi o único jeito de eu voltar a dormir. E a sorrir. Para mim foi mais ou menos na forma e na sequência em que você, leitor, processou a primeira fase desse texto.

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Uma noite intensa, eu disse, mas não foi da forma que você pensou. Uma senhora usuária, mas não da forma que eu pensei assim que ela confessou o vício: o estereótipo logo cedeu espaço à compreensão e à compaixão.

Fui dormir e sonhei com um amigo que não está num bom momento. Estávamos na fila de um buffet e eu percebi que ela servia comida como uma criança, com as mãos. Na hora entendi que ele enlouquecia. Expliquei para as pessoas, enquanto tentava ajudar.

Eu tive uma noite de sexta para sábado intensa, pois foram fatos e sonhos e reflexões acumulados das últimas 24 horas. Mas outro dia começou, outras experiências vieram e essas que eu relatei se perderam. Afinal, todo dia é “dia sim”.

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