Minha mãe conta uma história que eu não lembro. Eu tinha uns 4 ou 5 anos, e chamei ela para contemplar o enorme desenho que eu fiz na parede da sala. Como brigar com uma criança que aguarda ansioso o elogio da plateia?
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Todo mundo falava que eu seria um bom desenhista. Mas chegou o dia, na adolescência, em que eu decidi que a escrita era mais nobre que o desenho. É mais fácil se expressar escrevendo, pensei – mesmo sem saber o que eu queria expressar. E assim migrei para o texto, e nunca mais desenhei.
Um fato curioso, no entanto: continuo usando as paredes. Hoje, preencho aos poucos uma das paredes da minha casa com trechos do realismo fantástico de Gabriel García Marquez.
A reflexão de hoje começa aqui: há alguns anos eu escrevi numa parede do meu quarto frases e ideias que me marcavam, numa pegada de desenvolvimento pessoal em que eu estava mergulhado. Lembro de uma das primeiras. Era um lembrete, mais ou menos assim: “Não está se sentindo bem? 1.Mude a sua fisiologia e/ou 2.Faça boa arte.”
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A primeira parte creio que seja Tony Robbins (eu até fui especialmente aos EUA, na época, participar de um seminário dele de 4 dias). A segunda parte eu peguei de uma fala do escritor Neil Gaiman. E é ela que motiva essa reflexão.
Estou escrevendo este texto num sábado à noite. Chove na ilha. Não me sinto mal, mas alguma coisa me incomoda. Então começo a ler Gabriel García Márquez: um pouco de Cem Anos de Solidão, um pouco de Do Amor e outros Demônios. Quem sabe é a vontade de preencher mais um espacinho da parede. E então escrevo sobre um sonho que tive. E vou indo, capturando ideias soltas, até que começo a escrever este texto.
Aprendi que a arte é importante, é essencial. Mas antes, você precisa entender e definir o que é arte para você.
Não vou entrar no mérito do que é ou não é arte, até porque eu não saberia dizer. O que eu percebo é que “arte” é um termo como “esporte”: da maratona ao xadrez, colocamos tudo no mesmo balaio. Logo, no campo das artes, temos quem faz miçanga e quem estrela filmes. Não parece ser a mesma coisa, mas na essência pode ser.
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Penso em arte (a minha) em dois sentidos. Um, como uma forma de se expressar naquilo que é meu dever. Algo inspirado na filosofia zen, de focar na prática, não importa qual seja o trabalho que precisa ser feito. Fazer o que é apropriado, a cada momento, quebrando a inércia e tentando mudar o fluxo natural das coisas, é uma forma de arte.
O segundo sentido é mais literal: arte, para mim, é escrever. Descobri que o meu local é a escrita. Minha arte é capturar uma ideia, uma perspectiva, um sentimento obscuro ou inacessível, uma história. Havendo leitores, excelente; mas o mais importante é interno, é a minha tentativa de chegar onde as palavras não chegam. Dar nome às coisas que esperam em algum lugar para serem reveladas. Nem sempre o resultado é bom, de qualidade. Mas não esqueça, leitor, da frase: Não está se sentindo bem? Recorra à sua arte.
Assim que você definir o que é arte para você, você vai poder usá-la nos momentos oportunos. A sua arte pode fazer parte da sua estratégia.