Acordo às três da manhã delirando. Mas o delírio, resquício de um sonho, logo vira inspiração – um recado da Musa insone. Eu hesito em anotar: se eu ligo a luz acordo de vez, se eu pegar o celular a luz da tela vai…Viro para o lado e durmo. E repito para mim mesmo enquanto as peças de um novo sonho começam a aparecer: eu não vou esquecer dessa ideia. Eu não vou esquecer dessa ideia. Eu não…

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O sol aparece pela fresta da cortina. Tento adivinhar a hora, e como sempre, erro por pouco. Faltam alguns minutos para o celular despertar. E então eu lembro que esqueci completamente a ideia da madrugada. Vou tentar lembrá-la em alguns momentos ao longo do dia, sem sucesso. 

Percebi há algum tempo que esse é um dos meus pontos fracos: eu ainda perco insights. Domino bem a agenda de tarefas e compromissos, raramente esqueço alguma coisa. Mas as ideias ainda me escapam. E eu sempre repito: nunca mais vou deixar de anotar. 

Mas problema maior do que não anotar, e anterior, é não ter ideias e insights para anotar. O óbvio precisa ser dito.

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Gostaria de dividir com o leitor uma coisa que percebi, e quem sabe alguém se identifique. Existe uma espécie de sintonia que às vezes eu alcanço. Um estado de espírito propício para enxergar as coisas de outra forma. Ou ainda, simplificando: tenho mais insights quando estou emotivo.

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Mas não é tão simples. As emoções parecem ativar essa frequência que eu comentei. Como se subisse uma antena da cabeça e captasse uma rádio cósmica que transmite ideais de forma frenética. Não dura muito tempo – até porque é preciso agarrar uma ideia e seguir com ela, conectando com algo que você já sabe (daqui em diante é mais trabalho braçal).

Então é isso: a emoção gera um estado de espírito em que os insights surgem com mais facilidade. Por quê? Porque as emoções, como sabemos, são as lentes com as quais vemos o mundo. A mesma cena, o mesmo fato, será algo diferente dependendo de como você está se sentindo.

Esse pode ser um ponto chave: em geral nossas emoções são provocadas pelo contexto. Por eventos que não controlamos. Acontece algo, ou não acontece, e isso molda nossa emoção – influenciando nossa capacidade de ver e capturar o insight. Acho que é possível, até certo ponto, escolher a lente com a qual vamos ver o mundo, provocando emoções em si mesmo (como a gratidão, a mais fácil de ser evocada).

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Um estado de espírito propício

As interações, boas e ruins, também provocam emoções (e por isso interajo, não tanto quanto deveria, creio). Eu também fico emotivo quando viajo. Por isso viajo. Quero dizer: até certo ponto, a emoção certa é responsabilidade sua.

E então, emocionado, tudo chama minha atenção: e o fato mais mundano pode se tornar objeto de contemplação, comparação, inspiração.

Releio o que escrevi até aqui, e desconfio que este tema não merecia um texto. Mas repenso: talvez eu pense que não mereça ser um texto porque ele não é fruto de um grande insight. Mas é, de toda forma, um relato da minha melhor forma de ter insights. Então vale como eventual orientação: primeiro, estar na emoção certa. Segundo, anotar tudo, sempre, para não passar pelo lamento de esquecer.

Orientação, claro, para mim mesmo, que sempre esqueço de buscar a emoção certa e anotar as suas belas consequências.

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