Com a experiência de pelo menos sete cargos de liderança em empresas e instituições, além de vivências memoráveis como corredor de maratonas internacionais, o empresário joinvilense Sérgio Rodrigues Alves, que se prepara para encerrar mandato na presidência da Federação das Associações Empresariais do Estado (Facisc), decidiu contar a trajetória em livro. O título “Maratona da Vida” é uma homenagem ao esporte que pratica.
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– Vou tentar inspirar as pessoas através de uma história muito bonita, que acho que construí ao longo da minha vida – afirma o empresário, que traz lições desde quando estudante de medicina, de peregrino no Caminho de Compostela e as experiências empresariais.
Além de presidente da Facisc, mandato que vai até dezembro, Alves foi presidente de três empresas familiares. Na área pública, foi secretário de Estado da Fazenda e presidente da Celesc. Casado com a empresária Margi Loyola, presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij) e pai de três filhos, ele divide o tempo entre o trabalho na Facisc, que inclui também a presidência do Instituto de Desenvolvimento Econômico Local (Idel) ligado à entidade, palestras empresariais e as maratonas. Começou a escrever o livro, ainda sem data para publicar, mas antecipa nesta entrevista um pouco do que virá na obra. Confira:
Em fase final do seu mandato à frente da Facisc, o sr. começou a escrever o livro chamado “Maratona da Vida”. O que vai contar nele?
– Vou tentar inspirar as pessoas através de uma história muito bonita, que acho que construí ao longo da minha vida. Sempre fui muito voltado à parte humana, sempre querendo ajudar as pessoas. Basicamente, essa inspiração se resume a dois pilares: primeiro que nós temos que ter na vida sempre muita coragem e muita determinação, e em segundo, também, muita disciplina para a gente chegar aonde quer chegar e conquistar aquilo que nós merecemos ter.
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Comecei minha vida profissional fazendo medicina, mas não conseguia conviver com o sofrimento das pessoas. Sempre tive um espírito empreendedor, por isso resolvi mudar de profissão e me sinto totalmente realizado. Há seis meses de encerrar o meu mandato como presidente da Facisc, confesso que gostaria de ter mais um ano ou mais dois anos porque gosto do que faço, sinto que consigo ajudar a contribuir e a fortalecer os associados.
Mas, por questões estatutárias isso não é possível. Espero ter deixado um bom legado e um bom desafio para todos que venham a me suceder. Quero continuar contribuindo, e vou contribuir, porque isso faz parte da nossa vida, isso faz parte da nossa história. E quando a gente faz com carinho, com vontade, é muito mais prazeroso. Três anos de gestão passam muito rápido, mas dá para deixar aí um histórico, um legado.
Qual é o maior legado que deixa na Facisc?
– Olha, tem vários. Primeiro que eu procurei fazer uma integração e levar a Facisc para as associações. Não as associações virem para a Facisc, mas ao contrário, a Federação ir até as associações. Para associações entenderem aquilo que nós poderíamos contribuir, ajudá-las a se fortalecer e a defender as bandeiras, representá-las, que é o grande propósito a que eu me dispus ao ser presidente da Facisc.
Por que a escolha do título do livro “Maratona da Vida”?
– Eu me considero um homem que teve muitas fases na vida, pelo menos é o que a minha família sempre diz. E uma delas foi ser corredor, foi ser maratonista. Eu comecei a correr para ajudar o meu filho, que estava em uma fase da adolescência em que podia, de repente, se encantar demais pela vida boêmia e isso não era salutar, principalmente porque era uma fase de formação.
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E isso foi muito importante, o ajudou e me ajudou muito. Começamos a correr juntos e, como resultado, ele hoje faz provas de Ironman, e eu continuo com as minhas maratonas, correndo provas no mundo inteiro. Isso mudou a minha vida, assim como mudou a vida dele também.
Como foi a experiência de fazer o Caminho de Compostela?
– Essa foi durante a minha fase de peregrino, de fazer viagens e aventuras. Tem uma fase na vida que a gente precisa fazer uma reciclagem daquilo que foi bom e daquilo que a gente quer que seja melhor para o futuro. Eu senti que era um momento de introspecção e vi no caminho de Santiago de Compostela uma oportunidade para fazer essas reflexões e pensar em tudo aquilo que é importante para nossa vida.
E a maior lição que eu levo dessa caminhada é ver que a felicidade está em nós mesmos, nas coisas que nós temos, e não naquelas que nós achamos que devemos ter. Nós temos muita coisa que não nos traz felicidade, e essa foi a grande lição que eu trouxe do Caminho.
Nessas maratonas em que participou, teve momentos curiosos, coisas que lhe chamaram a atenção?
– Muitas! Para cada corrida de maratona que eu fiz, eu tenho uma história. Eu corri na China no ano que aconteceram as Olimpíadas, e a chegada foi no Estádio Ninho do Pássaro, que ficou famoso. Eu fui o único brasileiro nessa maratona em Beijing, e foi muito curioso, porque é uma característica nossa ter muitos pêlos no corpo, diferentemente deles. Eles achavam o máximo e queriam bater fotos comigo, colocavam os filhos no meu colo e não queriam saber se eu estava correndo ou não.
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Teve outras, por exemplo, em 2012 teve a maratona comemorativa dos 100 anos das Olimpíadas de Estocolmo, e fizemos o mesmo percurso da época, passando pelo estacionamento das fábricas. Teve uma corrida no Havaí que saímos de madrugada, no escuro, e tínhamos que correr com uma lanterna na mão para ver o caminho.
Em Boston, eu participei daquela corrida fatídica de 2013, que teve a explosão de bombas na chegada. Felizmente, eu consegui passar com 10 minutos de antecedência. Mas eu vi todo aquele desespero em decorrência daquele trágico atentado.
O sr. fez cursos para ser conselheiro empresarial. Essa vai ser sua nova carreira?
– Depois de me aposentar como empresário, eu acho que cheguei num estágio de aprendizado de que eu teria que transferir esses conhecimentos para empresas e para quem quisesse escutar um pouco do que eu teria a ensinar. Então, resolvi fazer uma especialização em conselheiro independente. Hoje já tenho uma empresa onde eu presto esse serviço.
Também resolvi criar palestras com relação à sucessão familiar. Afinal, eu venho de uma empresa familiar de 116 anos, trabalhei nela durante 42 anos. Aprendi muito e vi que os problemas são sempre os mesmos, só mudam o endereço. E eu acho que eu tenho muito a contribuir com tudo aquilo que eu passei e aprendi.
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Que cargos de liderança, como executivo, o sr. já exerceu?
– Comecei como estagiário e acabei como presidente das empresas. Fui presidente da MCI, que sucedeu a Manchester Processamento de Dados, um bureau que prestou serviços (de tecnologia) para as maiores empresas de Santa Catarina. Fui presidente e diretor da Manchester Corretora (hoje Manchester Investimentos) e da Fiação São Bento.
Depois tive a minha participação pública como secretário de Fazenda do Estado (2007-2008), como presidente da Celesc (2009-2011) e agora, como presidente da Facisc, a Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina.
E também fui presidente da Acij (Associação Empresarial de Joinville), que me trouxe muita alegria e realização. Foi uma grande escola e agradeço muito a Acij pela visibilidade que me deu e as oportunidades que surgiram.
Fala um pouco mais sobre a experiência como estudante de medicina?
Era um grande desafio, na época, passar no vestibular. Felizmente, eu passei, mas como eu queria fazer uma especialização em neurocirurgia, fui atrás de onde existia a maior especialização nessa área. Era em Rosário, na Argentina. Fui para lá estudar medicina, e foi bem na época do golpe de estado (em 1976, que instaurou a ditadura militar até 1983).
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Fiquei um ano lá e voltei para o Brasil, inicialmente em Rio Grande (Universidade de Rio Grande, no RS), e depois me transferir para Curitiba. Mas não era o que estava no meu DNA. Eu padecia muito com o sofrimento dos outros e acabei indo para a área empresarial.
E a minha primeira experiência empresarial foi fazendo uma fábrica de sandálias, que na época era algo totalmente inédito. Depois fiz o curso de Administração de Empresas, me formei também em Direito e em Ciência da Computação, que era algo extremamente inovador para a época, em 1990. O Brasil estava inaugurando essa parte de informática, o surgimento da internet e tudo mais.
Onde ficava esse primeiro negócio de vocês, a fábrica de sandálias?
– No porão da casa dos meus pais, em Joinville. Eu tinha um amigo que gostava muito de fazer artesanato. Eu observei que as pessoas não tinham chinelo na época, não tinha havaianas como tem hoje. Nós resolvemos criar um chinelo de pneu, o pé ficava todo preto por causa do material. Mas foi uma experiência muito interessante.
Eu tinha 16 anos naquela época, mas chegou uma hora que eu tinha que tomar uma decisão e voltar a estudar. Isso foi antes de ir para a Argentina fazer medicina. Esse meu amigo era meio hippie, fazia artesanato e vendia na praia. A preocupação dos meus pais era que eu não estudasse mais e virasse hippie como ele (risos).
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