Neto do ex-governador Hercílio Luz e enteado do fundador da Sadia Atílio Fontana, o empresário Alfredo Felipe Luz Sobrinho, 75 anos, que faleceu nesta segunda-feira (17) em Florianópolis, foi um dos grandes articuladores da política empresarial no Brasil nos últimos 40 anos. Ele pensava o agronegócio para o mercado global. Uma das principais ações que liderou, quando secretário de Estado da Agricultura, foi para Santa Catarina obter o selo de área livre de aftosa sem vacinação junto à Organização Internacional de Saúde Animal (OEI).

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A chancela da entidade sediada na Itália veio em maio de 2007 e a expansão de vendas conquistada pelo Estado fala por si. Em 2006, antes do selo, Santa Catarina faturou US$ 184 milhões com exportações de carne suína e, em 2020, chegou a US$ 1,2 bilhão, cinco vezes mais.

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O desafio era mudar o critério da OIE, que só concedia o reconhecimento para países e não para estados. Felipe Luz sabia que o Brasil, por ser continental e ter a Amazônia, região que sempre teria bovinos sem vacinação, com risco de aftosa, jamais poderia conquistar o selo da OIE. Então, a sugestão dele à entidade foi a criação de um reconhecimento de estados como áreas livres de aftosa.

Os próximos passos foram a contratação de consultoria internacional e a criação, em 2006, do Instituto Catarinense de Sanidade Agropecuária (Icasa) numa parceria entre a Secretaria de Estado da Agricultura e o setor privado. O desafio era controlar a entrada de animais vivos – bovinos e equinos – de outros estados em SC para evitar aftosa já que o Estado não vacinava contra a doença desde 1993.

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Foram contratados mais de 100 médicos veterinários e o dobro de técnicos para ampliar a defesa sanitária, além da criação de vigilância nos acessos ao Estado. Depois disso, a OIE sentiu confiança e concedeu o selo que, ano passado, foi conquistado também pelo Rio Grande do Sul e agora é buscado pelo Paraná. Assim, o sonho de Felipe Luz de SC exportar carne suína para mercados que pagavam mais, como o Japão e Coreia do Sul, foi realizado a partir de 2013.

Outro tema que recebia grande atenção do empresário era a série de burocracias de cada mercado para exportação. Para isso, defendia a presença de adidos agrícolas nas embaixadas e contato permanente. Com muitas fontes, normalmente ele ficava sabendo antes do Ministério da Agricultura decisões sobre o fechamento ou abertura de mercado de importantes países importadores de carnes do Brasil.

– Eu tive uma aproximação maior com Felipe Luz quando ele foi secretário de Agricultura. Tínhamos um diálogo aberto, era simples e sempre trabalhou em defesa do produtor rural. O agronegócio deve muito a ele que, muitas vezes, trabalhava no anonimato mas trazia bons resultados – disse José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc).

Com interlocução junto a diversos políticos brasileiros, em especial de Luiz Henrique da Silveira, Felipe Luz tinha sempre uma sugestão para desafios econômicos. Por isso, além de secretário de Estado da Agricultura, ocupou as secretarias da Fazenda e Planejamento e a presidência da Celesc.

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No associativismo, presidiu por anos a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (Abipecs) que mais tarde se fundiu com a Associação Brasileira de Avicultura (Abef), criando a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

Felipe Luz também se destacou como acionista da Sadia e, depois, da BRF. Foi executivo da companhia durante boa parte da trajetória da empresa que foi a agroindústria número um do Brasil por décadas. Ele apoiou a ida de Abilio Diniz para presidir o conselho da companhia, já BRF, em abril de 2013, mas não poupou críticas à gestão que levou a empresa para prejuízo recorde em 2016 e 2017. Em 2018, defendeu a saída de Abilio, dizendo que ele “criou atrito” em todos lugares que passou. Assim era Felipe Luz, um empresário articulador que pensava globalmente e não poupava palavras quando necessário para defender os interesses do setor. Ele também sabia a importância da mídia para divulgar as notícias relevantes de economia.

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