O polo de vinhos finos de altitude da Serra catarinense não tinha o e-commerce como principal opção de vendas. Mas com o isolamento social para prevenção ao novo coronavírus e o ciclone bomba isso mudou. Cada vinícola tem uma situação peculiar e as vendas por canais digitais também apresentam resultados diversos. Uma das empresas revelou que suas vendas pela web quintuplicaram nos últimos meses.
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As vinícolas tiveram que melhorar seus sites ou reativar os que estavam inativos para oferecer os produtos online, informa o presidente da Vinhos de Altitude Produtores Associados, Eduardo Bassetti. Segundo ele, o setor perdeu a maior parte dos mercados de restaurantes e bares. Agora, as empresas usam canais online para fazer promoção e até eventos de degustação.
A pandemia também está motivando mais visitas de turistas de alta renda do Estado e do Brasil para São Joaquim, que sedia a maior parte das empresas, e em outros municípios onde há vinícolas. Em tempos normais, sem o problema sanitário, essas pessoas viajavam somente ao exterior. As visitas são previamente agendadas, limitadas a 50% da capacidade e com uso de máscaras.
A vinícola Villaggio Grando, de Água Doce, além das dificuldades da pandemia, teve sua unidade de recepção atingida pelo ciclone do dia 30 de junho. Por isso, está com vendas quase 100% online, incluindo promoções. A outra opção são os pedidos via telefone ou redes sociais. O fundador da empresa, Maurício Carlos Grando, comunicou os danos pelas redes sociais, agradeceu o apoio e informou que a unidade será reconstruída. A Villaggio Grando foi a mais atingida pelo ciclone. Nas demais, esse evento climático suspendeu apenas energia e internet temporariamente.
Vinícola tem receptivo destruído pelo ciclone
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Com reforço de uma empresa prestadora de serviços de venda online, a Villaggio Bassetti, de São Joaquim, conseguiu acelerar as vendas digitais pelo site. Antes da pandemia, elas representavam em torno de 10% do total. Com o isolamento social, passaram a responder por 50%, o que significa que quintuplicaram pelo online, informa a empresa. Entre as estratégias para atrair os consumidores estão ofertas nas datas comemorativas.
A Vinícola Suzin, de São Joaquim, viu as vendas gerais crescerem 40% no período de março a julho, fase do isolamento, frente aos mesmos meses do ano passado. O empresário Everson Suzin informa que ativou mais a loja virtual da vinícola, que respondia por 5% a 10% das vendas. Contudo, a maior parte dos pedidos está vindo mesmo por redes sociais e telefone porque a empresa conta com uma clientela fiel de quase 20 anos, observou ele.
– Nossa família trabalha com três produtos: vinho, maçã e batata. Durante a pandemia, as vendas de vinhos e maçãs foram melhores. Por isso conseguirmos manter nossas equipes. Ninguém foi demitido – explica Suzin, ao destacar que a venda direta de vinho ao consumidor permite melhor margem.
Uma das vinícolas que enfrentam maior impacto da pandemia é a Kranz, de Treze Tílias. Isso porque a maior parte das vendas dela eram para turistas que visitavam a cidade o ano todo para conhecer a cultura e arquitetura da colonização austríaca. Com o isolamento eles suspenderam as viagens. O empresário Walter Kranz informa que a vinícola foi reaberta há um mês, mas os turistas ainda não reapareceram. A empresa relançou a loja online, com mais ofertas. Um diferencial é série de produtos não alcoólicos como geleias e sucos naturais.
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Vinícola mais próxima do litoral catarinense, a Thera, de Bom Retiro, inovou com serviço de degustação virtual, guiado pela sommelière Joana Barros. A pessoa interessada em promover a degustação compra vinhos da empresa e convida amigos e familiares a fazerem o mesmo. Quando todos receberam os produtos, é combinado um horário, de segunda a sexta-feira. O programa de uma hora por plataforma online inclui a história da vinícola, degustação de produtos e informações sobre harmonização.
Consumo, qualidade e preço
O consumo de vinhos no Brasil é crescente este ano e as vendas de produtos nacionais avançam mais porque a alta do dólar deixou os importados mais caros. Segundo a Ideal Consulting, as vendas de vinhos cresceram 12% no país de janeiro a maio deste ano frente ao mesmo período de 2019, mas as do produto nacional avançaram 15% no período, informa reportagem do Estadão deste sábado. A maioria das vendas – 80% – é de garrafas que custam até R$ 70.
O preço dos vinhos finos de altitude de Santa Catarina sempre geram uma certa polêmica por serem mais caros do que a média dos importados. Isso ocorre mesmo agora que as empresas passaram a oferecer mais alternativas acessíveis. A explicação está no alto custo Brasil, elaboração reduzida e processo manual de seleção das uvas, excluindo as estragadas. Segundo a associação do setor, enquanto uma vinícola maior produz 20 toneladas de uvas por hectare, a vinícola boutique produz seis toneladas, mas a qualidade dos vinhos dessa última precisa ser evidente. Cada vez mais, os apreciadores de vinhos estão percebendo essas diferenças.