A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) trabalha com o objetivo de apoiar a tecnologia e a inovação não apenas nos grandes centros, mas em todas as regiões catarinenses. O presidente Fábio Zabot Holthausen informa que a fundação conta com mais recursos, este ano, para fazer esse trabalho. O orçamento subiu de R$ 25 milhões para R$ 52 milhões, mostrando a disposição do governo de Carlos Moisés apoiar mais o setor de tecnologia.

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Fundada em 1997, a Fapesc está em ritmo de comemoração dos 25 anos. Uma das ações será o lançamento de 25 livros sobre o ecossistema de inovação do Estado. Além disso, a fundação conta com diversos projetos em andamento e espera para breve o lançamento do Centelha II, que apoia a criação de empresas de tecnologia.

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Na gestão, Fábio Zabot dá atenção especial à regionalização das ações da instituição, incluindo mais editais para tecnologia e inovação. Com graduação e mestrado em Direito pela Unisul, ele foi professor da instituição e coordenador do Parque Científico e Tecnológico da Unisul (Uniparque). Antes de assumir a Fapesc, era gerente de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia da Agência de Inovação e Empreendedorismo da Unisul (Agetec). Confira a entrevista de Fábio Zabot a seguir.

Por que a decisão de lançar 25 livros nas comemorações dos 25 anos da Fapesc?

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Nessa jornada dos 25 anos, preparamos algumas ações de comemoração e algumas ações de reflexão, mas queremos também fazer algumas entregas. Aí surgiu a possibilidade de organizar estudos de alguns temas importantes para Santa Catarina, para que a gente possa presentear o ecossistema de tecnologia e inovação do Estado com ações do próprio ecossistema, considerando atores e programas. Decidimos subsidiar o estudo e fazer uma publicação, como um ebook. Mas aí como são 25 anos, optamos por elencar 25 temas. 

A ideia é que a gente viabilize os estudos e que isso se transforme em 25 livros para presentear o ecossistema. Entre os temas que serão abordados estão: ciência e inovação nas universidades comunitárias, contribuição dos bolsitas da Fapesc, importância da Acate e da Fundação Certi para o ecossistema. A lista inclui, também, inovação no setor público, universidades federais (UFSC e IFSCs), contribuições das incubadoras ao setor, os centros de inovação e outros assuntos.

Qual é a abrangência da atuação da fundação?

Do empreendedorismo inovador, até o programa de criação de startups, da pesquisa básica à pesquisa aplicada, do fomento de laboratórios até o fomento dos centros de inovação. Em todas essas áreas a Fapesc tem uma atuação. A gente procura olhar para todos os atores. Esse foi o desafio que o governador Carlos Moisés apresentou para mim. Na última entrevista que eu tive com ele antes de assumir, a primeira pergunta que me fez foi: por que não devo fechar a Fapesc? Concluí que seu eu não conseguisse responder essa pergunta, não teria vaga para mim. 

Falei da importância da Fapesc para a inovação de SC e que ela faz parte de uma rede nacional de fundações estaduais responsáveis pela execução da política de ciência, pesquisa e inovação. Consegui convencer o governador e hoje a Fapesc foi ampliada, está com mais recursos e mais projetos. Trabalhamos com a lógica de levar a tecnologia e a inovação para todos os recantos do Estado e para todos os atores de forma muito inclusiva. Todos os nossos programas escutam os atores: setor empresarial, governo e academia.

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Um dos problemas da fundação sempre foi a insuficiência de recursos para apoiar projetos. Como está atualmente?

Quando eu cheguei, percebi que era preciso ver a qualidade dos projetos, o que fazia mais sentido para desenvolver políticas públicas. Aí começamos a entender que não é só de recursos que o ecossistema precisa. Ele necessita também de conexões, desburocratização e a gente começou a trabalhar nisso.

O senhor pode citar um exemplo disso?

Um exemplo bem bacana é de uma empresária. Ela recebeu recurso nosso do edital da Covid. Nesse caso, ela apresentou um epitélio pulmonar em 3D para fazer testagem de medicamentos. A gente trabalhou com o case. A nossa área de comunicação divulgou o projeto na imprensa e nas nossas redes do governo. Um hospital de São Paulo viu, entrou em contato com ela e fizeram uma parceria. A empresária disse que isso foi melhor do que o dinheiro que ela ganhou para o projeto. Essa visibilidade permitiu o fechamento de um contrato com um grande player. Ao divulgar, a gente aproxima os atores. Outro exemplo aconteceu em 2019.

A Fapesc tem tradição em inovação e o programa Sinapse da Inovação foi importante. Lançado há 10 anos, ele criou mais de 500 empresas e tem duas características. Uma é que ele inspirou um programa nacional, o Centelha, hoje desenvolvido em quase todos os estados em parceria com a Finep. Outra característica é a projeção do setor. A Embaixada Britânica entrou em contato conosco para indicar algumas empresas que participaram do Sinapse e que tinham uma certa maturidade. A gente mapeou os empreendedores e cinco foram selecionados para ir a Londres apresentar seus produtos. A gente não colocou R$ 1 nessa ação.

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Como está o orçamento da Fapesc para 2021?

Quando se fala em dinheiro, neste ano a gente praticamente dobrou o orçamento com recursos do Estado. Tanto o governador Carlos Moisés, quanto o secretário Paulo Eli e a secretária adjunta Michele Roncalio têm dado um apoio muito significativo para nós. O orçamento da Fapesc passou de R$ 25 milhões para R$ 52 milhões em 2021. Isso é muito significativo. Embora a fundação, nos últimos anos, não esteja mais recebendo críticas por falta de recursos, agora ela pode dar mais suporte a programas porque tem mais verbas e, também está conseguindo ser mais assertivas na destinação das mesmas.

Qual é a importância do programa Nascer, desenvolvido pela fundação?

Quando lançamos o programa Centelha I, a gente fez com todos os centros de inovação do Estado, de 15 cidades. A brincadeira que a gente fez com eles foi a de que gostaríamos de ver qual é a cidade que teria mais projetos inscritos. Eles aceitaram o desafio. Recebemos 1.219 ideias, mas o nosso funil com a Finep para esse programa é grande, por isso íamos aprovar poucos projetos, apenas 28. Ficariam fora quase 1.200.

Só que esses projetos têm aprendizados. Aí decidimos pegar todo esse público que ficou de fora e trabalhar um programa para eles, ajudar a melhorar o plano de negócios. Aí surgiu o Nascer. Procuramos o Sebrae e desenvolvemos um modelo de pré-incubação, onde, por cinco meses, eles recebem capacitações, como mentorias, palestras, podem testar o modelo de negócio, contam com circuito de defesa do modelo de negócio, workshops e outros eventos. A nossa intenção é que esses empreendedores, quando vier o Centelha II, estejam melhores preparados para disputar os recursos.

Como será desenvolvido o programa este ano?

No ciclo passado, fizemos o programa Nascer em duas fases em 15 cidades cada. No ciclo atual, vamos fazer direto em 30 cidades. Serão as 15 cidades dos centros de inovação e outras 15 que serão selecionadas pelo Sebrae/SC. Nessas 30 cidades vamos selecionar de oito a 12 propostas e cada uma pode ter até cinco membros de equipe. Temos a expectativa de apoiar 360 propostas de novos negócios e até 1.800 empreendedores. Esse público, de alguma forma, está sendo contemplado pelo Nascer. 

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A gente está ajudando eles melhorarem as propostas. Nossa intenção não era criar CNPJ a partir do Nascer. Era capacitação. Na primeira edição, foram criados 88 CNPJs. Esse foi um resultado incrível. A própria pandemia ajudou. Vários negócios tinham solução para demandas da pandemia. Agora temos uma expectativa grande para novos negócios. Nesse projeto, não colocamos dinheiro, os empreendedores usam recursos próprios, diferente do Centelha, que tem apoio financeiro.

Quais são as expectativas para o Centelha II?

Estamos aguardando a Finep, para fazer um lançamento conjunto nacional. Nós já estamos prontos. Poderíamos ter lançado o Centelha no início do ano. Mas a Finep está aguardando para que outros estados também estejam preparados. Vamos apoiar 50 projetos e esperamos ter pelo menos 30 bolsas para estudantes. O programa oferece R$ 50 mil para montar o negócio e ainda um bolsista, um técnico, para ajudar. Normalmente, é um estudante de mestrado ou doutorado, que recebe uma bolsa de R$ 3 mil. É um apoio importante para se iniciar um negócio.

De que forma a Fapesc apoia pesquisa básica?

São projetos ligados a universidades. Tivemos duas estratégias principais. Uma foi durante a pandemia, embora não diretamente sobre pesquisa básica. Como a gente queria fazer o enfrentamento à pandemia com resultados mais rápidos, apoiamos pesquisas que nasceram básicas, mas que podiam oferecer um retorno mais rápido. Para pesquisa básica e aplicada de um modo geral, a gente lançou uma chamada específica, que é o Programa de Pesquisa Universal. A última chamada para esse programa no Estado foi em 2014. Após muitos anos, lançamos ano passado um edital de R$ 4 milhões e dezenas de projetos estão sendo contemplados. 

Esse edital foi o que mais recebeu inscrições para um programa da Fapesc. Foram mais de 1.200 inscritos. Muitos professores estavam sem aulas devido à pandemia, aí puderam dedicar mais tempo na elaboração de propostas. Abrimos somente para pesquisadores de Santa Catarina e a qualidade técnica foi muito boa. Todos os projetos aprovados tiveram nota 10. Entre as áreas contempladas estão engenharia, computação, medicina, farmácia bioquímica, educação, psicologia… Em todas as áreas.

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A Fapesc também participa de pesquisas voltadas ao SUS?

Além do Universal, a gente participa do Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (Ppsus). É uma iniciativa da Secretaria de Estado da Saúde, Fapesc, Ministério da Saúde e CNPq. No último edital oferecemos R$ 2,5 milhões. São recursos pra projetos que desenvolvem pesquisa básica, analisam problemas de saúde do SUS e propõem soluções. A gente está na fase de contratação. Um dos projetos propostos é para telemedicina. Temos hoje no Ppsus uma proposta de teleatendimento não só para análise de exames, mas também para fazer atendimento (consulta) a pacientes a distância.

Como é o programa para pesquisas nas universidades?

Eu considero esse o maior programa da Fapesc. O nosso público-alvo, por determinação legal, são as instituições públicas e privadas sem fins lucrativos (universidades federais, a Udesc e as universidades comunitárias). A gente não atua na parte de pesquisa com instituições privadas. Nesse projeto, para cada real investido pela Fapesc, a universidade entra com mais um real. Até hoje, alcançamos o valor de R$ 10,5 milhões nesses programas. Financiamos pesquisa básica e aplicada.

Quais alternativas as empresas têm para desenvolver pesquisa e inovação em parceria com a Fapesc?

Temos algumas possibilidades. Uma é o programa Centelha, para criação de novas empresas. Temos outro programa que é o Tecnova, em parceria com a Finep. No último edital, esse programa contou com R$ 7,5 milhões para 28 empresas. O limite para liberação a cada empresa chegou a R$ 300 mil. Esses projetos estão rodando. Essa parceria com a Finep é para empresas maduras, para a criação de inovação. Para esse último edital, a gente contemplou uma empresa de cada região do Estado, para dar esse caráter de regionalização. Em Lages, o projeto contemplado do centro de inovação Orion foi o de startup aberta por professora da Udesc local que pesquisa melhoria da imunidade de aves, favorecendo a avicultura.

O centro de inovação de Lages foi o primeiro a entrar em operação no Estado. No edital do Centelha, Lages ficou em segundo lugar na apresentação de projetos. O movimento do Orion foi o que permitiu esse avanço. Para inovar, a gente precisa de mais empreendedores para ter bons negócios. Estamos com nove centros de inovação no Estado. Ano passado foram inaugurados três e a ideia é que este ano a gente chegue a 12 e em 2022 a gente finaliza os outros três, somando 15.

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A Fapesc tem, também, um projeto para modernizar a sua sede, no Parque Alfa, em Florianópolis. Que mudanças serão feitas?

Como a Fapesc é uma fundação de pesquisa e inovação, gostaríamos que o nosso ambiente também fosse parecido com os de organizações desse setor. Elaboramos um projeto e vamos dar a entrada na licitação. A gente quer deixar os espaços de trabalho mais abertos para ter mais interatividade, conexão; usar um pouco mais de vidro para mostrar amplitude; ter também um espaço de descompressão para as pessoas poderem se encontrar. Além disso, vamos fazer um miniauditório para equipes da Fapesc realizarem trabalhos em conjunto.