O Natal tem a alegria da festa em família, mas segue com desafio para o empresário de Joinville Tirone Meier, 74 anos, que não só tem nome de ator, mas sua vida tem enredo para um filme. Quando ficou órfão, aos 12 anos, foi morar numa pensão e, na falta de família, se reunia na véspera de Natal, em praça, com conhecidos. Depois, estudou, formou família, trabalhou em grandes empresas e, nas últimas décadas, lidera negócio próprio, uma rede de loja de colchões, além de ter atuação forte no associativismo empresarial. Mais recentemente, o desafio dele no período de Natal tem sido cobrar reajuste da tabela do Simples que enfrenta desfasagem de 78,5% porque não é alterada há 10 anos.
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Decidido a ter uma pequena empresa para seguir ativo e com outra renda além da aposentadoria, Tirone Meier, a exemplo de milhares de outros empreendedores do Brasil – tem enfrentado dificuldade para manter a empresa dentro do limite da tabela do Simples. Quando chega o mês de dezembro e o horário do comércio é ampliado para a noite, a empresa dele, a Colchões Center, segue apenas com horário diurno para não vender até 25% a mais no mês e acabar saindo da tabela que permite tributação menor, de 11,6%, para uma maior, que supera 20%.
Presidente do conselho superior da Associação de Joinville e Região da Micro, Pequena e Média Empresa (Ajorpeme), membro do conselho superior da Associação Empresarial de Joinville (Acij), sócio e ex-conselheiro da CDL do município, Tirone Meier tem mobilizado entidades para pressionar a classe política visando reajustar a polêmica tabela.
No caso de impostos federais, o limite máximo para enquadramento no Simples é faturamento de até R$ 4,8 milhões por ano, mas para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o limite não foi reajustado, é de R$ 3,6 milhões/ano desde 2012. Também estão sem reajustes há 10 anos os limites para Microempreendedor Individual (MEI), de até R$ 81 mil por ano, e de microempresa, até R$ 360 mil anuais.
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Para o presidente do conselho e também ex-presidente da Ajorpeme, a expectativa é de que o governador Carlos Moisés atualize a tabela para o próximo ano. O pleito das pequenas empresas, considerando os projetos que estão tramitando no Congresso Nacional, é que seja um limite superior ao do governo federal ou, pelo menos, o que foi adotado pela União nos últimos anos.
Nascido em Joinville, Tirone Meier tem empreendedorismo no DNA. A mãe, Frida Meier, era proprietária da bombonière do Cine Palácio onde ele, aos seis anos, começou a ajudar na venda de balas e outras guloseimas. Foi vendo filmes por lá que ela passou a admirar o ator Tyrone Power e deu nome ao filho. O pai faleceu quando ele tinha três anos e a mãe, quando tinha 12. A convivência permitiu que ele conseguisse o primeiro emprego como projetista de filmes no Cine Palácio.
Mas como planejava ter a própria empresa no futuro, ele seguiu estudando e trabalhando. Cursou administração de empresas na Univille e trabalhou por 30 anos em grandes indústrias da época como a Móveis Cimo, Companhia Antarctica e a Tigre.
– Como é difícil criar uma empresa, meu sonho era começar com um negócio pequeno e ficar dentro de um limite que permitisse uma vida confortável. Isso depende muito da filosofia de vida de cada um. Tem gente que almeja algo muito acima da média, mas não era o meu caso – conta o empresário que fundou em 1987 a rede de lojas de colchões após se aposentar como executivo.
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Ele afirma que anos depois a rede foi ampliada porque, além da esposa Malve Meier, que já trabalhava com ele, os dois filhos do casal, Anderson e Alessandro, também decidiram atuar no comércio da família. Seguindo a lógica dos que querem continuar no Simples, eles abriram mais duas empresas no segmento, a Premier Colchões e a Meier Colchões, totalizando sete lojas e 16 empregos diretos. Além das vendas nas unidades sediadas em Joinville e Jaraguá do Sul, atuam com e-commerce na Região Sul e São Paulo.

– As famílias são obrigadas a abrir várias empresas para evitar o pagamento de uma carga tributária muito pesada, que pode prejudicar o negócio todo. Não é todo mundo que vai num crescimento forte e firme com uma empresa. É perigoso! Muitas vezes o gestor está acostumado numa linha de despesa e, se ficar muito elevada, dependendo do fluxo, não consegue passar tudo para o produto porque o mercado é muito competitivo – alerta ele.
A demora do setor público em reajustar a tabela do Simples é recorrente e preocupante no Brasil. Tirone Meier questiona se um funcionário público do setor de fiscalização, por exemplo, ficaria 10 anos sem reajuste salarial. Observa que, agora, os servidores da Receita Federal ameaçam fazer greve por falta de reposição da inflação.
Segundo ele, boa parte das empresas sente essa falta de reajuste do Simples há mais de cinco anos. Em 2020 e neste ano o setor cobrou menos o reajuste em função da pandemia, mas, agora, acredita que essa defasagem precisa de correção. Para Tirone Meier, o reajuste anual permitiria mais tranquilidade a quem, como ele, deseja ter pequena empresa para seguir com vida tranquila, mas com renda suficiente para atuar no associativismo, poder ajudar parentes doentes, colaborar com entidades sociais e fazer ações a favor de animais abandonados, prioridades que estão na agenda dele.
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O empresário conta que pretende trabalhar e participar do associativismo até que a saúde permitir. Afirma que gosta muito de trabalhar e de participar de entidades empresariais porque consistem em constante fonte de aprendizado.
Quando presidiu a Ajorpeme, entidade que ajudou a fortalecer, também promoveu missões no exterior para que os empresários da região de Joinville pudessem conhecer modelos de gestão em outros países. Atento a todos os detalhes do negócio que lidera e de problemas semelhantes de colegas empresários, é sempre o primeiro alertar sobre a falta de atualização do Simples. Para ele, é um problema que inibe o crescimento econômico e a geração de empregos.
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