Caso as pequenas e microempresas de Santa Catarina conseguissem avançar em produtividade, ou seja, produzir com mais eficiência, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado daria um salto de crescimento. Por isso, apesar dos problemas pontuais como o das chuvas e crises econômicas, a melhoria da produtividade deveria ser agenda prioritária para a micro e pequena empresa, alerta o diretor superintendente do Sebrae SC, Carlos Henrique Ramos Fonseca.
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Em entrevista para a coluna, ele destaca exemplos, como um programa do Sebrae desenvolvido junto a pequenas empresas, que melhora em 40% os resultados. Outro desenvolvido pelo Senai com indústrias melhora em 42%.
– Então, se a micro e pequena empresa em Santa Catarina representa 42% do PIB, imagina se você dobrar a produtividade dessas empresas, tem crescimento direto do PIB – destaca ele.
Atualmente, em função das chuvas, a instituição está oferecendo consultoria de graça para os negócios afetados. Isso inclui micro e pequenas empresas, microempreendedores individuais (MEIs) e também empresas rurais. O objetivo é auxiliar no planejamento e busca de crédito para retomar atividades.
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Por meio do Sebrae Nacional, a instituição vai oferecer fundo de aval para operações de crédito a empresas que tiveram perdas com as chuvas. Além disso, o Sebrae conta com uma série de consultorias e serviços, gratuitos ou não, para pequenas empresas melhorarem seus desempenhos.
Empreendedores interessados podem acessar o site, baixar o aplicativo e buscar apoio nas salas de empreendedor ou unidades do Sebrae em todo o Estado. Saiba mais sobre produtividade e programas do Sebrae na entrevista de Carlos Henrique Fonseca, a seguir:
O que mais preocupa a pequena empresa na conjuntura atual?
– A falta de previsibilidade, as incertezas no mercado interno, as incertezas no exterior. É a taxa de juro alta, inflação no mundo e crises também que não se sabe que desdobramentos terão. Num cenário econômico sem previsibilidade, o empresário do pequeno negócio fica com medo de investir. As taxas de juros estão altas.
Santa Catarina, além dessas dificuldades, enfrenta o desafio da enchente. Como o Sebrae está ajudando essas empresas?
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– Muitas pequenas empresas foram atingidas (Pesquisa do Sebrae apurou que 390 mil pequenos negócios foram prejudicados). Além disso, levantamento da Epagri apontou que 46 mil propriedades rurais foram afetadas.
O Sebrae está oferecendo algumas horas de consultoria gratuita para ajudar a reerguer essas empresas e também colaborar para que elas consigam ter acesso a crédito. O momento é de reconstrução, de buscar recursos. O Sebrae Nacional vai fornecer fundo de aval para a realização de empréstimos a empresas atingidas pelas chuvas.
Temos também muitas propriedades rurais afetadas ainda. Elas perderam a safra. Tem que ter recursos pelo Pronaf para ajudar, se não elas não terão como sobreviver. Isso é um desafio enorme, tentar recuperar empresas urbanas e rurais atingidas pelas chuvas.
Quais são as prioridades do trabalho do Sebrae SC?
– Nós trabalhamos com dois pilares: melhorar o ambiente de negócios e fomentar o desenvolvimento do território; e apoiar o crescimento e desenvolvimento das micro e pequenas empresas com melhoria da produtividade.
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Temos, como visão de futuro do Sebrae, reduzir as desigualdades em Santa Catarina através do empreendedorismo. O cliente, que são as empresas, têm que estar no centro do nosso trabalho e também de todas as entidades que atuam com empresas. Isso porque o nosso cliente é o mesmo da Fiesc, o mesmo da Fecomércio, da Faesc e da Facisc. A micro e pequena indústria é cliente do Sebrae.
Nós precisamos ser um provedor de solução, ou seja, nós temos que entender a necessidade do cliente e todo mundo que orbita em volta desse cliente tem como objetivo ajudar. Cada um faz a sua parte.
A Federação das Indústria, através das suas entidades, faz a sua parte. Nós fazemos a nossa, as associações comerciais empresariais fazem a sua, ou seja, todo mundo apoiando o desenvolvimento do pequeno negócio. Precisamos fortalecer as parcerias de todas as entidades e stakeholders que atendem a pequena empresa, incluindo entidades e governos.
Como é o atendimento do Sebrae ao setor rural em Santa Catarina?
– Temos em Santa Catarina 280 mil propriedades rurais. Nossa estrutura fundiária é de minifúndios e a gente trabalha com apoio e desenvolvimento desses minifúndios. Nós tivemos, no passado, problema até de evasão das propriedades rurais. O jovem ia estudar fora e depois não queria voltar para sua propriedade rural. O que o Sebrae está fazendo: levando nossos instrumentos de gestão para apoiar o desenvolvimento, a melhoria da produtividade.
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Temos o programa Encadeamento Produtivo, que desenvolvemos com a Aurora Alimentos e com outras empresas e seus integrados. A gente ajuda na melhoria da produtividade das pequenas propriedades, para que melhorem o faturamento, ou seja, esse programa resgata esse jovem e mostra para ele que ele tem uma empresa rural.
Ajudamos para que ele encare a propriedade rural como um negócio, que busque maior produtividade, diversifique a produção e tire a sua renda da propriedade rural. Nessa linha, a pequena propriedade é cliente do Sebrae.
O programa de Encadeamento Produtivo (que integra grandes empresas com seus fornecedores) traz resultados excelentes. Na Aurora, por exemplo, foi alcançado índice de produtividade superior a 30% nas pequenas propriedades.
Quando a gente coloca que o setor rural foi muito prejudicado com as chuvas, um dos segmentos é o de hortifruti. Tem que fazer novo plantio para voltar a vender.
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Se for um produtor de milho ou trigo, o agricultor também teve perda de renda. Geralmente, o pequeno produtor tem acesso a recursos do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Se tem financiamento bancário, deve procurar postergar o pagamento para a próxima safra.
Por que a melhoria da produtividade é essencial para os pequenos negócios?
– Nós temos instrumentos para melhorar a produtividade. Mas hoje nós temos problema muito sério de produtividde na micro e pequena empresa brasileira. A microempresa em relação à grande empresa no Brasil produz em torno de 10%, ou seja, a microempresa tem 10% da produtividade de uma grande empresa. E a pequena empresa tem 27% da produtividade da grande.
É natural que a micro e pequena empresa produza menos que a grande empresa. Tem problemas de escala, de capacidade de contratar e pagar por melhores profissionais, não tem acesso ao crédito em condições tão favoráveis como uma grande empresa, então, é natural que ela não consiga investir em inovação como uma grande empresa e é natural que ela produza menos.
Mas não pode ser um hiato tão grande. Se pegarmos hoje a microempresa nesse patamar de produção e nós temos programas de melhorias como o Brasil Mais Produtivo, que melhora 40%, o Agiliza do Senai, que melhora 42%. Temos vários produtos com os quais a gente consegue, atuando na micro e pequena empresa, melhoria de produtividade e de faturamento. Então, se a micro e pequena empresa de Santa Catarina representa 42% do PIB do Estado, imagina se você dobrar a produtividade dessas empresas, tem crescimento direto no PIB.
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No ano passado, por exemplo, somente 25% das micro e pequenas empresas conseguiram acessar crédito. Se ela consegue resultado melhor na última linha, ela consegue acessar mais crédito. Se acessa crédito, pode investir em inovação e melhorar a produtividade. Cria um ciclo virtuoso.
Mas se a empresa não tem crédito, não tem capacidade de investimento, ela acaba não investindo o que deveria na melhoria dos seus processos, na inovação contínua, o que afeta a produtividade. Então, a produtividade, no final, impacta em todos os setores.
A produtividade também ajudaria pequenas empresas a exportar mais?
– Hoje, as micro e pequenas empresas respondem por menos de 1% do volume de exportações do Brasil. É 0,6% do total. Em SC, chega a 1,1%, é o dobro, mas ainda é insignificante. Ou seja, um grande desafio é a pequena empresa acessar o mercado internacional. Se é mais produtiva, consegue ser mais competitiva e consegue acessar mercados externos.
Por que a contratação de trabalhadores qualificados também é desafio?
– Nós temos um problema sério de mão de obra qualificada em Santa Catarina. Todos os setores precisam de mão de obra qualificada e você tem uma taxa de desemprego 3,5% no Estado. Isso é pleno emprego, ou seja, quem é qualificado está empregado. E oito em cada 10 empregos gerados do ano passado foram contratados pela micro e pequena empresa em Santa Catarina.
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Então, se eu melhoro a produtividade eu faço mais com o mesmo. Consigo também diminuir a pressão na necessidade de contratar mão de obra qualificada e consigo pagar melhores salários. É um ciclo virtuoso. Então, a agenda da produtividade tem que ser a número um para crescimento econômico e melhoria da renda.
Se bem que a renda em Santa Catarina teve um destaque de crescimento pela grande taxa de ocupação e melhoria salarial no setor de serviços, que foi o que mais cresceu em SC, com o impacto do consumo das famílias.
Historicamente, no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBCR-SC), que é uma prévia do PIB, SC sempre esteve acima do Brasil. Agora, este ano, até agosto, o Brasil ficou em 3,1% e SC 2,3% porque a agricultura cresceu 19% no Brasil. Então, o impacto no país é maior do que em SC porque nossa economia é mais indústria e serviços e pequena propriedade rural.

Essa avaliação de produtividade de pequenas empresas foi feita por que instituição?
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– É da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Mas, obviamente, tem que levar um pouco em consideração porque os portes das empresas europeias são diferentes portes das nossas. Mas, mesmo que se considere que a microempresa de lá é do porte da nossa média empresa, a nossa média ainda está muito abaixo da microempresa europeia.
Então o que é fato é que precisamos muito melhorar a produtividade porque a nossa classificação de micro e pequena empresa é diferente. Temos duas no Brasil, por faturamento ou por número de empregados. Nós, do Sebrae, trabalhamos com faturamento que é a da Receita Federal e está congelada em teto de R$ 4,8 milhões há nove anos.
Existe uma proposta no Congresso Nacional para elevar para R$ 9,6 milhões e um gatilho que reajusta pela inflação. Imagina a defasagem dos valores atuais!
Como é para o Sebrae SC atender um estado com economia tão diversificada?
– Santa Catarina tem a vantagem que é a economia mais diversificada do Brasil, bem distribuída territorialmente. O nosso grande desafio é através do Encadeamento Produtivo com empresas líderes fazer com que a pequena empresa melhore sua produtividade para melhorar a produtividade da grande empresa também.
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Isso porque, cada vez mais, as empresas de grande porte precisam ingressar na cadeia global de valor e elas não vão ingressar sozinhas, devem ser acompanhadas de toda a sua cadeia de valor. Então, estamos cada vez mais atuando com grandes empresas por meio do programa Encadeamento Produtivo. Isso melhora a produtividade da grande empresa e também da pequena.
A grande empresa consegue implantar programas que exigem dos seus fornecedores mais produtividade. Isso ajuda o pequeno porque esse, muitas vezes, ele tem que fazer tudo na sua empresa. É o profissional financeiro, administrador, comercial etc…
A crescente abertura de empresas em SC também eleva a demanda por serviços de vocês…
– No ano passado (2022) foram criadas 204 mil novas empresas em Santa Catarina. Neste ano, até o terceiro trimestre, o saldo é de 163 mil novas empresas. Então, nós temos um desafio enorme porque são novos clientes entrantes que nós precisamos estar atendendo.
Nós já estamos com 1,169 milhão de empresas em Santa Catarina, sem incluir as propriedades rurais. Então é um crescimento dinâmico de mais de 100 mil empresas todo ano. Imagina o desafio! E temos mais um grande desafio que é o crescente número de autônomos.
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Eu estava vendo os números. Temos, no Estado, quase 1 milhão de trabalhadores autônomos e 623 mil Microempreendedores Individuais (MEIs). Então, mais de 500 mil MEIs que poderiam ser criados porque todo o autônomo deveria abrir um MEI para ser formal, ter acesso à Previdência.
Como as micro e pequenas empresas e MEIs podem acessar os serviços do Sebrae SC?
– Hoje, todo empreendedor tem um celular. Ele pode baixar nosso aplicativo, pagar suas guias pelo aplicativo e receber pílulas de conhecimento. Esse aplicativo proporciona não só uma ferramenta para o MEI gerenciar o seu negócio, mas também para gente se relacionar com ele. Esse aplicativo é uma estratégia para ampliar o nosso relacionamento com o empreendedor.
Por meio de pesquisas rápidas podemos identificar suas necessidades. Por exemplo, se o empresário tem necessidade de planejamento financeiro, estratégias de vendas, o Sebrae pode mandar cursos rápidos sobre essas áreas para esses empreendedores.
Além disso, hoje a gente trabalha com parceiros nas salas do Empreendedor. Nós estamos com o programa Cidade Empreendedora, do Sebrae SC, em 150 municípios. São os principais municípios do Estado, onde reside 70% da população catarinense. Então a ideia é, através dessas salas de empreendedor, atender quase todas as dificuldades de quem empreende.
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O Sebrae SC também tem 15 pontos de atendimento no Estado, sendo oito agências e sete escritórios. Mas, por meio das parcerias com as salas do empreendedor e outras, esperamos atender todo o Estado. Temos agências em Florianópolis, Itajaí, Blumenau, Joinville, Lages, Joaçaba e Chapecó. Temos escritórios em Tubarão, Tijucas, Brusque, São Bento do Sul, Jaraguá do Sul, Caçador e São Miguel do Oeste.
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