Menos de duas semanas após a posse, o presidente Donald Trump cumpriu promessa e anunciou tarifaço de 25% para importações do México e Canadá, e de 10% para as da China, a partir desta terça-feira. As medidas abalam governos e o setor privado dos países afetados diretamente e causam apreensão nos demais, que temem guerra comercial que leve à redução do crescimento mundial. O Brasil ainda não foi incluído e essas restrições podem gerar algumas oportunidades para empresas de SC no mercado americano.
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É grande a expectativa para ver os decretos que serão publicados nesta segunda-feira (3) para regulamentar as tarifas, observa a presidente da Câmara de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Maria Teresa Bustamante. A expectativa é que eles não tragam exceções, mas só o que já foi divulgado.
Isso significa que todas as importações de produtos e serviços desses países serão taxadas, desde o abacate e o tomate, até autopeças e serviços de tecnologia, alerta ela.
Gradualmente, esses preços entrarão nos custos de produtos e serviços americanos e vão gerar inflação aos consumidores. Para conter a alta de preços, o banco central americano, o Fed, deverá elevar os juros básicos. Isso atrai capital do mundo todo aos EUA, eleva a cotação do dólar nos demais países e causa inflação nesses mercados. O Brasil é um dos que sofrem com isso.
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Inicialmente, o Brasil não está entre os países taxados pelo governo Trump. Isso pode gerar algumas vantagens para empresas de Santa Catarina e também do país no mercado americano.
– Do ponto de vista de Santa Catarina, é uma oportunidade que empresas do estado têm de identificar nichos para aumentar exportações, preencher espaços que vão ficando de fornecedores de outros países. Mas não é fácil abrir mercado, exige conhecimento e disposição para investir – enfatiza Maitê Bustamante.
Na avaliação dela, essas tarifas podem gerar dificuldades comerciais e redução do crescimento econômico global, afetando a maioria dos países. Contudo, ela acredita que podem acontecer negociações para reduzir os impactos.
Enquanto o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, revidou também com tarifas de 25% a produtos americanos e a China recorreu à Organização Mundial de Comércio, a presidente do México, Cláudia Scheinbaum prometeu medidas tarifárias e não tarifárias, mas disse que gostaria de negociar com o governo Trump.
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Para a presidente da Câmara da Fiesc, algumas instituições do próprio governo americano podem tomar a iniciativa de negociar medidas para reduzir as mudanças propostas. É que ao adotar essas tarifas, o governo dos Estados Unidos está desrespeitando regras do acordo comercial dos países da América do Norte, o USMCA, e também da Organização Mundial do Comércio (OMC). Empresários americanos também poderão entrar na Justiça para fazer cumprir os contratos.
Chama a atenção as razões apontadas pelo presidente americano para iniciar essa taxação. Quer afetar países que não ajudam devidamente a controlar a entrada de imigrantes e de drogas nos Estados Unidos, em especial o fentanil, que está causando o maior número de morte por overdose no país. Mas essas infrações deveriam ser contidas com controles em fronteiras, policiamento e medidas na área da saúde, e não com barreiras comerciais.
Outra motivação apontada para elevar os impostos é trazer indústrias de volta ao país. Para Maitê Bustamante, taxar não é a solução para reindustrializar.
– Para industrializar, é preciso elaborar políticas públicas com estudos sobre setores que precisam de investimentos, desenvolvimento tecnológico e oferecer financiamento. Não adianta elevar tarifas de importações ou reduzir tarifas internas – avalia ela.
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Para se ter ideia, esses três países que vão enfrentar tarifas são os maiores fornecedores aos Estados Unidos. Juntos, respondem por quase US$ 1,5 trilhão, cerca da metade das importações americanas. O Brasil exportou ano passado aos EUA US$ 40,3 bilhões e, desse total, US$ 1,7 bilhão foram de Santa Catarina, que no país o maior faturamento com exportações.
Desde que foram anunciadas, as medidas recebem críticas de praticamente todos os lados. A princípio, sinalizam uma mudança sem precedentes no comércio global, afetando inclusive empresas de amigos do presidente Trump. Um bom sinal é que algumas autoridades acreditam que podem haver negociações para reduzir impactos negativos.
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