Em um ano, no Brasil, as mulheres dedicam mais de mil horas em tarefas domésticas não remuneradas, segundo pesquisa da ONG Think Olga. Seja no cuidado com as atividades de casa ou junto a familiares, a responsabilidade que recai sobre as mulheres e beneficia toda a sociedade ainda é pouco valorizada.

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Mas, cuidar é uma responsabilidade e uma competência feminina ou simplesmente humana? Em mais um “Dia Internacional da Mulher”, a celebração dá espaço a essa reflexão urgente e duas startups de Santa Catarina ajudam a ilustrar o problema.

A startup Nonno conecta famílias a cuidadores selecionados desde 2019. Atua em mais de 25 municípios catarinenses, além dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, e tem em sua base mais de 900 cuidadores.

Segundo a coordenadora de recrutamento, Gabriela Alban, 90% desses profissionais são mulheres e 70% dos contratantes são mulheres também. Isso significa que elas estão responsáveis pelo maior desafio nessa área.  

– Contratar um serviço de cuidadores ainda é um tabu. Sabemos que de acordo com a Fiocruz são as mulheres da família que cuidam dos mais velhos em 92% dos casos. Essas mulheres, muitas vezes, acabam renunciando a seus objetivos pessoas e profissionais –  destaca Gabriela.

Quem cuida de quem cuida?

O cenário vivenciado pela startup Nonno não é isolado. Segundo a Cuida-Covi: Pesquisa Nacional sobre as condições de trabalho e saúde das pessoas cuidadoras de idosos na pandemia (Fiocruz), 62% das cuidadoras familiares têm ensino superior completo e deixam de trabalhar com as suas áreas para cuidar de familiares acamados.

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Para Gabriela, o desafio está não só em tornar acessível um serviço de cuidador profissional, mas principalmente, mudar a mentalidade das famílias que não só por razões econômicas, mas também patriarcais acabam “escolhendo” a mulher para assumir a função do cuidado.

Gabriela Alban, diz que 90% dos cuidadores da Nonno são mulheres (Foto: Nonno, Divulgação)

– A rotina é muito puxada, inclui banho, alimentação, administração de medicamentos, entretenimento, limpeza, entre outras atividades. Não à toa, sabe-se que esse contexto leva, geralmente, à exaustão e ao adoecimento psíquico e físico das mulheres –  alerta a recrutadora.

Desafio de cuidar da casa é semelhante

O gênero feminino ainda é imperativo também nos cuidados com a casa. Fundada em 2020, em Florianópolis (SC), para garantir fonte de renda a pessoas que haviam perdido seus empregos na pandemia, a AHOY! permite a contratação de serviços de limpeza por meio de um aplicativo.

No “uber de diaristas”, das 140 cadastradas e com perfil ativo na plataforma para prestar o serviço de faxina, 95% são mulheres. A cofundadora e diretora de operações da startup, Manoela Lira Reis, garante que das cerca de mil cadastradas no total, a proporcionalidade é igual.

As tarefas não remuneradas tomam, em média, 21 horas por semana das mulheres brasileiras. De acordo com a pesquisa divulgada em 2023 pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), caso fosse contabilizado, esse trabalho teria acrescentado 13% ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, nos últimos 20 anos.

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Os dados mostram que essa concentração dos serviços de cuidar nas mãos das mulheres afeta o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja limita a geração de riqueza no país. Boa parte das cuidadoras domésticas com curso superior poderia trabalhar fora e pessoas especializadas em cuidados poderiam substituí-las com remuneração. Em 2022, segundo o IBGE, 2,5 milhões de mulheres não puderam trabalhar fora porque precisaram ficar em casa fazendo trabalho doméstico.

– As diaristas da AHOY! são, na maioria, mulheres solteiras ou as principais provedoras da casa, pois o marido está desempregado. Sendo assim, a faxina é o sustento da casa e da família, mas segue sendo um serviço apenas feminino – alerta Manoela Reis.

Segundo ela, cerca de 60% das pessoas que contratam esse serviço para casas também são mulheres, segundo dados da plataforma. Isso mostra que a gestão da organização da casa também é predominantemente feminina.

*Colaborou a jornalista Larissa Cabral

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