Entre as tecnologias aceleradas pela pandemia está a digitalização dos serviços de saúde. Um exemplo é a startup Portal Telemedicina, de Florianópolis, que triplicou faturamento durante esse período no Brasil e avançou no exterior. A informação é do cofundador e CEO da empresa, Rafael Figueroa. Segundo ele, o número de colaboradores da startup subiu de 30 para 100 e o de médicos prestadores de serviços pela plataforma superou 3 mil. Os serviços já alcançam 390 cidades brasileiras e, também, a Angola, na África.

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O êxito da Portal Telemedicina está no uso de tecnologias como inteligência artificial e internet das coisas (IoT) para conectar pessoas e equipamentos, o que permite diagnósticos e tratamentos com mais rapidez e preço menor, independentemente das distâncias. Um dos resultados que chamam a atenção para o impacto positivo da digitalização adotada pela empresa é a redução de 41% no número de óbitos por problemas cardíacos e queda de 30% nos custos do serviço público de saúde (SUS) do município de Tarumã, no interior de São Paulo.

A eficiência resultou na inclusão da Portal pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das 10 empresas para acelerar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis 2030. Além disso, o CEO Rafael Figueroa, economista graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em design thinking pela Berkeley University, é reconhecido pelo Google como uma das 40 autoridades do mundo em Machine Learning (aprendizado automático de máquinas).

Fundada em 2013, a Portal Telemedicina atua em três verticais: acesso a teleconsultas e serviços hospitalares, saúde cooperativa e atendimento ao SUS. Um dos maiores diferenciais da startup é a oferta de plataforma com tecnologia única que integra diretamente equipamentos médicos, inclusive aparelhos offline por meio da internet das coisas para o compartilhamento de informações. Isso evita erros de digitação de informações e permite diagnósticos com mais rapidez.

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– Existem várias tecnologias modernosas, inteligência artificial e tal, mas se eu for escolher uma, que é o nosso diferencial, é essa integração. Nós desenvolvermos uma ferramenta de integração completamente agnóstica, no sentido de que não importa a marca, o modelo, o aparelho, se ele tem cinco ou 10 anos, não importa a interface, o protocolo, a gente tem que criar um esqueleto de integração que consiga inserir dados de qualquer prontuário e harmonizar esses dados. Então esse foi o nosso trabalho dos últimos cinco anos, montando essa ferramenta que em uma clínica eu instalei em um dia; em um município numa semana; e em uma rede igual a Amil, muito grande, em três semanas, mais ou menos. Com essa tecnologia, a gente consegue montar um banco de dados sem trocar os sistemas. A gente mostra ao paciente onde está o histórico dele e pergunta se quer integrar em um só arquivo. Queremos ser um facilitador, empoderar, e não substituir o que já existe – explica Figueroa.

A primeira vertical, de oferta de telemedicina assistencial, inclui teleconsultas, serviços de clínicas, hospitais e laboratórios e o serviço da plataforma que permite compartilhar informações para o atendimento a distância. A segunda vertical, sobre saúde cooperativa, consiste na instalação de enfermarias em empresas, onde uma enfermeira atende colaboradores e, conforme as demandas de saúde, ela acessa médicos a distância transmitindo as informações.

A terceira vertical é o SUS. A Portal atende o Estado de São Paulo, com a integração de várias bases de dados, suporte a médicos de postos de saúde e análises de exames por inteligência artificial. Os exames são encaminhados para robôs que fazem a primeira triagem, ao detectar doenças como Covid, câncer, pneumonia e outras. Depois o médico faz uma nova análise e encaminha para atendimento conforme as urgências.

Um exemplo disso é o de Tarumã, município paulista com mais de 15 mil habitantes epoucos médicos especialistas, onde o serviço do SUS depende muito da rede básica de saúde. O uso da inteligência artificial pelo setor de enfermagem e integração com médicos especialistas a distância permitiu reduzir em 41% o número de óbitos por problemas cardíacos. Além disso, o custo dos serviços de saúde por habitante foi reduzido em 30%. O período considerado foi de 24 meses. Segundo Rafael Figueroa, a inteligência artificial ajudou a identificar casos de cardiopatias mais graves pelo eletrocardiograma. Esses pacientes foram atendidos antes e tiveram melhor recuperação.

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Questionado sobre quais são os principais desafios para o avanço da telemedicina, o empresário disse que, por parte dos médicos, é a adoção de ferramentas e se capacitarem para essa forma mais inovadora de atender. Do lado do paciente, o maior obstáculo é de um grupo de pacientes, principalmente da terceira idade, que tem dificuldades para usar smartphone. Para superar um pouco isso, a Portal montou um 0800 para a pessoa ligar e falar com a enfermeira no telefone, que auxilia para baixar o aplicativo. Mesmo assim, existem dificuldades e a empresa busca outras soluções.

Para Rafael Figueroa, outro obstáculo ao avanço da telemedicina o Brasil é a legislação, que precisa ser aprimorada. Na opinião dele, uma das mudanças deveria focar maior rapidez para o setor público contratar soluções tecnológicas e outra teria que facilitar o compartilhamento de dados de pacientes, o que envolve a Lei Geral de Proteção de Dados. Pela lei atual, se o paciente está desacordado, outra pessoa não pode autorizar o compartilhamento de dados dele, o que poderia acelerar o tratamento e a cura do mesmo.

A Portal Telemedicina tem matriz em São Paulo. Também tinha filiais em Alphaville (SP) e Florianópolis, mas a unidade catarinense foi fechada com a pandemia porque a equipe, maioria da área de desenvolvimento de sistemas, passou a atuar em home office. Em SC, por enquanto, a Portal Telemedicina conta somente com clientes do setor privado de saúde.