Desde segunda-feira, milhares de brasileiros estão se cadastrando no novo sistema de pagamentos instantâneos Pix, lançado pelo Banco Central do Brasil (BCB) para entrar em vigor em meados de novembro. Em três dias, 16,6 milhões de pessoas já tinham se cadastrado no sistema para obter as suas chaves. O mercado financeiro vê essa iniciativa do BC como o passo para criar o real digital a partir de 2022, seguindo tendência dos bancos centrais do mundo de lançar as CBDCs, moedas digitais emitidas por autoridades monetárias.

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Saiba como funciona o Pix

Entre as vantagens apontadas pelo Banco Central estão a possibilidade de fazer pagamentos diversos e transferências de recursos 24 horas por dia, sete dias da semana. Essas transferências digitais devem melhorar a competitividade e a eficiência do mercado, reduzir custos, aumentar a segurança e promover a inclusão digital de mais pessoas. Será possível pagar contas, salários, substituir os TEDs e DOCs, boletos, cartões e reduzir a circulação de papel moeda.

As autoridades monetárias veem também, com o sistema digital, mais condições para controlar a circulação de dinheiro ilícito e de inibir essas práticas. No Brasil, se estima que a corrupção leva, por ano, uma média de 8% do Produto Interno Bruto (PIB). Contudo, analistas financeiros consideram também riscos com moedas digitais de governos, como o maior poder da autoridade monetária de impor decisões financeiras e a dificuldade para o cliente bancário fugir, eventualmente, do juro negativo. Quando isso ocorre, hoje, a pessoa tem condições de levar dinheiro, colocar num cofre ou no tradicional “colchão”.

O grande interesse das pessoas e empresas pelo Pix ocorre, principalmente, porque ele vai trazer praticidade e redução de custos. O diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Florianópolis, Lidomar Bison, que além de lojista atua no desenvolvimento de tecnologias, é um dos mais otimistas com a novidade. Ele acredita que a adesão do comércio será grande pela segurança e custos menores. O Pix, por exemplo, poderá suspender boleto bancário.

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– Hoje, o boleto bancário tem um custo que varia a partir de R$ 1,50, R$ 2, R$ 5 ou até mais, dependendo da frequência, da negociação como banco. E é extremamente lento. Se eu recebo hoje, só vou creditar esse pagamento e liberar a mercadoria no dia seguinte. Além disso, o uso do próprio cartão de débito, que tem custo elevado, também poderá ser substituído. As tarifas de cartão de débito vão de 0,8% a 2% do valor da transação. Parece pouco, mas se eu faço uma venda de R$ 1.000 com tarifa de 1,5%, pagarei R$ 15 para a administradora do cartão sendo que não há nenhum risco envolvido – explica Bison.

Essa tendência de CBDCs (moedas digitais de países) começou na China, que já fez experiências regionais no ano passado. O mundo das criptomoedas, onde se destaca a Bitcoin, está com grande expectativa com a novidade em função de algumas semelhanças com o segmento, que usa a tecnologia Blockchain. Mas o Banco Central explica que o Pix não funciona por Blockchain, mas por uma tecnologia própria. É uma estrutura centralizada na qual a comunicação entre os participantes e o Banco Central ocorre por meio de “mensageria”.

Os três primeiros dias de adesão das pessoas ao cadastro do Pix e a inscrição de quase mil instituições financeiras e empresas sinaliza que a novidade terá êxito no Brasil, abrindo caminho para a moeda digital e redução dos pesados custos bancários. Como tudo poderá ser feito pelo celular, é possível prever que haverá uma acelerada inclusão digital, mesmo entre as pessoas de menor renda.