A multinacional EDP Energias do Brasil, maior acionista da Celesc, informa que pode vender a participação que tem na estatal de Santa Catarina caso esta não seja privatizada. Foi isso que sinalizou o CEO da companhia, João Marques da Cruz, em entrevista para a coluna nesta segunda-feira, após a inauguração do Lote 21, um linhão de R$ 1,3 bilhão e 435 quilômetros construído pelo consórcio Aliança, no qual a EDP investiu 90% e a Celesc 10%.
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– O Brasil acolhe bem o investimento estrangeiro, o nosso investimento. Especificamente em relação a Santa Catarina, temos que analisar – e vamos fazer isso nos próximos meses -, se, de fato, o Estado deseja que haja empresas privadas atuando nesse setor ou não. É tudo legítimo. Se disser não, é legítimo, se disser sim, é legítimo. Nós respeitamos a decisão do Estado e, depois, atuaremos em conformidade – afirmou Marques da Cruz.
Segundo ele, a EDP Brasil é uma empresa 100% privada, controlada pelo Grupo EDP, que também é 100% privado. O grupo acha que o funcionamento do mundo é melhor com empresas privadas. Então, caso Santa Catarina não tenha plano de privatizar 100% a Celesc, a EDP vai analisar todos os cenários e decidir se continua ou não como acionista.
Atenta ao desempenho da economia catarinense acima da média nacional, a multinacional portuguesa decidiu comprar em 2018 a participação acionária que pertencia ao fundo de pensão Previ e mais ações. Chegou a 29,29% do capital total, mais do que o governo de SC, que tem 20,20% do total. Contudo, o Estado controla a companhia porque detém o controle acionário, com 50,18% das ações ordinárias, que dão direito a voto.
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Desde aquela época, a empresa portuguesa pressiona pela privatização da Celesc. Isso vem sendo feito mais abertamente pelo atual CEO, Marques da Cruz. No ano passado, ele cobrou a privatização quando esteve na Fiesc e, também, na inauguração da primeira etapa desse linhão de R$ 1,3 bilhão, ambas as vezes em meados do ano.
– Na prática, nas relações entre empresas privadas e órgãos do governo, o que conta são as obrigações contratuais. Não há obrigação contratual do Estado privatizar a Celesc. Somos favoráveis à privatização, mas respeitamos a legitimidade do governo em não privatizar – comentou o CEO da multinacional.
Questionado sobre vantagens que a população catarinense teria com a privatização da Celesc, o executivo afirmou que seria a mesma vantagem que o povo da Coreia do Norte teria se a economia do país fosse privatizada. Segundo ele, o mundo escolheu um modelo de funcionamento da economia em que as empresas são privadas e a regulação é feita pelo setor público. Foi isso que o Brasil escolheu também, o que não é o caso de países como a Coreia do Norte, Venezuela e Cuba.
A EDP não tem novos projetos de investimentos em SC além da Celesc, mas, no Brasil, está investindo este ano perto de R$ 8 bilhões, informou Marques da Cruz. Entre os projetos estão R$ 1,2 bilhão em distribuição, R$ 2 bilhões em três usinas solares, R$ 2 bilhões em empresa de transmissão e vai participar de leilão de transmissão em junho.
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E qual seria o impacto da venda da participação da EDP na Celesc? Fonte do mercado ouvida pela coluna avalia que não aconteceria uma desvalorização das ações porque outros grupos teriam interesse em adquirir. Isso porque a Celesc é uma empresa que atende um mercado que tem consumido mais energia a cada ano e tem ativos de qualidade.
A propósito, anos atrás, o bilionário Lirio Parisotto, que detinha 9,54% da companhia por meio do fundo Geração L.Par dizia que sairia da empresa, mas continua com essa participação de capital até hoje.
A campanha para a eleição ao governo do Estado e ao parlamento já está em andamento, mas nenhum candidato, ainda, apresentou proposta para privatização da Celesc. Tudo indica que ninguém apresentará essa proposta porque a avaliação é que esse tema mais tira do que atrai votos em SC.
Mas a citação da Coreia do Norte pelo CEO da EDP mostra um tom crítico sobre a escolha de SC num país que optou pela privatização de serviços. Isso porque a imagem noturna das duas Coreias feita pela Nasa (veja abaixo), que mostra o consumo de energia e o consequente bem-estar para a população é um clássico exemplo do êxito da economia de mercado. Enquanto a Coreia do Sul aparece iluminada, a Coreia do Norte desaparece. Quanto maior consumo de energia per capita, melhor a distribuição de renda.
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