O avanço da ciência e modelos adotados em alguns países mostram que a atenção primária à saúde, com prevenção, é a melhor estratégia para não adoecer e, consequentemente, ter menos custos na área. Em evento em Florianópolis que debateu o desafio da gestão de saúde nas organizações, na última semana, a empresária Irene Minikovski Hahn, presidente da Qualirede, empresa líder em gestão de planos de sáude no Brasil, apresentou informações e alertas relevantes sobre o setor.
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O mesmo fez Rodrigo Aguiar, diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde (ANS) no painel que foi mediado pelo presidente da Associação Catarinense de Medicina, Ademar de Oliveira Paes Junior, e teve também a participação de Rosangela Catunda, diretora geral da empresa A4 Quality Services.
– Se todo mundo começasse a ter hábitos saudáveis, nós teríamos uma mudança que traria uma quebradeira de serviços de saúde no Brasil. Isso porque os serviços de saúde no país vivem de doentes – afirmou Irene Hahn.
Entre os desafios do Brasil, segundo ela, estão o fato de que mais de 40% da população tem alguma doença crônica; o número de pessoas com mais de 60 anos vai triplicar até 2030 e o Brasil apresenta alto índice de incidência de eventos adversos em pacientes em UTI (139 por mil enquanto na França são 25,6 por mil).
De acordo com o diretor da ANS, Rodrigo Aguiar, o crescimento exponencial dos custos dos serviços de saúde consistem em grande obstáculo.
– As pessoas estão com dificuldades para se manterem na saúde suplementar. Tivemos uma perda de vidas muito grande nos últimos anos. De 2014 para cá mais de 3 milhões de pessoas saíram do sistema suplementar – afirmou Aguiar.
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Em função disso, a ANS começou a lançar iniciativas que visam boas práticas, especialmente voltadas à assistência primária à saúde para que seja possível atingir melhores resultados com custos menores. Conforme Aguiar, esse é o projeto mais estruturante da agência em nível nacional.
– É difícil engajar as pessoas. É uma questão de cultura. Temos que fazer o engajamento, as pessoas têm que se sentir acolhidas – disse o diretor da ANS.
Atenção Primária
Confiante de que a prevenção é o melhor caminho, a Qualirede já abriu sete clínicas de Atenção Primária de Saúde (APS) e pretende ampliar esse número. A empresa tem conseguido uma redução de 27% no custo final dos serviços de saúde a pessoas atendidas nessas clínicas. A cidade de Florianópolis conta com unidades APS.
– Os países que melhoraram a eficiência, a qualidade da assistência com racionalização de recursos, utilizam atenção primária à saúde. Ponto! – enfatizou ela.
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Um exemplo é o Reino Unido, que tem a melhor atenção primária do mundo e o menor gasto de assistência à saúde.
Além disso, a empresária avalia que os serviços de saúde suplementar precisam de mais mudanças. Uma das alterações deve ser a migração do modelo pago por produção para o modelo de pagamento por ciclo e pelo resultado.
Desperdício de R$ 60 bilhões
Com base em estatísticas do Cadastro Nacional de Estabelecimentos em Saúde (CNES), Agência Nacional de Saúde e Conselho Federal de Medicina, a empresária informou que a saúde privada no Brasil conta com mais de R$ 200 bilhões por ano em recursos, atende a um público de 47 milhões de pessoas (cerca de 25% da população), 67,5% são de empresas, acontecem 83% de sinistralidades e há desperdício da ordem de R$ 60 bilhões.
Esses desperdícios incluem problemas como pagamento por volume de atendimento sem medir resultados.
Ocorrem gastos desnecessários pela falta de segurança ao paciente; paciente errado, cirurgia errada, infecções hospitalares etc…; e qualidade da assistência inadequada: câncer de mama em estágio avançado em função da falta de exames preventivos em dia.
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A lista de desperdícios citada por Irene Hahn inclui ainda uso inadequado de estruturas hospitalares (58% dos hospitais têm menos de 50 leitos e 80% têm menos de 100 leitos); custos administrativos com burocracia, falta de qualificação e desconfiança entre todos os atores; e corretoras e administradoras com maiores lucros e custo zero.