Empresário que lidera a gestora Bossanova, maior investidora em startups da América Latina, João Kepler afirma que Santa Catarina é um celeiro de oportunidades para investimentos nessa área. Ele fez palestra sábado (27), no Empreende Brazil Conference, quando falou sobre a importância de o empresário ver oportunidades futuras de negócios que resolvem problemas.   

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O CEO da Bossanova destacou que ela já investiu em mais de 1.800 negócios e a meta é chegar a 5.000. Nesta entrevista para a coluna, ele fala sobre o perfil das empresas que podem receber esses investimentos, diz que a crise que afetou o setor de tecnologia foi boa para separar o “joio do trigo” de investimentos no setor e que a reforma tributária preocupa, mas o setor é essencial para a economia e, se surgirem dificuldades, “fará do limão uma limonada”. Leia a seguir:

Qual foi a mensagem que você passou para o público do Empreende Brazil?

Falei não só sobre empreendedorismo, mas sobre uma visão e uma consciência de negócio diferente. Consciência de negócio não é olhar para onde está todo mundo olhando, e sim enxergar o que ninguém tá vendo. É você subir esse nível de consciência empresarial implantando outros conceitos que, geralmente, o empresário normal não pensa. Mas não é por maldade, é porque não tem oportunidade de estar sentado aqui.

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Por exemplo, o empresário quer o quê? Ele quer ter lucro, prestar sempre um bom serviço, ter a fidelidade do cliente, o colaborador feliz, pedir preço de produto. É isso o que o empresário normal deseja. Enquanto o novo empresário, o novo empreendedor, se ele subir nesse nível de consciência empresarial, tudo isso vira consequência. Ele faz o dinheiro trabalhar por ele, e não ele trabalhar pelo dinheiro.

Quando você muda essa chave mental você entende o que precisa ser feito, que é criar camada de serviço, para que isso se torne automático e esse dinheiro volte para você, e não que você fique louco pelo dinheiro. Então, por exemplo, você trabalha uma meia hora, você tem x horas por dia para trabalhar. Você ganha aquelas horas, você trabalha por isso, você trabalha pelo dinheiro.

Mas aí, não João, mas eu tenho um pouco de paixão pelo que eu faço. Beleza, mas que tal você ter essa limitação de hora, que tal você viver do seu propósito que tal você impactar vidas e o dinheiro voltar para você. Foi sobre isso que eu falei aqui na Empreende Brasil.

Em quantas startups vocês já investiram no Brasil?

– Mais de 1.800 startups. E a nossa meta é chegar a 5 mil.

E qual é o perfil desses investimentos, o que vocês priorizam?

– Eu priorizo negócios que estão no começo, que têm um pequeno faturamento de R$ 30 mil a R$ 50 mil por mês. Eu priorizo o time, a mentalidade dos empreendedores e negócios que resolvam problemas.

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Quanto a Bossanova já investiu?

– Mais de R$ 500 milhões, dinheiro nosso, da empresa, e também de investidores amigos.

Santa Catarina tem boas oportunidades para investimentos em startups?

– Santa Catarina é um celeiro de oportunidades. Aqui, os empreendedores

são muito qualificados e preparados. Aqui tem um ambiente propício para empreender e é muito bom fazer negócio com as startups da região. A gente sempre tem bons frutos aqui das boas empresas da região. E Santa Catarina tem bons eventos, como a Empreende Brasil, o Startup Summit, tem a Acate, são várias coisas que acontecem aqui na região que propiciam esse ambiente empreendedor para que uma startup consiga prosperar, florescer e buscar investimentos.

Tem uma tendência de setores que estão mais precisando desse tipo de investimento?

– Todo setor tem problemas, o agro tem problemas, a saúde tem problemas. A gente não olha para isso. A gente olha qualquer tipo de problema que não seja governo. Que seja solucionado pelo setor privado.

Recentemente, o setor de tecnologia no mundo todo, até no Brasil, passou por uma grande crise. Ela já passou?

– Foi um freio de arrumação sensacional, foi uma crise importantíssima porque ela, de verdade, separou o jogo do trigo. Separou o investidor especulador do investidor de capital produtivo. As empresas que viviam só de dinheiro de fundos tiveram que viver com seu próprio recurso. Isso era comum com as empresas pequenas, que faziam mágica com menos.

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Os caras grandes faziam tudo com muito dinheiro de investimento, eles estavam gastando como se não houvesse amanhã. Então, quando veio a crise, o que aconteceu? Epa, temos que viver o nosso próprio recurso, temos que demitir, temos que organizar as empresas E isso, para mim, é muito importante, é saudável para o mercado. Inclusive o dinheiro especulativo foi embora.

Passada essa fase de crise, está sendo possível investir pelo valor real das empresas?

– Não pelo valor real, pelo valor futuro. Ainda continuamos investindo pelo valor futuro. Sempre foi com um pé no chão. Não é o real porque o futuro não é o real, é o presente, calculado corretamente o futuro. O que estava acontecendo era que não se estava calculando corretamente o futuro, estava se auferindo valores absurdos para essas empresas e dizendo que elas eram um unicórnio, sem elas serem.

Está sendo discutida a reforma tributária, e se fala em tributar diferente os serviços. Como é que você vê isso para o setor de tecnologia?

– Toda vez que mexe nessa questão tributária, serviços, isso, de fato, atrapalha as startups. A gente é um ativo, uma classe de ativo, descorrelacionado. A gente não está muito relacionado se cai bolsa, se sobe bolsa, se sobe Selic, de desce a Selic. Mas uma situação tributária que mexe no orçamento, no faturamento dessas companhias, dessas pequenas empresas, certamente, algumas vão sofrer mais outra menos.

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Mas, de verdade, eu queria dizer o seguinte: independente destas mudanças, a gente vai fazer de um limão, uma limonada, a gente vai sobreviver, porque a gente é essencial para o mercado. A gente é alternativa para o desenvolvimento econômico do país. Imagina quantas startups existem ajudando e resolvendo problemas?

A gente vai fazer uma adaptação se vier algo ruim. Mas, com certeza, nunca vem algo ruim se não vier algo de bom depois. Eu sempre procuro ver o copo meio cheio, e não meio vazio. Sou um cara muito otimista, realista, mas muito otimista com o que a gente pode fazer para ajudar o mercado e o desenvolvimento do país.

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