Entre projetos de ferrovias apresentados ao governo federal em função do novo programa ferroviário nacional, que prevê concessões por autorização, está o ramal entre Cascavel, no Paraná, e Chapecó, em Santa Catarina. Esse plano da Ferroeste, estatal do Paraná, acedeu sinal vermelho para lideranças catarinenses porque além de trazer grãos do Mato Grosso para agroindústrias do Oeste, visa levar contêineres da produção local para o Porto de Paranaguá. Isso pode acabar com o sonho da ferrovia Leste-Oeste de SC, prejudicando os portos locais. O secretário de Estado de Infraestrutura de Santa Catarina, Thiago Vieira, disse que o governo está atento, vai elaborar projetos e licitar ainda este ano.

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– Em qualquer situação em que haja prejuízo para o Estado de Santa Catarina nós vamos brigar até o final, como temos feito com o Aeroporto de Navegantes, que judicializamos. Não vamos admitir que algo que traga prejuízo para Santa Catarina possa prosperar – afirma Thiago Vieira.

O projeto foi citado pelo Secretário Nacional de Transportes Terrestres, Marcelo Costa, em entrevista para o SC Connection, da CBN Diário na semana passada (15/09) como algo positivo para a logística catarinense. Um objetivo é trazer grãos, mas também visa deslocar boa parte das exportações catarinenses para o porto paranaense, o que foi alertado ao secretário pela colunista da NSC, Dagmara Spautz. Em resposta, ele disse que SC teria boas rodovias.

O secretário de SC diz que o próprio Ministério da Infraestrutura entende, de forma equivocada, que Santa Catarina não tem viabilidade para ferrovias. Mas o governo estadual avalia que é possível ter uma malha ferroviária ligando o Oeste ao litoral e a outras regiões e vai fazer projetos para isso. Depois, buscará investidores para executar as obras, o que pode ser por parceria público-privada (PPPs).

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– Dividimos o plano ferroviário em vários ramais. Um de Chapecó ao Planalto, outro do Planalto até Imbituba, mais outro do Planalto até Itajaí e um de Itajaí até São Francisco do Sul. A gente pretende lançar os editais de licitação de forma gradativa a partir deste ano e vai ser elaborado o projeto a partir do ano que vem, para que tenhamos o avanço disso. A realização do projeto demora cerca de um ano. Enquanto isso, estaremos defendendo os interesses de Santa Catarina nesse processo – explica Thiago Vieira.

O plano da Ferroeste também preocupa a Federação das Indústrias do Estado (Fiesc), que há anos estuda e busca soluções para melhorar a logística do Estado. O gerente para Assuntos de Transporte, Logística e Sustentabilidade, economista Egídio Martorano, informa que a Fiesc está acompanhando e analisando eventuais impactos do projeto da Ferroeste. Vê com preocupação o plano de levar contêineres para o Porto de Paranaguá mas, inicialmente, está analisando as condições para a entrega de grãos em Chapecó, em especial a necessidade de um sistema de transbordo. Se não tiver isso, pode ser mais viável levar o milho até Paranaguá do que para o Oeste de SC, alertou ele.

Segundo Martorano, a Fiesc defende um sistema integrado de ferrovias para o Estado, que leve as cargas catarinenses para outras regiões do Brasil e para os portos e, também, que permita trazer cargas para o interior de SC de outras regiões e portos. A distribuição da proteína animal mostra a necessidade disso. Em 2018, do total de carnes produzidas em SC, por exemplo, 55% foi para o mercado externo e 45% ao mercado nacional. Para o economista, falta ao Estado um plano de logística integrada, o que o Paraná já tem.

– A ferrovia litorânea e a Leste-Oeste são uma coisa só. Precisamos fazer e conectar à malha nacional até Iperó e Sumaré em São Paulo. Assim, poderíamos suprir o mercado nacional e, ao mesmo tempo, permitir a entrada de insumos e produtos ao Estado por ferrovias e portos. Deveríamos atender por ferrovia o Sudeste do Brasil, que é um dos maiores mercados do mundo – afirma Martorano.

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Ministro promete modelo logístico adequado às cargas de SC

O que se espera é que os parlamentares catarinenses também se mobilizem em defesa de um sistema ferroviário competitivo para o Estado, sem perda de cargas para outras regiões. O senador Dário Berger, presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, avalia que o novo projeto para o setor ferroviário, com concessões por autorização, vai permitir acelerar investimentos ao setor no Brasil.

– Facilitar o investimento nas ferrovias brasileiras é uma prioridade para a competitividade do nosso país. Há décadas, o país tomou a iniciativa de investir praticamente só no modal rodoviário, que além de ser mais suscetível à roubos e perdas, é mais caro por conta dos combustíveis, pedágios e más condições das rodovias – afirmou o senador.

A linha entre Cascavel e Chapecó terá 286 quilômetros e está orçada em R$ 6 bilhões. A Ferroeste anunciou mais três projetos, entre os quais um para trazer milho do Mato Grosso e outro para a ligação até Paranaguá. O custo para fazer um quilômetro de ferrovia é cinco vezes o de um quilômetro de rodovia. As obras não são decididas de uma hora para outra. Então, o que se espera é que Santa Catarina consiga finalizar o projeto da linha Leste-Oeste e fazer em tempo para não perder cargas e poder contar com logística barata para chegar aos principais mercados.