O crescimento da demanda por sistemas de geração solar no Brasil motivou a Renovigi, de Chapecó, abrir unidade de montagem de kits no Nordeste atenta aos altos preços de energia e ao sol mais forte por lá. As outras duas unidades de montagem de kits de usinas solares estão em Itajaí, Santa Catarina, e Louveira, São Paulo. 

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Em entrevista para a coluna, o CEO da empresa, Gustavo Müller Martins, e o diretor Comercial, de Marketing e Novos Negócios, Antonio Carlos Federico, falam sobre a evolução do negócio, vantagens nessa alternativa de energia sustentável e sobre o plano da empresa de atrair um fundo para a sociedade e, depois, abrir capital na bolsa. O faturamento chegou a R$ 750 milhões em 2020, com crescimento de 53%. A projeção é de crescimento de 60% este ano, para R$ 1,2 bilhão. Saiba mais na entrevista em tópicos, a seguir:

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Grupo de fundadores

Gustavo Müller – A Renovigi é uma empresa relativamente nova. Foi fundada em Chapecó por um grupo de sócios em 2012, todos empresários de diversos setores industriais. Eu sou um desses sócios. Todos nós participávamos como voluntários de uma fundação científica e tecnológica voltada a energias renováveis. Procuramos abrir um negócio na área e surgiu a Renovigi. 

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Começou pequena porque não existia o mercado solar. Iniciamos atividades em 2014 e, a partir de 2015 e 2016 foi bastante rápido o crescimento. Isso porque a Aneel aprovou lei que permite conectar a geração solar distribuída na rede de energia. Aí o mercado explodiu e nós estávamos preparados, por isso estamos podendo surfar nessa onda. A empresa cresceu para patamares de faturamento bastante rápidos e no ano passado chegamos a R$ 750 milhões.

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Presença nacional

Gustavo Müller – Nossa matriz é em Chapecó e abrimos a primeira filial em Campinas, São Paulo. Depois, montamos uma unidade de montagem em Itajaí porque a grande parte da nossa mercadoria chega por navio. Mais tarde, abrimos montagem em Louveira (SP). Agora, a gente vive numa expansão nacional, por isso a nova unidade no nordeste. Hoje, é um mercado que representa mais de 20% do nosso faturamento. Por isso queremos estar próximos, reduzir custo de logística.

Esse projeto estava definido há mais de um ano, mas em função da pandemia, alguns problemas de fornecimento de matéria-prima, a gente postergou e estamos trabalhando para concretizá-lo no segundo semestre. Ainda não temos informação do valor do investimento porque estamos em processo de escolha da localização, se vai ser em Pernambuco ou Ceará. 

Esperamos obter cerca de 30% do nosso faturamento Nordeste e Norte do Brasil, o que hoje representaria R$ 225 milhões do total. Temos parceiros para instalação das unidades solares. Na Região Nordeste, são cerca de 1,5 mil empresas credenciadas.

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Somos uma plataforma

Antonio Carlos Federico – O Nordeste é estratégico para nós porque tem custo de energia mais alto e bastante sol. As placas solares vêm do exterior e receberemos num porto nordestino. As que vão para São Paulo entram pelo Porto de Santos. Então, esse modelo de negócio da Renovigi é bastante interessante. Com a unidade no Nordeste, vamos criar alguns empregos diretos, mas a maioria indiretos porque as pessoas vão trabalhar para a nossa rede credenciada. 

A gente tem uma plataforma de negócios e relacionamento com nossa rede de credenciados, que são mais de 9 mil no Brasil. Eles fazem as vendas e as instalações. A gente terceiriza isso. Nessa plataforma, temos uma série de recursos para que esse credenciado faça a gestão do negócio, cresça. Oferecemos uma série de vídeos que chamamos de Renoplay, com dicas sobre marketing, vendas, produtos e monitoramento de instalações. O credenciado consegue ver a performance da instalação que fez. Nós geramos informação para ele.

Elaboração do projeto

Federico – Quando é feito o projeto para o cliente é estimada a geração e o uso da energia. Se for para a residência e a casa de praia, é feito o projeto com um pouco de folga. Durante o inverno, o sistema gera menos energia. Um sistema digital controla a geração e o consumo. Todo mês é realizado um crédito e um débito. Se sobrar crédito, fica para usar no futuro, dentro de um ano. As famílias estão mais motivadas em investir porque hoje o retorno do investimento (pay back) é obtido em três ou quatro anos. 

Antes, era mais caro e o retorno era em cerca de oito anos. Além disso, nos últimos anos, caiu muito o preço dos equipamentos. Na maioria dos projetos, a economia na conta de luz é de 90%. Se o gasto era de R$ 500 por mês, passa para R$ 50 ou R$ 60. Aí, com a diferença, a família paga o financiamento do equipamento. Pagar à vista também é interessante. Além disso, há a vantagem de ser energia sustentável.

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Energia limpa

Federico – O sistema de geração solar tem um grande apelo sustentável. É 100% sustentável. Além de estar mais fácil de comprar porque os preços caíram, está vindo uma geração aí de pessoas muito mais atentas à sustentabilidade. Para que poluir o meio ambiente se o sol está aí? É difícil você encontrar rejeição à geração solar. É um movimento sem volta. Se você olhar a Europa, Estados unidos, estão todos mais à frente do que o Brasil. Se você vai para a Alemanha, por exemplo, todas as casas têm painéis solares. Então é um caminho sem volta para o nosso país.

Para carro elétrico

Federico – Lá fora é uma tendência. O segmento de carros elétricos está crescendo muito e o pessoal está integrando com solar. Aqui no Brasil vai acontecer, mas ainda vai demorar. Isso porque para comprar energia para abastecer carro, você só pode fazer por uma concessionária. Não dá para fazer um posto com geração solar. 

Uma rede de eletropostos só pode ser abastecida por uma concessionária. Entre os obstáculos para o avanço do carro elétrico no Brasil estão a alta carga tributária e falta de eletropostos. A Renovigi tem um sistema chamado off-grid, por baterias. Não precisa estar conectado na rede da concessionária. É um produto mais para regiões distantes e agronegócio, que não têm rede de energia. 

É um sistema composto por painel solar, um equipamento que pega a energia dos painéis e transforma em energia elétrica e baterias. Aí é possível armazenar energia e criar um sistema próprio. Nesse caso, o próprio veículo elétrico, através de um gerenciamento inteligente, pode tanto ser abastecido pela residência, quanto abastecer a residência. É possível otimizar o custo da energia elétrica. Já existe tecnologia para isso. Para nós, esse é um mercado futuro de energia.

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Antonio Federico, diretor Comercial da Renovigi, com o CEO Gustavo Müller (Foto, Divulgação) (Foto: Antonio Federico, diretor Comercial da Renovigi, com o CEO Gustavo Müller)

Fundo como sócio e IPO

Müller – A gente está num processo de “Due diligence”. Nós assinamos um memorando de intenções com um fundo de investimentos, um private equity. Eles devem ser majoritários na empresa, mas não vão comprar 100%. Será de no máximo 80% do capital. A gente começou isso no ano passado, com atenção à governança corporativa. 

O Federico é um dos executivos que vieram para essa fase. Eu sou diretor geral (CEO), mas quando entrar o fundo a gente via colocar uma pessoa para essa função. Somos uma SA. E a tendência, com a entrada do fundo, é acelerar o crescimento e, futuramente, o plano é abrir capital na bolsa, fazer um IPO (Oferta Inicial de Ações na sigla em inglês). Trabalhamos para ir à bolsa num prazo de três a cinco anos, mas pode ser antes.

Atuação no exterior

Müller – A gente está estudando replicar o modelo da Renovigi ou adaptar esse modelo para alguns países da América Latina. Olhamos alguns países que estão num momento um pouco atrás do Brasil na geração solar e alguns que estão no mesmo nível. A gente fez até feiras na Colômbia. Deve ser o primeiro país onde atuaremos. Mas este ano vamos concentrar atenção para a nova operação no Nordeste que, para nós, é distante. No ano de 2022 devemos ir para o exterior.

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Atuação social

Müller – A preocupação com o social está no DNA da Renovigi porque ela nasceu dentro de uma fundação. Todos os sócios da empresa, quando estavam na fundação, não viam a mesma como um negócio, mas como união de esforços. Quando a gente fundou a Renovigi e o negócio começou a dar certo, decidimos retribuir uma parte para a sociedade. Então, a gente tem vários planos dentro da empresa para doações de sistemas a entidades que necessitam reduzir conta de luz. Entre essas entidades estão APAEs e hospitais. 

Agora, olhamos também casas de pessoas idosas que foram afetadas pela pandemia. Fazemos um número de doações por ano. Colaboradores da empresa e credenciados fazem indicações e há um processo de avaliação. Além disso, as próprias equipes da Renovigi participam de campanhas nas comunidades onde estão inseridas, como campanhas de agasalho, ajuda a pessoas carentes. Também fazemos doações de Imposto de Renda por meio dos fundos previstos em lei. Isso é uma herança dos fundadores da empresa e vamos preservar isso com a entrada do fundo.