Entre os fatos novos durante a pandemia na área de finanças pessoais estão o crescimento da média de poupança, corrida ao mercado de ações e de imóveis. O início do efeito positivo das vacinas apresenta novo cenário para investimentos financeiros. O especialista na área e CEO da EQI Investimentos, Juliano Custódio, informa que entre as opções atrativas oferecidas pelo mercado, hoje, estão fundos imobiliários, terrenos, ações de empresas de commodities e das que vão se valorizar após a pandemia. A sequência de altas da taxa Selic, que poderá chegar a 6% este ano, também torna a renda fixa mais atrativa. Confira a entrevista.

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Passada a pior fase da pandemia com o avanço das vacinas, o que muda nas finanças pessoais?

As pessoas têm um pouco de dificuldade para entender porque as bolsas estão subindo apesar de a economia real estar com dificuldades. E as bolsas estão subindo há muito tempo. É que o mercado antecipa o que vai acontecer na economia. As bolsas estão subindo porque as empresas voltaram a faturar quase que normal e há uma expectativa do retorno desse faturamento. Por isso as ações começaram a subir há muito tempo. 

Só não começaram a subir as ações de negócios que realmente estão sofrendo com a pandemia. Entre os exemplos estão os setores de viagens, de shopping centers. A gente acredita que essas empresas vão se beneficiar bastante dessa reabertura do mercado. Já vemos isso nos Estados Unidos e em Israel. A expectativa é de que no Brasil, mais três ou quatro meses e a gente consiga estar nessa mesma situação, caso a imunização da maioria da população aconteça nesse período. 

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Para quem gosta de risco pode ser interessante investir nos setores de viagens, restaurantes, alimentação. Não estou falando só em bolsa de valores, mas pode ser investimento local. Se existem restaurantes bons na sua vizinhança que podem estar precisando de ajuda financeira, talvez seja a hora de você virar sócio desse negócio. No caso da bolsa, entre as ações ndsses setores que podem iniciar fase de alta estão as da CVC, Iguatemi e BRMalls.

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Como a retomada do crescimento em algumas grandes economias do exterior pode impactar no mercado brasileiro de ações e outros investimentos?

A pandemia fez com que alguns países anunciassem investimentos maciços em infraestrutura. Isso beneficia empresas nossas como a Vale, Tupy, WEG e outras que fornecem para os setores de infraestrutura. Teremos um boom de commodities, o que é muito bom para a economia brasileira. Isso gera uma expectativa, também, de queda do dólar. As exportações crescem, entra mais dólar no país e a cotação da moeda cai. Isso em condições normais de temperatura e pressão. 

Mas, temos sempre volatilidade política no Brasil. Então, se não acontecer nada estranho na política do país, devemos ter um dólar mais fraco. Por outro lado, esse dinheiro todo que foi colocado no mundo gera inflação de ativos. Infelizmente, uma crise como a da pandemia fez os ricos ficarem mais ricos e os pobres, mais pobres. Aumentou a desigualdade social. E o rico não consome muito mais. O dinheiro que ele ganhou a mais vai para ativos reais, imóveis, ouro e outros bens e, esses ativos reais inflacionam. No Brasil, a gente não acredita que os bens de consumo ficarão caros. A inflação oficial deve ficar em torno de 4,5%, mas os ativos reais devem ter uma inflação maior.

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Este também é um bom momento para investir em imóveis?

Sim. O momento é muito bom para quem aceita um pouquinho de risco e pode até se alavancar (fazer financiamento) para aquisição de imóvel. Hoje é possível comprar um imóvel com juro de 7% ao ano e a gente acha que os imóveis vão valorizar mais do que 7%. Então, o juro está sendo pago pela valorização do imóvel. Mas nem todo imóvel é possível comprar com financiamento. Imóvel pronto é mais difícil. Eu tenho indicado, quando possível, comprar terrenos que são escassos, finitos. Um exemplo, é terreno de frente para o mar. É uma teoria como a do ouro ou de criptoativos, que são bens com finitude.

Durante a pandemia, que investimento as pessoas fizeram que poderiam ter sido substituídos por outros melhores?

A caderneta de poupança bateu recorde. Nunca tivemos, no Brasil, tanto dinheiro em poupança. O auxílio emergencial ajudou e as pessoas passaram a consumir menos, principalmente serviços, porque se alimentaram mais em casa. Quem se manteve empregado poupou na crise, até por medo de perder o emprego. A gente nunca teve tanta poupança no Brasil, só que as pessoas guardaram dinheiro no lugar errado, na caderneta de poupança. 

As pessoas estão perdendo dinheiro na poupança porque a inflação está alta. Tivemos um IGP-M alto. Normalmente, quando esse índice, que representa o custo para a indústria, é alto, temos também uma inflação alta. Quem tem dinheiro na poupança está perdendo de 2% a 3% ao ano. Virou a perda fixa. As pessoas precisam optar por investimentos que são IPCA+ ou IGP-M+, que pagam a inflação e oferecem mais um retorno.

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Que investimentos permitem retorno igual ou superior à inflação?

A gente tem certificados de recebíveis imobiliários (CRI), certificados de recebíveis do agronegócio (CRA), debêntures e, também, Letras de Crédito Imobiliário(LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio(LCA) que pagam o IGP-M+ e o IPCA+. Essas alternativas pagam variação superior a esses índices de inflação. No caso do IGP-M+ temos menos opções, mas para IPCA+ tem bastante. 

Apesar de o IGP-M ter ultrapassado alta de 30% em 12 meses, vários fundos imobiliários pagam mais do que isso. Fundos de ações também. Nós fizemos a aquisição, agora, do fundo imobiliário da gestora NCH. Esse fundo deles tem carteira de recebíveis de loteamentos. Normalmente, as loteadoras cobram de juros o IGP-M mais um ou mais 0,7%. Esse fundo financia loteadoras. Esse fundo está dando 1% ao mês de retorno.

A taxa básica de juros, Selic, está subindo e pode chegar ao final do ano em cerca de 5%. Como fica o cenário para as aplicações de renda fixa?

Vai melhorar. Esse é mais um motivo para as pessoas saírem da caderneta de poupança. Pelo menos elas compram uma LCI ou LCA, mesmo um CDB que rende 95% a 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). O CDI deve subir. A turma da nossa haste acredita que a Selic vai subir para 5,5% ou 6% ao ano até dezembro. 

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Vai ter um choquezinho de aumento de juros. Os juros futuros estão subindo. Os bancos estão emprestando por variação maior que o CDI. As pessoas têm que comprar investimentos pós-fixados melhores. Se a pessoa for mais arrojada, já consegue comprar um CRI, uma CRA, pagando CDI mais 2%, o que é muito bom. Na poupança vai ganhar 60% do CDI, aí vai ganhar 3,5% a 4% na poupança. Com CRI, vai para 8%. Com investimento mais sofisticado, o resultado é bem melhor.

Investir em ouro vale a pena?

É reserva de emergência, reserva de valor. E dada toda aquela situação de que os ativos vão se valorizar nos próximos anos, a grande reserva de valor no mundo, principalmente para quem quer guardar dinheiro, manter valor, é o ouro. Quando o juro futuro dos EUA parar de subir, o ouro começará a se valorizar.

Tivemos um ‘boom’ de crescimento no número de investidores na bolsa do Brasil. É melhor buscar ajuda profissional ou fazer a própria carteira?

Foi muito bom que nessa crise as pessoas se interessaram mais em investir em ações. Mas a parte ruim é que as pessoas, com muito pouca experiência, estão fazendo isso sozinhas. Como a bolsa só subiu nos últimos meses, todo mundo está dizendo: é muito fácil investir em ações, eu ganhei muito dinheiro, sei investir. Mas quem está no mercado há mais tempo, já passou por duas ou três crises, sabe que não é bem assim. 

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Normalmente, depois da euforia vem uma correção forte nos preços. Isso deve vir nos próximos seis meses ou um ano. A bolsa corrige, às vezes, 30% ou mais só para depois ganhar mais. E essa correção vai vir e vai pegar muita gente alavancada, muita gente assustada. Eu sugiro que as pessoas procurem profissionais para ajudá-las e que comprem fundo de ações, fundos macro, fundos multimercado. Aí terão profissionais com 20 a 30 anos de experiência cuidando do seu investimento. 

Não é um serviço fácil. Quando a maré sobe, todos os barcos sobem junto, mas quando a maré baixa forte, a gente descobre quem está despreparado. Um aviso para as pessoas: não se alavanquem, não coloque mais dinheiro do que estão preparados, saibam que quedas de 20% a 30% são normais no mercado de ações.

Quanto investir em renda variável?

Aquela pessoa que nunca investiu em renda variável, deve colocar até 5% ou 10%. A minha preocupação é para que as pessoas não se assustem. Não deixem de participar do mercado. Eu mantenho sempre 40% do meu capital em ações. Quando a bolsa sobe e fica representando 50% do meu capital, eu vendo ações para voltar aos 40%. 

O contrário também vale. Quando a bolsa cai forte, as ações caem para 30% do meu patrimônio. Eu pego um pedaço da renda fixa e compro mais ações, até chegar a 40%. Eu sempre deixo o meu patrimônio em 40% em ações. É possível fazer um rebalanceamento a cada três meses.

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Um investimento importante, que fez falta para muitas famílias na pandemia, foi em reserva de emergência. Quanto deve ser, na sua opinião?

Eu recomendo no mínimo três meses, mas é bom ter uma reserva que cubra seis meses de custos da família. Se você tem para seis meses, acaba aguentando 12 meses porque aperta de um lado e de outro.

Que investimentos são acessíveis para quem tem pouco dinheiro?

Se as pessoas puderem investir em ativos reais, elas vão se dar bem. Eu falei em imóveis. Mas nem todo mundo tem dinheiro para comprar imóveis, mas as pessoas podem comprar fundos imobiliários. Hoje, com R$ 100 pode comprar uma cotinha de fundo imobiliário. Pode comprar um pedacinho de um galpão logístico, um pedacinho de um shopping, um pedacinho de uma laje comercial, um pedacinho de loteamento. Tem fundos diversificados e outros só de uma coisa. Uma opção é comprar cota de um FOF, fundo que reúne carteira de diferentes fundos imobiliários. A liquidez é imediata.

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