Pais e professores ficam preocupados quando se deparam com crianças na fase de alfabetização que têm dificuldades para aprender a ler e escrever. Mas esses pequenos podem ser apenas portadores de um transtorno genético chamado “dislexia”. O mundo econômico mostra que eles têm mais chances de criar negócios de sucesso e fazer fortunas quando recebem a educação adequada ou aprendem sozinhos. Mas quando isso não ocorre, têm mais riscos de cair na marginalidade.

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A lista de bilionários ou milionários disléxicos é grande: nela estão, por exemplo, Steve Jobs, fundador da Appe; Henry Ford, da montadora Ford; Richard Branson, do Grupo Virgin; e Luciano Hang, fundador da Havan. Pesquisas apontam que 10% da população é disléxica, mas entre os milionários 40% têm o transtorno.

Um dos projetos vencedores do Prêmio Mulher ArcelorMittal Santa Catarina, entregue semana passada (dia 22) em Joinville, foi o do Instituto Domlexia”, na categoria Terceiro Setor. A iniciativa da engenheira Nadine Heisler, de Florianópolis, visa colaborar na educação, empregabilidade e valorização das pessoas com neurodiversidade, o que inclui dislexia, discalculia, disgrafia, autismo e TDAH.

Nadine Heisler, do Instituto Domlexia venceu o Prêmio Mulher ArcelorMittal categoria Terceiro Setor, entregue na última semana em Joinville (Foto: Reprodução)

– Nós fundamos o Instituto no ano passado (2023) para atuar como ONG. Atuamos na formação de professores da rede pública e também levamos a eles instrumentos e ferramentas para que possam ensinar os estudantes de forma mais adequada – afirma Nadine Heisler, coordenadora-geral da instituição.  

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Segundo ela, diversas pesquisas mostram que essas pessoas são inteligentes e têm muitos potenciais, especialmente para desenvolver empresas. Ela cita pesquisa feita no Reino Unido pela BBBC2, há 20 anos, que ouviu 69 mil milionários que fundaram seus negócios. Desse total, 40% mostraram ser disléxicos, quatro vezes a média nacional de pessoas com o transtorno.

Mas quando essas crianças não recebem a educação adequada e sofrem bullying na escola, abandonam os estudos e correm mais riscos de cair na criminalidade. Nadine Heisler destaca que uma recente pesquisa feita em penitenciária no Texas, EUA, apurou que 48% dos detentos eram disléxicos. O mínimo que se encontrou em prisões foi 30% com dislexia.

Instituto orienta os professores

O Instituto Domlexia é mantido com doações e também com palestras que a equipe faz em empresas para esclarecer sobre neurodiversidade. Com isso, obtém recursos para fazer o trabalho de informação junto às escolas públicas.

– Os professores se interessam muito sobre dislexia e outros transtornos, mas eles não sabem como fazer as adequações para ensinar. Essa é uma falha que vem da própria formação dos professores porque os cursos de pedagogia não têm disciplinas para essa área de transtornos de aprendizagem – observa a coordenadora do instituto.

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Segundo ela, a instituição orienta os professores sobre o que é dislexia, como identificar os alunos que podem ter esse transtorno e quais são as formas de apresentação de conteúdo para esses alunos aprenderem. Nadine Heisler observa que não existe uma receita pronta para ensinar, é preciso ir adequando.

– O professor precisa avaliar que, se o aluno não está aprendendo na sala de aula, ele precisa entender qual é a portinha que pode abrir para ajudar essa criança. Isso é com conversa, com afeto. Primeiro tem que entender o aluno para saber qual é o estímulo adequado a ser dado. Muitas vezes, se quer uma receita de bolo, mas tudo passa muito por criar rotina de leitura, entender os temas que o estudante gosta. E mais importante: encontrar e valorizar os pontos fortes de cada um. É provado cientificamente que quando a criança e o adolescente percebem que têm pontos fortes, eles melhoram as notas no dia seguinte – ressalta Nadine Heisler.

O problema das crianças com dislexia é que elas têm uma sequência de fracassos escolares, muita repetição. Aí ele começa a achar que não tem capacidade para aprender, quando, na verdade, tem, observa a coordenadora. Os alunos aprendem de forma diferente, necessitam de muita instrução fônica, de imagens e de muita rotina de leitura.

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