Em palestra na reunião da diretoria da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), nesta sexta-feira, o presidente da multinacional portuguesa EDP, João Marques da Cruz, voltou a defender a privatização da Celesc, companhia de energia do Estado, da qual a empresa que lidera é a maior acionista considerando capital total. Segundo ele, a Celesc vem recebendo investimentos aquém do necessário e, se a EDP assumisse, teria condições de superar essa defasagem, como faz nas concessionárias que controla no Espírito Santo e em São Paulo.
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– Nós somos acionistas minoritários. Não controlamos a Celesc. Gostaríamos de controlar. Por isso eu diria que está mais nas mãos dos senhores do que na minha a melhoria da qualidade dos serviços de energia no Estado de Santa Catarina. Em qualquer parte do mundo, privatização é solução. Não faz sentido o Estado ter empresa de eletricidade – afirmou Cruz.
Esta é a segunda vez que o executivo defende abertamente a privatização da Celesc em SC. Fez isso também dia 11 de junho, quando visitou subestação no Sul do Estado, feita por consórcio integrado pela EDP. Para Cruz, a privatização proporcionaria uma melhora expressiva na qualidade dos serviços da Celesc. Ao falar para industriais de SC, ele fez até uma comparação com a situação do Aeroporto Internacional de Florianópolis.
– Minha filha estudou engenharia há 13 anos em Florianópolis. Vim muitas vezes para a cidade. Me recordo do velho aeroporto, provavelmente um dos piores aeroportos de capitais do Brasil. Agora, provavelmente, Florianópolis tem um dos melhores aeroportos de capitais do país. Com a Celesc pode acontecer o mesmo – afirmou.
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Nos últimos anos, a EDP adquiriu ações da Celesc, inclusive a participação da Previ. Com isso, detém hoje 29,29% do campital total da empresa, enquanto o governo do Estado tem 20,20%. Mas como é o governo o detentor de pouco mais de 50% das ações ordinárias, com direito a voto, ele acaba controlando as principais decisões da companhia.
Segundo ele, Santa Catarina é um dos estados que estão no topo do Brasil, mas quando se olha para o fornecimento de eletricidade, vê-se uma empresa subcapitalizada, que não tem capacidade de fazer os investimentos que são necessários para manter a qualidade dos serviços.
A EDP atua há 25 anos no Brasil. Tem oito lotes de transmissão, é sócia de seis hidrelétricas e é a terceira maior empresa de comercialização de energia do país. Segundo Cruz, os investimentos previstos para as concessionárias do Espírito Santo e São Paulo até 2025 estão sendo o dobro do montante dos últimos cinco anos. A EDP é empresa listada na B3, a bolsa de valores do Brasil. Entre as de energia, é a que mais tem acionistas pessoas físicas.
Tema polêmico
A privatização de estatais de Santa Catarina poderia avançar considerando a realidade do mercado brasileiro, mas, no Estado, é um tabu falar na venda da Celesc e da Casan. Em época de campanha, os políticos temem perder votos e, depois, se preocupam com eventuais greves. Contudo, a campanha para governador do ano que vem será uma nova oportunidade para abordar o assunto abertamente.
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Com a vitória de Carlos Moisés em 2018, na onda de Jair Bolsonaro, que prometeu privatizações, a expectativa era de que projetos com esse objetivo para a Celesc e Casan fossem encaminhados em SC, mas não foi o que ocorreu. Quanto à qualidade dos serviços, a maior capacidade de investimentos do setor privado deve fazer diferença para melhor.