Imagine três engenheiras graduadas na mesma universidade, com conhecimentos semelhantes: uma negra, uma de cor parda e uma branca. Se as três passarem por uma seleção de emprego em empresas brasileiras, hoje, a branca será contratada primeiro e com um salário, em média, 56,6% maior que a negra somente pela cor da pele. Pesquisa feita pela RD Station, empresa de tecnologia de Florianópolis, em parceria com o Movimento Black Money e Inventivos sobre Afroempreendedorismo no Brasil apurou que a maioria abre negócio por necessidade, mesmo com elevada qualificação. Isso significa que é preciso algo mais para acelerar a inclusão plena de negros e pardos na economia.
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Afroempreendedorismo acontece mais por necessidade e enfrenta falta de crédito
As organizações que fizeram o levantamento destacam na apresentação que, no Brasil, 56% da população se identifica como negra ou parda e esse público movimenta por ano R$ 1,73 trilhão. Realizada entre 12 e 21 de maio, a pesquisa destaca que 40% dos adultos negros são empreendedores e desse grupo, 61% são mulheres. Essas pessoas empreendem para obter uma renda melhor porque no mercado de trabalho enfrentam discriminação racial. A sondagem apurou que o afroempreendedorismo é principalmente feminino, solitário e está mais ligado aos setores de serviços.
De acordo com a pesquisa, 61,9% dos empreendedores negros têm ensino superior, mas apenas 15,8% recebem remuneração familiar superior a seis salários mínimos. Conforme o índice Folha de Equilíbrio Racial, entre os negros de 30 anos ou mais, a proporção de pessoas com diploma universitário se aproximou da representação populacional deles em 23 estados.
Para Talita Matos, mulher negra graduada em Ciências Sociais pela UFSC e mestre em Educação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, ex-CEO do Impact Hub Floripa, a informação mais preocupante da pesquisa é essa dificuldade de ter a mesma renda quando se tem a mesma qualificação.
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– Muitas famílias negras se esforçaram para dar educação aos filhos para poderem ingressar no mercado de trabalho. Mas quando você olha que a gente teve um crescimento expressivo de escolaridade nos últimos anos, mas não teve, proporcionalmente, um aumento de renda, aí dá vontade de chorar – lamenta ela.
Na avaliação de Talita Matos, o caminho para reduzir essas desigualdades mais rapidamente é a adoção de ações mais diretas e concretas, como algumas empresas estão fazendo, de contratar um percentual de executivos negros. Uma das liderança nessa causa, ela está abrindo uma empresa de consultoria, a Singuê, especializada em projetos empresariais voltados à inclusão.
A pesquisa, que aborda também outros aspectos, reafirma a série de problemas causados pelo racismo estrutural. O enfrentamento desse problema com inclusão e remuneração mais justa permitirá a redução da pobreza e maior desenvolvimento econômico e social nos diversos polos urbanos do Brasil.