Empresa de tecnologia especializada em cupons de descontos, o Peixe Urbano, que tem sede em Florianópolis, mergulhou em crise profunda com a pandemia. O site da companhia foi tirado do ar há duas semanas e traz na capa a expressão “Glub! Glub!”, que em russo significa “fundo profundo”. Informa também que os serviços estão indisponíveis por problema técnico e que “em breve estaremos de volta”. Milhares de clientes não estão conseguindo usufruir de descontos e fornecedores enfrentam atrasos desde o início da pandemia. O mercado tem dúvidas se as atividades serão retomadas.
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No meio empresarial de Florianópolis, as informações são de que cerca de 80% a equipe foi demitida – em 2018 eram cerca de 450 pessoas – e para quem continua, os salários estão atrasados há dois meses. A coluna Capital, do O Globo, informou que a Peixe Urbano busca um comprador. Há quem acredita que a marca perdeu muito valor de mercado nessa crise, e há, também, quem acha que ela segue forte e pode continuar.
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SC), Raphael Dabdab, afirma que muitas empresas do setor reclamam o atraso de valores que deveriam ter sido pagos a partir de março do ano passado. Um exemplo é o Freguesia Oyster Bar, em Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis.
A empresária Carla Costa informa que ainda não recebeu os percentuais relativos às vendas de janeiro, fevereiro e março de 2020. Eles venderam os tickets até março e o Freguesia teve que atender os clientes com os descontos, sem receber o percentual a que tinha direito. Depois, com essa dificuldade de pagamento, a empresa adotou o modelo de venda “split”, em que os pagamentos não passam pela empresa para não serem bloqueados.
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– No meio de fevereiro do ano passado começamos a cobrar a dívida via portal. Eles começaram a informar que estavam atualizando a plataforma para fazer algumas mudanças – conta a empresária, que fez cópias das páginas porque imaginou que tirariam o site do ar.
A coluna ligou para diversos números da empresa, mas não conseguiu falar com alguém. Enfrentou o mesmo problema dos clientes e parceiros, que não estão conseguindo falar com a empresa.
A prefeitura de Florianópolis, que recebeu a Peixe Urbano com grande entusiasmo quando ele mudou a matriz do Rio de Janeiro para a cidade no começo de 2017, informou que pouco sabe sobre a crise da empresa. O secretário municipal da Fazenda, Constâncio Maciel, disse que não pode fornecer dados fiscais porque são sigilosos. Mas explicou que, em média, empresas ligadas diretamente ao turismo, gastronomia e outras, como é o caso do Peixe Urbano, foram as que mais sofreram e seguem afetadas pelas restrições de contato social. Muitas estão emitindo somente 20% do total de notas fiscais na comparação com meses antes da doença chegar, embora o faturamento, em parte dos casos, possa ser um pouco maior.
Empresários do setor de tecnologia de Florianópolis disseram que o silêncio do Peixe Urbano, ou seja, a pouca interação com o setor, chamava a atenção, gerando inclusive conclusões de que a empresa não estaria bem. Há, também, quem avalia que o modelo de negócio, o cupom de desconto, estaria esgotado. Muitas empresas concluíram que se oferecessem suas promoções diretamente teriam melhores resultados.
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O Peixe Urbano fui fundado em 2009 no Rio de Janeiro pelos sócios Julio Vasconcelos, Alex Tabor e Emerson Andrade. Se firmou como a maior empresa de e-commerce de descontos do país. Em 2014, ganhou um sócio de pelo, a empresa chinesa de tecnologia Baidu. Em 2017, o trio incluiu como sócio o fundo Mountain Nazca, da América Latina.